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O deputado federal Osmar Terra (MDB-RS), que presta depoimento à CPI da Covid nesta terça-feira (22), rejeitou o rótulo de negacionista e disse ser favorável à vacinação para reduzir os efeitos da pandemia de coronavírus. O parlamentar declarou, porém, ser contrário às medidas de isolamento social e afirmou que a "imunidade de rebanho" pode ser positiva para contribuir para o término da pandemia no Brasil.
"Quem se infectou não se infecta de novo", declarou Terra. Segundo ele, a chance de reinfecção pelo coronavírus é pequena. O deputado, que foi também ministro da Cidadania do governo de Jair Bolsonaro, comparou a infecção pelo vírus com as vacinas - que, em alguns casos, são produzidas com base em vírus inativos. Segundo ele, a possibilidade de imunização chega a ser superior quando há um contágio mais disseminado entre a população.
Osmar Terra, entretanto, declarou ser favorável à vacinação. "Se existisse vacina desde o início ninguém estava discutindo nada", disse. Sua ressalva à imunização por meio das vacinas é por conta de uma suposta lentidão da vacinação em seus efeitos de escala global.
O deputado também endossou o discurso de Bolsonaro sobre a responsabilidade de estados e municípios na adoção de medidas de restrição, ao dizer que o Supremo Tribunal Federal (STF) determinou que o governo federal não tem possibilidade de gerenciar medidas de restrição de circulação. Para Terra, ações como o lockdown, mal implantadas, estão entre as responsáveis pelo número de mortes do Brasil.
O parlamentar fala à CPI da Covid na condição de convidado.
"Não tenho poder sobre o presidente"
O deputado foi convidado para depor à CPI por ser, segundo os parlamentares de oposição que compõem a comissão, um dos membros do "gabinete paralelo", a suposta estrutura informal que passaria informações ao presidente Jair Bolsonaro sobre a pandemia com diretrizes opostas às da Organização Mundial de Saúde (OMS).
Terra negou a existência do "gabinete paralelo" e também exercer influência sobre Bolsonaro. Ele disse que se encontra com o presidente com pouca frequência, e que em poucas ocasiões externou sua opinião sobre questões ligadas à pandemia de coronavírus. "Quando de vez em quando o presidente me pergunta alguma coisa e eu acho que eu posso responder, eu respondo", declarou. "Não tenho poder sobre o presidente ou eu seria o presidente e ele, o deputado", disse. "Isso não significa que tenha gabinete paralelo", acrescentou.
"Não existe este gabinete. Este gabinete é uma ficção. Se assessores do presidente dão conselhos a ele, isso é natural", acrescentou Terra. O deputado disse, entretanto, que "sempre que teve a oportunidade" sugeriu a Bolsonaro a compra de vacinas contra a Covid-19.
Terra declarou que se encontrou com a médica Nise Yamaguchi em poucas ocasiões, nenhuma em particular, todas na presença do presidente Bolsonaro. A médica, defensora do tratamento precoce, é também citada como uma das personalidades influentes do "gabinete paralelo".
Também em relação às atividades do "gabinete paralelo", Terra negou ter participado da elaboração da minuta do documento que mudaria a bula da cloroquina, para incluir no texto que o medicamento tem efeitos comprovados contra a Covid-19. A possível modificação da bula foi um dos primeiros elementos debatidos pela CPI, trazido pelo ex-ministro Luiz Henrique Mandetta e confirmado pelo presidente da Anvisa, Barra Torres.
Osmar Terra teve previsões contestadas
Osmar Terra foi confrontado pelos senadores por conta de suas previsões não-concretizadas acerca da pandemia de coronavírus. O parlamentar ganhou notoriedade por ter minimizado a Covid-19 em diversas ocasiões. Em entrevistas, debates e pronunciamentos, ele deu declarações no sentido de que a Covid-19 mataria menos pessoas do que a de H1N1, registrada na década passada, e também que a pandemia se encerraria em um período curto de tempo, o que não ocorreu.
Segundo Terra, suas previsões "otimistas" se pautavam nos dados de que ele dispunha no momento. O deputado citou dados da China, país onde a pandemia se iniciou, para mostrar que a mortalidade nos primeiros meses de 2020 não era tão elevada. O deputado, porém, evitou fazer uma nova previsão sobre a totalidade de mortos ao fim da pandemia. O presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), havia feito o questionamento a ele.