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Oposição avalia candidatura à sucessão de Lira, mas enfrenta divergências internas| Foto: Michel Jesus/Câmara dos Deputados

O deputado federal Marcel Van Hatten (Novo-RS) e outros parlamentares da direita estão defendendo uma candidatura da oposição para a eleição à presidência da Câmara dos Deputados, que ocorrerá em fevereiro. A iniciativa, porém, sofre resistências no Partido Liberal, que também avalia apoiar um nome ligado ao Centrão a fim de garantir posições estratégicas na Mesa Diretora e nas comissões permanentes da Câmara.

A disposição de Van Hatten de se colocar como o candidato da direita já começa a movimentar a oposição. O deputado, inclusive, é veterano no assunto, e já disputou o cargo em 2019, 2021 e 2023, obtendo 19 votos na última eleição para presidente da Casa, quando Arthur Lira (PP-AL) conquistou a reeleição com o apoio de 464 deputados.

À Gazeta do Povo, Van Hattem afirmou que é importante que a direita marque posição nas eleições da Câmara dos Deputados e lance um representante alinhado às pautas conservadoras. Ele acredita que a candidatura da oposição deve ser melhor avaliada, já que, no cenário atual, os quatro pré-candidatos à sucessão de Arthur Lira são de partidos do Centrão: Isnaldo Bulhões, do MDB; Antônio Britto, do PSD; Hugo Motta, do Republicanos; e Elmar Nascimento, do União Brasil.

"Todos esses partidos têm ministérios no governo Lula. Nenhum desses candidatos vai, por exemplo, propor ou aceitar a abertura de um processo de impeachment do Lula. Esse já tem que ser um critério eliminatório", salientou.

O deputado considera que, com vários candidatos pleiteando o cargo hoje ocupado por Lira, a disputa deverá ser levada para o segundo turno, com boas chances para um candidato da direita. "A oposição, se votar unida, terá de 120 a 130 votos já no primeiro turno, o que nos coloca com grandes chances, em uma eleição tão dividida, quase certamente, na verdade, no segundo turno", disse o deputado do Novo.

Van Hatten afirmou ainda que se colocou como alternativa neste primeiro momento, embora admita que a oposição pode optar por apoiar um candidato com mais chance na disputa, desde que tenha compromisso com as pautas da direita.

Deputados resistem a apoiar candidatos do Centrão para presidência da Câmara

A discussão sobre uma candidatura de oposição ganhou mais força após os embates em torno do projeto de anistia aos condenados pelas manifestações do 8 de janeiro, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Deputados como Gilvan da Federal (PL-ES) expressaram apoio a Van Hattem.

"Não votarei em candidato do Centrão. Não irei votar em nenhum candidato à presidência desta Casa que seja covarde, omisso", disse o parlamentar, numa crítica à falta de disposição de Lira de avançar em temas como a instalação da CPI do Abuso de Autoridade, que está parada na Mesa Diretora aguardando despacho do presidente da Câmara. A comissão parlamentar de inquérito, proposta por Van Hattem, quer apurar se membros do Supremo Tribunal Federal (STF) cometeram abusos de autoridade.

O deputado Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PL-SP) defende que a oposição tenha uma participação maior na sucessão de Lira, e não apenas vote com quem "der mais". Com as maiores bancadas, o apoio do PL (92 deputados) e do PT (80) é disputado pelos candidatos a presidente da Câmara.

Além dos cargos importantes na estrutura administrativa da Câmara e da visibilidade para quem ocupa estes postos, estão em jogo o avanço de pautas caras para os partidos – no caso da oposição, o pacote de medidas para "frear" o ativismo judicial, a anistia aos presos do 8 de janeiro e pautas conservadoras.

"Não consigo me entregar a esse jogo", disse o parlamentar. Há tempos Luiz Philippe defende que a oposição marque posição na disputa pela Câmara com um nome próprio, mas admite que "se for para entregar o voto, tem que ser condicionante a essas pautas".

Oposição só vai decidir sobre sucessão após eleições municipais

Apesar de defendida por alguns parlamentares, uma eventual candidatura da oposição só vai ser definida após o fim do segundo turno das eleições municipais. O líder do Partido Liberal, Altineu Côrtes, afirmou que as conversas estão acontecendo, mas a decisão oficial do PL, cortejado por todos os candidatos já postos na disputa, vai ter que esperar. Fontes próximas aos candidatos que querem comandar a Câmara afirmam que o próprio Côrtes poderá compor uma chapa com o candidato apoiado por Arthur Lira, na disputa pela vice-presidência da Casa.

Outro nome influente no PL e um dos vice-líderes da oposição na Câmara, o deputado Eduardo Bolsonaro (SP) é mais cético em relação à vantagem de ter um candidato da oposição para disputar o comando da Câmara dos Deputados. Em participação recente no programa Puxando o Fio, no YouTube, o deputado afirmou que lançar um candidato próprio, ainda que ideologicamente alinhado, pode significar perda de espaço no jogo político.

"A gente tem que jogar aberto, com transparência, para fazer sentido para as pessoas. Isso não é virar Centrão [sobre o possível apoio a um dos candidatos que concorrem à sucessão], as opiniões não mudam", garantiu o deputado.

Para ele, é preciso considerar a possibilidade de composição, que pode levar membros da direita a ocupar importantes cargos na Mesa Diretora, como uma vice-presidência ou até mesmo uma secretaria.

Filipe Barros (PL-PR), líder da oposição na Câmara, adota uma postura mais cautelosa, ressaltando que ainda é cedo para discutir o tema, já que a eleição só acontecerá em fevereiro de 2025.

"A oposição precisa garantir que qualquer candidato que apoie nossos valores se comprometa publicamente com as pautas prioritárias da direita, como a reforma do Judiciário e o combate aos abusos do STF", afirmou à Gazeta do Povo.

Oposição precisa mais do que simbolismo, diz analista

"A candidatura de um nome de oposição à presidência da Câmara sempre foi uma estratégia simbólica, que visava marcar posição e garantir um espaço no debate", avalia o analista Juan Carlos Gonçalves, diretor do Ranking dos Políticos. Mas, para ele, essa tática pode enfraquecer a direita.

"Historicamente, a insistência em candidaturas avulsas tem marginalizado a oposição, que se vê sem força para ocupar posições-chave na Mesa Diretora e nas comissões mais importantes", avalia o cientista político.

Para Juan Carlos Gonçalves, diante do cenário político atual, "em que o Centrão domina tanto a estrutura da Câmara quanto a relação com o governo, os partidos de oposição, ao não se articularem de forma pragmática, correm o risco de ficar fora dos principais centros de decisão", conclui.

Na opinião do cientista, mais importante do que lançar um candidato próprio é garantir que a escolha se traduza em ganhos concretos para o avanço das pautas da direita, e até mesmo para "moldar o papel" da oposição na Câmara nos próximos anos.

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