Em busca de alinhamento para 2022, Novo tenta reduzir tensões internas

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Dividido entre a bancada do Congresso Nacional e a executiva partidária, o partido Novo busca um consenso sobre qual será o seu posicionamento na disputa pelo Palácio do Planalto em 2022. Ex-presidente e um dos fundadores do Novo, João Amoêdo chegou a lançar sua pré-candidatura, mas acabou recuando depois que não encontrou apoio entre os correligionários.

Como forma de se contrapor ao nome de Amoêdo, que chegou a disputar à Presidência da República em 2018, uma ala do Novo tem encampado o nome do deputado Thiago Mitraud (MG) como alternativa. O parlamentar mineiro conta com o apoio de pelo menos 40 dos pouco mais de 50 mandatários do partido, entre deputados e os dois únicos políticos eleitos pelo partido para cargos no Executivo: o prefeito de Joinville (SC), Adriano Silva, e governador de Minas Gerais, Romeu Zema.

“Declaramos, portanto, apoio à participação de Tiago Mitraud no processo seletivo à presidência da República pelo Partido Novo pois entendemos que o deputado que, por duas vezes, foi eleito o melhor parlamentar do Brasil pelo Ranking dos Políticos, reúne as qualificações necessárias para bem representar os filiados do Novo e os brasileiros que desejam tão ardentemente uma terceira via qualificada em 2022", diz um dos trechos do manifesto.

Apesar de já ter sinalizado que não pretende concorrer à reeleição na Câmara, Mitraud estaria trabalhando para ser candidato ao Senado. Portanto, ainda não sinalizou se aceitará a investida dos seus correligionários em lançá-lo ao Palácio do Planalto. A candidatura ao Senado também esbarra nos planos de reeleição do governador Romeu Zema.

Depois de concorrer em uma chapa pura em 2018, ou seja, sem composição com outros partidos, Zema já sinalizou que está disposto a compor com outros grupos políticos de Minas Gerais para fortalecer seu palanque. Como cada estado terá direito a apenas uma vaga ao Senado no ano que vem, a candidatura de senador na chapa de Zema poderá ser ofertada a outro partido que aceitar a coligação com o Novo.

A investida do atual governador em formar alianças cresceu depois que o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), passou a articular sua candidatura ao governo estadual. O grupo de Kalil conta coma adesão de diversos partidos, o que pode enfraquecer os palanques de Zema nas principais regiões do estado.

No grupo da terceira via, Amoêdo defende impeachment de Bolsonaro

Integrando o grupo que articula uma candidatura ao Palácio do Planalto na chamada terceira via, João Amoêdo passou a encampar um movimento favorável ao impeachment do presidente Jair Bolsonaro. Como a Gazeta do Povo mostrou, líderes partidários de centro e centro-direita passaram defender o afastamento de Bolsonaro como alternativa para derrotar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições do ano que vem.

“Acho que a tese do impeachment tem ganhado força. Está se criando o clima político para isso. Eu entendo que a reconstrução do Brasil começa por um pedido de impeachment do Bolsonaro. A gente não vai sair dessa polarização enquanto não acontecer a saída dele do governo, devido a tudo que ele tem feito e, sobretudo, pelo que não tem feito. Agora, o partido amadureceu essa tese com o acúmulo de crimes cometidos pelo presidente”, disse Amoêdo à revista Veja.

Assim como na articulação para lançar um nome ao Planalto, o Novo também está dividido sobre o apoio formal ao impeachment de Bolsonaro. À Gazeta do Povo, o prefeito de Joinville, Adriano Silva, afirmou ser contra a abertura de um dos mais de 100 pedidos de afastamento contra o presidente protocolados na Câmara.

"Diferente do que muitos mandatários [do Novo] têm na sua percepção sobre o governo federal, eu vejo muitos pontos positivos do que nós estamos tendo no Brasil em termos de governo federal. (...) Eu tenho uma visão otimista do governo federal”, disse Silva.

Já no Congresso, a bancada do Novo na Câmara passou a defender publicamente o afastamento de Bolsonaro. “Nós procuramos levar um tempo, para estudar os pedidos e averiguar, entre as inúmeras possibilidades de crime de responsabilidade cometidos pelo presidente, se haveriam aquelas que nós julgamos ser suficientes e bem embasadas para receber um apoio nosso. Eu e o partido Novo decidimos apoiar o pedido de impeachment protocolado na última semana pelo movimento Vem Pra Rua”, disse Thiago Mitraud em relação ao chamado “superpedido” protocolado na Câmara com apoio de movimentos e partidos de esquerda e centro-direita.

A bancada do Novo é formada por oito deputados e apesar da sinalização de Mitraud, atualmente existe divisão entre o grupo em relação ao impeachment do presidente.

Governos do Sudeste viram foco do Novo

Além de tentar a reeleição de Romeu Zema em Minas Gerais, o partido Novo também pretende lançar candidaturas aos governos locais em pelo menos outros dois estados do Sudeste: São Paulo e Rio de Janeiro. Líder do partido na Câmara, o deputado Vinicius Poit já sinalizou que disputará o governo paulista.

O lançamento do nome de Poit chamou a atenção de outro pré-candidato ao governo paulista, o deputado estadual Arthur do Val (Patriota-SP). Depois de disputar as eleições municipais de 2020, do Val está compondo sua candidatura ao Palácio dos Bandeirantes com apoio do Movimento Brasil Livre (MBL) e poderá migrar do Patriota para o PSL.

Ao jornal Folha de S. Paulo, do Val afirmou que Poit não teria condições de se viabilizar sozinho e abriu que uma composição com o parlamentar do Novo poderia ser construída. "Estou fazendo este chamamento público para que ele seja meu vice porque acho que tem tudo a ver a gente se unir. Como estou muito à frente nas pesquisas, com 7%, 8% de intenção de votos, e ele está com 0,5%, acho que faz sentido ele aceitar. Já que ele quer realmente ajudar o estado e fazer acontecer, que a gente se una para que consiga chegar lá", disse o deputado estadual.

Já no Rio de Janeiro, o deputado Paulo Ganime também sinaliza que pretende disputar o governo estadual no próximo ano. No entanto, o partido poderá realizar prévias internas para definir a candidatura, pois a engenheira Juliana Benício colocou seu nome no diretório estadual do Novo como postulante ao cargo pela legenda. Ela foi candidata à prefeitura de Niterói no ano passado, tendo ficado em quinto lugar na disputa.

Para o deputado federal Marcel Van Hattem (Novo-RS), tanto a candidatura de Poit como a de Ganime poderá ampliar o número de representantes do partido em cargos no Legislativo. “A participação de ambos significará um grande impulso para nossos candidatos a deputado federal e estadual nos seus estados, que terão no exemplar trabalho na Câmara do Ganime e do Poit um norte para se inspirar e um cartão de visita inestimável a apresentar para seus eleitores”, defendeu Van Hattem.