O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), em entrevista à imprensa| Foto: Pedro França/Agência Senado
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O presidente do Congresso e do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), disse que "a tentativa do ministro Ernesto Araújo de desqualificar a competente senadora Kátia Abreu atinge todo o Senado Federal". A declaração foi publicada no Twitter na noite deste domingo, 28. A manifestação de Pacheco refere-se à acusação feita pelo chanceler brasileiro de que a senadora teria atuado em favor de interesses do 5G da China durante um almoço reservado entre eles no Itamaraty.

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Pacheco, que assim como boa parte do Congresso, vem cobrando do governo uma mudança na política externa do País, com a consequente demissão de Ernesto, ressaltou que o episódio protagonizado pelo chefe das Relações Exteriores ocorre "justamente em um momento que estamos buscando unir, somar, pacificar as relações entre os Poderes". "Essa constante desagregação é um grande desserviço ao País", disse.

Mais cedo, Ernesto fez uma postagem nas redes sociais sobre o conteúdo de uma conversa reservada com a senadora durante um almoço no Itamaraty insinuando que ela teria defendido interesses da China, especificamente na questão do mercado de 5G de telefonia.

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"Em 4/3 recebi a senadora Kátia Abreu para almoçar no MRE. Conversa cortês. Pouco ou nada falou de vacinas. No final, à mesa, disse: "Ministro, se o senhor fizer um gesto em relação ao 5G, será o rei do Senado." Não fiz gesto algum", escreveu Ernesto em sua conta no Twitter neste domingo. "Desconsiderei a sugestão inclusive porque o tema 5G depende do Ministério das Comunicações e do próprio Presidente da República, a quem compete a decisão última na matéria".

Em seguida, Kátia rebateu o ataque. "O Brasil não pode mais continuar tendo, perante o mundo, a face de um marginal. Alguém que insiste em viver à margem da boa diplomacia, à margem da verdade dos fatos, à margem do equilíbrio e à margem do respeito às instituições. Alguém que agride gratuitamente e desnecessariamente a Comissão de Relações Exteriores e o Senado Federal", escreveu a senadora em nota distribuída à imprensa neste domingo, 28.

A senadora também considerou uma "violência" resumir o conteúdo da conversa em um tuíte. "É uma violência resumir três horas de um encontro institucional a um tuíte que falta com a verdade. Em um encontro institucional, todo o conteúdo é público. Defendi que os certames licitatórios não podem comportar vetos ou restrições políticas", afirmou a senadora.

A publicação de Ernesto foi um contra-ataque ao Senado, após parlamentares cobrarem publicamente sua demissão, e uma tentativa de endossar a narrativa sustentada nos bastidores por aliados do chanceler sobre qual seria o motivo de sua "fritura", a de que, sem ele no governo, o caminho estaria livre para os asiáticos entrarem no mercado brasileiro do 5G.

Há, no entanto, uma avaliação generalizada e vocalizada de que Ernesto é responsável pelo fracasso das negociações internacionais para a compra de vacinas contra a covid-19 e isso é o que tem motivado a pressão recente pela sua saída do cargo. A gestão dele à frente da política externa brasileira está sendo contestada e reprovada não só por parlamentares, mas também por economistas, empresários, militares, governadores, prefeitos e até por diplomatas.

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Senadores como o presidente do Progressistas, Ciro Nogueira (PI) Weverton (PDT-MA) e Simone Tebet (MDB-MS) saíram em defesa da colega e do Parlamento neste domingo. Tebet escreveu: "Ernesto e democracia não andam juntos". "Não há opção. Democracia fica. Ernesto tem de sair".