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Tensão nos Três Poderes

Oposição enfrenta obstrução do governo na CCJ e pacote para frear STF acaba adiado

CCJC
Presidente da comissão, Caroline de Toni, pautou os projetos em meio à crise das emendas parlamentares. (Foto: Vinícius Loures/Câmara dos Deputados)

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Deputados da oposição enfrentaram um movimento de obstrução de governistas na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) da Câmara dos Deputados contra a análise de um pacote de propostas que tenta frear os poderes do Supremo Tribunal Federal (STF). A tramitação começou nesta terça-feira (27) com uma pauta de quatro itens. O principal deles era Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 8/2021, que proíbe as decisões monocráticas, aquelas tomadas por um só ministro do Supremo sem a análise do colegiado. Essa PEC e as outras três matérias da pauta tiveram as análises adiadas após pedidos de vista de deputados de esquerda.

Essa proposta foi desengavetada pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), junto com a PEC 28/2024, que permite que o Congresso suste decisões do STF, no último dia 16, depois que o plenário do STF chancelou a decisão do ministro Flávio Dino de suspender as emendas impositivas.

Também estavam na pauta da CCJ o Projeto de Lei (PL) 4754/2016, que torna a usurpação de competência um crime passível de impeachment dos ministros do STF e o PL 658/2022, que proíbe os ministros de divulgar opinião sobre processos pendentes de julgamento.

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Deputados do chamado núcleo progressista, formado pelo PT e por outros partidos progressistas, como o PCdoB e PSOL, fecharam questão para obstruir a pauta. Integrantes dessas bancadas de esquerda já manifestaram que são contra as propostas.

A análise desse pacote na Comissão de Constituição e Justiça é o capítulo mais recente do embate entre o Legislativo e o Judiciário, gerado pela suspensão das emendas parlamentares neste mês pelo STF. Essas emendas são usadas por deputados e senadores para investir recursos do Orçamento em seus redutos eleitorais.

Nos bastidores, interlocutores da oposição já sinalizavam que os governistas deveriam “tomar as dores” dos ministros e obstruir a votação do pacote como uma forma de retribuir o "favor" do STF de suspender as emendas.

O governo afirmou que não teve qualquer participação na decisão do Supremo. Contudo, oposicionistas dizem desconfiar que Executivo e Judiciário coordenaram as ações. Isso porque a suspensão das emendas devolve o controle de parte do Orçamento para o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Ao todo, as emendas parlamentares totalizam R$ 49 bilhões, um quarto do Orçamento da União. O montante à disposição do Legislativo vinha crescendo ao menos desde 2015.

Representantes dos Três Poderes fizeram um acordo na semana passada para aumentar a transparência das emendas parlamentares. Na prática, as medidas tendem a diminuir o fluxo de emendas e favorecer projetos do Executivo, como o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), para onde o governo quer que as verbas do Orçamento sejam canalizadas.

O acordo firmado com a intermediação do STF na semana passada diminuiu a intensidade da retaliação de Lira. Seus aliados dizem que, se as propostas passarem na CCJ, o presidente da Câmara deve favorecer somente a continuidade da tramitação da PEC das decisões monocráticas. Mas como o acordo não evoluiu nos últimos dias, o clima de embate não foi desfeito e esse cenário pode mudar.

Analistas e interlocutores avaliam que a tendência é que as outras três propostas não avancem. "A expectativa é que apenas uma das PECs a [das decisões monocráticas] tenha avanço. De toda forma também é importante observar como vai ser construído esse texto e esse acordo em torno das emendas, porque consequentemente ele também vai influenciar a forma e a celeridade com que essa PEC vai tramitar dentro do Congresso", disse a especialista em legislativo da BMJ Consultores Associados, Letícia Mendes.

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Base do governo pode trocar membros favoráveis ao pacote do STF 

Deputados da base do governo têm se organizado para barrar o pacote de propostas sobre o STF.  Dentre as estratégias, governistas já preparam o chamado kit obstrução, que pode dificultar o avanço na tramitação. Pedidos de adiamento de votação já foram protocolados por deputados do PT, do PSB e do Psol. 

A base poderá também trabalhar para alterar a composição da Comissão. Na “dança das cadeiras”, membros da base que por ventura se mostrarem favoráveis às propostas podem ser trocados por deputados que votem contra o pacote. A alteração dos membros pode ser feita pelos líderes, a qualquer momento, de acordo com os interesses dos partidos.

Além dos pedidos de adiamento e das possíveis trocas na composição da comissão, os governistas devem ainda questionar a pauta formulada pela presidente da CCJ, deputada Caroline De Toni (PL-SC), já que algumas matérias não tiveram os pareceres dos relatores publicados com maior antecedência. Até o fechamento desta reportagem, duas das quatro propostas tinham parecer publicado. 

Questionada sobre as propostas, a deputada Dandara (PT-MG) falou que há um açodamento em trazê-las para votação. A deputada Dandara também mencionou que o teor das proposições “evidencia o caráter retaliatório e de polarização contra o STF que move os deputados extremistas na Câmara dos Deputados”. 

Para a deputada Fernanda Melchionna (Psol-RS), a pauta para frear o Supremo é uma resposta para a decisão da Corte sobre as emendas parlamentares. “O que os parlamentares da extrema direita, em casamento com o Centrão, querem é seguir operando em uma lógica nefasta com o orçamento público, criada durante o governo Bolsonaro, que dá passe livre para os parlamentares usarem dinheiro público sem transparência nenhuma e acumula escândalos de corrupção envolvendo o Orçamento Secreto”, completou a deputada, que é vice-líder da federação Psol-Rede. 

O deputado Rubens Pereira Jr. (PT-MA), que é vice-líder do governo, também já adiantou que é contra as quatro propostas em pauta na CCJ. 

Oposição se mobiliza para enfrentar obstrução

Enquanto governistas preparam a obstrução, a oposição tem apostado na mobilização nas redes sociais para garantir o avanço do pacote do STF. Nesta segunda-feira (26) deputados favoráveis às propostas fizeram publicações sobre o pacote, pedindo apoio da população. 

Em vídeo, o deputado Gustavo Gayer (PL-GO) chamou o pacote de “bomba contra a ditadura do Moraes”. Para ele, a atitude da presidente da CCJ de pautar as propostas nesta semana foi “corajosa”. “Esta é a verdadeira oportunidade de mudar o Brasil”, disse Gayer. 

O deputado Luiz Phillippe de Orleans e Bragança (PL-SP), relator da PEC 28/2021 que permite sustar decisões do STF, também divulgou um vídeo nas redes sociais pedindo a mobilização para pedir que os deputados participem da reunião e votem a favor da proposta. “Quem vota contra debater esse tema, para sequer criar um limite ou um freio para o Judiciário do jeito que ele está agindo, interferindo em todos os poderes, quem vota contra a PEC 28, é a favor da ditadura”, disse o deputado. 

Bragança disse ainda que a obtrução deve vir dos partidos da base do governo e daqueles "deputados que têm medo do Judiciário", ou ainda, "daqueles que não querem perder a mamata do governo que está pagando para manter o judiciário ditatorial", completou.

A mobilização inicial da oposição para aprovar as propostas mira apenas os deputados que são membros da CCJ, mas pode se voltar também para o presidente Lira, caso as propostas sejam novamente engavetadas. Depois da votação da CCJ, marcada para começar na tarde desta terça-feira (27), as PECs precisam passar pela análise de uma comissão especial criada a partir de decisão do presidente da Câmara. Sendo assim, se Lira quiser, pode travar a tramitação não criando o colegiado.

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