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Queimadas

Oposição toma a frente na reação do Congresso ao fogo no Pantanal

Bombeiro do Mato Grosso em ação de combate às queimadas no Pantanal
Bombeiro do Mato Grosso em ação de combate às chamas no Pantanal. (Foto: Mayke Toscano/Secom-MT)

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O presidente Jair Bolsonaro, em seu discurso à Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), afirmou que o Brasil é alvo de uma campanha internacional de "desinformação" em relação ao Pantanal e à Amazônia. Mas, internamente, o Planalto não conseguiu se articular para reduzir o risco de perder a guerra de narrativas no principal palco político: o Congresso.

Na Câmara e no Senado, a oposição conseguiu ocupar muitas vagas nas duas comissões criadas para tratar das queimadas no Pantanal. Os governistas praticamente ficaram de fora dos dois grupos – que, além da esquerda, também foram formados com políticos de centro, com posição mais independente em relação ao Planalto.

A situação mais crítica para Bolsonaro está na Câmara. Dos 21 membros do grupo sobre os incêndios no Pantanal, 19 são da esquerda: nove são do PT, quatro do PSB, três do Psol e dois do PDT. A coordenação do colegiado está com uma integrante do PT, a deputada Rosa Neide (MT).

No Senado, o ambiente é um pouco mais favorável para Bolsonaro. A comissão é presidida por Wellington Fagundes (PL-MT) e tem como relator Nelsinho Trad (PSD-MS), ambos posicionados no centro do espectro político. O órgão tem ainda entre os membros a senadora Soraya Thronicke (PSL-MS), que vive uma relação de "guerra e paz" com o bolsonarismo – ela busca, hoje, estar próxima tanto do presidente da República quanto do senador Major Olímpio (PSL-SP), que está rompido com Bolsonaro.

Em outras frentes, o Planalto também ficou na defensiva. A senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA), coordenadora da Frente Ambientalista no Senado, protocolou na quarta-feira (23) o pedido de criação da CPI da Crise Ambiental – que tem como objeto a investigação das queimadas no Pantanal e na Amazônia e o que seria o desmonte, pelo governo, da política ambiental no país.

O pedido de criação da CPI teve o apoio de 27 senadores, o mínimo necessário para a abertura de uma CPI. Mas a abertura da investigação depende da autorização do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP).

Já o PDT buscou também judicializar as queimadas e encaminhou um pedido para o Supremo Tribunal Federal (STF) cobrar explicações de Bolsonaro sobre suas declarações referentes ao Pantanal e a Amazônia na ONU – o que, se for acatado, representará um desgaste para o presidente.

Nas comissões do Pantanal, discurso oficial é que debate não será politizado

Evitar a politização dos debates e a transformação da comissão em mais um palco da disputa esquerda versus direita é uma das metas do senador Wellington Fagundes (PL-MT) na comissão das queimadas no Pantanal do Senado. "Nós estamos fazendo de tudo para não politizarmos essa questão", diz.

Membro da comissão na Câmara, o deputado Rodrigo Agostinho (PSB-SP) segue a mesma linha. Ele afirma que o combate ao incêndio "está acima de ideologias" e que considera "ignorância levar para esse lado". Em relação à ausência de bolsonaristas na comissão, Agostinho afirma: "Os governistas são bem-vindos. Mas é natural que eles não queiram participar de uma comissão liderada por alguém do PT".

Audiências, viagens e convite a ministros

As comissões de Câmara e Senado iniciaram suas atividades externas com viagens ao Pantanal no fim de semana passado, para visitar áreas atingidas e se encontrar com lideranças da região.

O grupo do Senado fará nova ida ao local no próximo dia 3. As audiências serão em Corumbá (MS) e a expectativa é de ter a presença do vice-presidente Hamilton Mourão e dos ministros Ricardo Salles (Meio Ambiente), Tereza Cristina (Agricultura) e Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional). O relator Nelsinho Trad disse, à Agência Senado, que irá "pessoalmente" convidar as autoridades. O governador do Mato Grosso do Sul, Reinaldo Azambuja (MS), também será convidado.

Presente na primeira incursão da comissão da Câmara ao Pantanal, que visitou o estado do Mato Grosso, Agostinho diz que a diligência permitiu que o grupo percebesse que há carência de estrutura para que o poder público local tenha condição de combater as chamas.

"Fizemos reuniões com fazendeiros, indígenas, quilombolas, proprietários de pousadas, universidades, e verificamos que falta muita coisa", afirma o parlamentar, que é o presidente da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara.

Outra percepção de Agostinho é a de que, no curto prazo, a região deve continuar enfrentando problemas. Um fenômeno esperado é o transporte das cinzas das queimadas para o leito dos rios, o que causará a morte de peixes. "A gente ainda tem tragédias para assistir."

Leis contra fogo e Estatuto do Pantanal no horizonte das comissões

Os parlamentares acreditam que a elaboração de leis tende a ser a principal contribuição das comissões para evitar futuros incêndios florestais no país. Agostinho cita a implantação de uma norma para a regulamentação do uso do fogo – que é, atualmente, empregado por proprietários de terras que buscam ampliar suas áreas de cultivo. "A regulamentação do fogo colocaria ordem nesse problema. É uma proposta importante, que disciplinaria quando e como o fogo seria usado."

Já a ambição do senador Wellington Fagundes é a criação do Estatuto do Pantanal: "o Congresso precisa construir uma lei federal, uma lei normatizadora, com diretrizes que sejam aplicáveis ao Mato Grosso e ao Mato Grosso do Sul".

O parlamentar elaborou uma minuta do Estatuto, que foi aprovada pela comissão de senadores na quarta-feira (23). O texto trabalha com metas e diretrizes para a gestão sustentável do Pantanal, como a implantação do zoneamento ecológico-econômico, que prevê até a implantação de polos industriais na região, e a "promoção dos meios necessários para a efetiva participação dos povos indígenas e das comunidades tradicionais nas instâncias de controle social e nos processos decisórios relacionados aos seus direitos e interesses". "É um estatuto que não vai cuidar das filigranas. Afinal, quem estará na ponta são os municípios", diz Fagundes.

O senador acredita ser possível que o Senado conclua a elavoração da norma ainda em 2020 – mesmo com um calendário apertado, que inclui eleições municipais e as reformas tributária e administrativa.

Um trunfo para o projeto, cita Fagundes, é o fato de a Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) do Senado, a mais importante da Casa, ter como presidente a senadora Simone Tebet (MDB-MS), que é também da região.

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