O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, confirmou na última sexta-feira (22) que está deixando o DEM para ingressar no PSD, presidido pelo ex-ministro Gilberto Kassab. A filiação está prevista para ocorrer nesta quarta-feira (27), no Memorial JK, em Brasília.
A troca de partido é vista como o primeiro passo de Pacheco para pavimentar sua candidatura ao Palácio do Planalto em 2022 na chamada terceira via. O local escolhido para a assinatura da filiação também é estratégico. Segundo integrantes do PSD, a ideia é que Pacheco encampe a imagem do ex-presidente Juscelino Kubitschek como “pacificador” e “estabilizador” diante da polarização entre o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
"Além de estar na capital política do país, o centro cultural construído para homenagear o mineiro Juscelino Kubistchek confere à cerimônia o simbolismo que Kassab passou a construir ao defender o nome de Pacheco como possível candidato à Presidência pela legenda", informou o PSD em nota.
Nos bastidores, o presidente do PSD tem afirmado que Pacheco, além de ser mineiro, se assemelha ao ex-presidente JK pela habilidade em construir alianças políticas. Aos líderes de outros partidos, Kassab tem relembrado as costuras feitas na eleição de Pacheco para a presidência do Senado no começo deste ano, que envolveu apoios do próprio PSD, Rede, PSB, MDB, PT e até do Palácio do Planalto.
Estarão presentes ao ato de filiação de Pacheco os prefeitos Alexandre Kalil (Belo Horizonte) e Eduardo Paes (Rio de Janeiro), e o governador do Paraná, Ratinho Júnior. Todos do PSD. São esperadas ainda a participação de lideranças de outros partidos como do DEM, PSL, MDB e PSDB. O ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin, que costura deixar o PSDB para se filiar ao partido de Kassab, também é esperado no evento.
Pacheco assume articulação com governadores
Na pavimentação de sua candidatura ao Planalto, Pacheco assumiu nos últimos dias uma articulação junto aos governadores. Os chefes de Executivos estaduais travam um embate com o presidente Jair Bolsonaro e buscam pelo Senado avançar com projetos de seus interesses.
Na última semana, Pacheco recebeu governadores para discutir mudanças no projeto que altera a cobrança do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) de combustíveis que já foi aprovado pela Câmara. O tributo tem sido o principal ponto de discórdia entre Bolsonaro e os governadores diante do aumento do preço da gasolina.
“O que os governadores talvez estejam contra é que, para se definir esse valor do imposto do ICMS, está se tomando como referência os anos de 2019 e 2020, que foram anos em que os preços dos combustíveis estavam menores. Então, talvez a referência deve ser algo equilibrado que compreenda também esse momento em que houve a alta do combustível, que é uma realidade, infelizmente, no Brasil”, disse Pacheco.
Na Câmara, o projeto que altera a cobrança foi encampado pelo presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), aliado do Palácio do Planalto. O texto dos deputados altera o cálculo do ICMS que incide sobre os combustíveis e derruba a arrecadação de estados e municípios em R$ 24,1 bilhões por ano. De acordo com os governadores, essa redução poderia implicar na piora de serviços básicos de saúde, educação e segurança públicas.
Aos governadores, Pacheco sinalizou que irá buscar uma reunião conjunta com a Petrobras para se discutir a política de preços da estatal. O governador do Piauí e presidente do Consórcio do Nordeste, Wellington Dias (PT), tem defendido a capitalização de um fundo e equalização dos combustíveis.
Reforçar o número de governadores é um projeto do PSD
A movimentação é vista, nos bastidores, como uma forma de atrair o apoio de governadores ao projeto presidencial de Pacheco. Presidente do PSD, Kassab já sinalizou que pretende ampliar o número de governadores do seu partido nas eleições do próximo ano. Além de Ratinho Júnior, o partido conta hoje com o governador do Sergipe, Belivaldo Chagas.
O entorno de Kassab admite que a estratégia de lançar Pacheco ao Planalto visa reforçar o palanque de seus candidatos aos governos locais. Diante da polarização Bolsonaro e Lula, os candidatos estaduais teriam um nome na chamada terceira via para garantir apoio no primeiro turno da disputa, calculam os aliados de Kassab.
Em São Paulo, por exemplo, o ex-governador Geraldo Alckmin vem construindo sua candidatura ao lado de nomes como Márcio França (PSB) e Paulo Skaf (MDB), que ficariam com a candidatura de vice e ao Senado na chapa. Em Minas Gerais, o partido pretende lançar o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil. Enquanto na Paraíba, o prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues, é cotado para o governo paraibano. Além das reeleições no Paraná e em Sergipe.
Líderes do PSD calculam entre 10 e 12 candidaturas a Executivos estaduais no próximo ano. Além disso, pretendem ampliar a bancada na Câmara, hoje em 35 deputados, e manter uma das maiores bancadas do Senado, atualmente com 11 senadores. Esse número chegará a 12 com a filiação de Pacheco.
Entre os possíveis atraídos pela candidatura do presidente do Senado ao Planalto, o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), já considera Pacheco como um “forte nome” da terceira via. O emedebista mantém uma relação de idas e vindas com o presidente Bolsonaro.
Recentemente, Rocha recebeu Pacheco para um jantar em sua residência, em Brasília. Entre os presentes, líderes do MDB e o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, que deve se filiar ao PSD.
Pacheco ainda patina nas pesquisas
O nome de Pacheco vem sendo testado por diferentes institutos de pesquisas há meses. De acordo com o último levantamento Datafolha, de setembro, no cenário em que o nome do presidente do Senado é apresentado, Lula lidera com 42% das intenções de voto. Bolsonaro vem em seguida, com 24%.
Na sequência, Ciro Gomes (PDT), tem 10%; João Doria (PSDB), 5%; José Luiz Datena (PSL), 4%; Simone Tebet (MDB), 2%; e Aldo Rebelo (sem partido), 1%, mesmo porcentual obtido por Pacheco. O instituto ouviu 3.667 pessoas entre os dias 13 e 14 de setembro, em 190 cidades. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou menos.
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