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O almoço promovido por partidos de centro para discutir uma candidatura que se contraponha ao cenário de polarização entre Jair Bolsonaro (sem partido) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições de 2022 terminou sem uma definição concreta. Promovido pelo ex-ministro Luiz Henrique Mandetta (DEM) em Brasília, nesta quarta-feira (16), o encontro contou com representantes de sete partidos: DEM, PSDB, Podemos, MDB, Cidadania, Solidariedade e PV.
Apesar das movimentações feitas por integrantes desses partidos há pelo menos um ano, a reunião teve como resultado apenas que ainda é preciso conversar. Estiveram presentes os presidentes ACM Neto (DEM), Bruno Araújo (PSDB), Roberto Freire (Cidadania), Renata Abreu (Podemos) e José Luiz Penna (PV), além dos deputados federais Herculano Passos (MDB) e Aureo Ribeiro (Solidariedade). Mandetta e o ex-ministro da Educação Mendonça Filho integraram a lista de representantes do DEM.
“Foi a primeira reunião oficial, para abrir o diálogo. Não tem nome definido nesse campo que a gente está criando. Foi um bom começo”, afirmou Aureo Ribeiro à revista Veja. O partido de Ribeiro é presidido pelo sindicalista e deputado federal Paulinho da Força (SP), que já deu declarações afirmando que não acredita na possibilidade de uma terceira via e sinalizou que pode apoiar Lula.
“Eu tenho uma opinião sobre essa coisa do centro: não vai dar certo. É muito difícil você construir uma candidatura de centro, porque os polos estão acirrados. Não terá uma candidatura de centro para empolgar”, disse Paulinho da Força ao site O Antagonista na véspera do almoço desta quarta.
Os presidentes do PDT, Carlos Lupi, e do PSL, Luciano Bivar, foram convidados, mas não compareceram.
Partidos de centro descartam apoio a Bolsonaro ou Lula
Os presidentes do PSDB e do Cidadania afirmaram que o almoço serviu para definição de um consenso: os partidos de centro presentes não pretendem apoiar Bolsonaro ou Lula nas eleições do ano que vem. “O número de brasileiros que se posiciona hoje para uma nova alternativa é maior que o apoio a Lula ou Bolsonaro. Mas é uma maioria silenciosa, que não faz motociata nem manifestação. É para esses brasileiros que queremos falar”, disse Bruno Araújo, presidente do PSDB.
Já Roberto Freire, do Cidadania, destacou que o encontro não discutiu nomes de possíveis candidatos. Freire chegou a trabalhar pela candidatura de Luciano Huck, mas o apresentador confirmou nesta quarta-feira que não irá disputar a eleição ao Palácio do Planalto em 2022.
“O ambiente para uma terceira via à Presidência é muito positivo. No momento, não falamos de nomes, mas de programas”, argumentou Freire. O presidente do Cidadania recentemente estreitou os laços com Ciro Gomes, pré-candidato do PDT.
O deputado Herculano Passos afirmou que a ideia é o grupo indicar, até o início do ano que vem, o nome que encabeçará a chapa. O parlamentar representou o presidente do MDB, Baleia Rossi, que não compareceu. Rossi integra a ala emedebista liderada pelo ex-presidente Michel Temer e que trabalha por uma terceira via. Entretanto, outra parte do partido, representada pelo ex-presidente José Sarney e antigos nomes do Nordeste, encampa uma reaproximação com Lula.
O presidente do DEM, ACM Netto, saiu do encontro sem dar declarações. O ex-prefeito de Salvador vive uma crise atual dentro do seu partido sobre o posicionamento da legenda para 2022. Enquanto um grupo defende o nome de Mandetta, outra ala está no governo Bolsonaro, e um terceiro grupo encampa o nome do governador de São Paulo, João Doria, possível presidenciável do PSDB. Na esteira disso, ACM ainda mantém conversas abertas com Ciro Gomes.
Dos presentes, apenas o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta é apontado como pré-candidato por integrantes da sua legenda. O democrata afirmou que o encontro serviu para mostrar a convergência dessas legendas em relação a 2022. “Um conceito de unidade, de pacificação do país e de zelo da democracia. Todos os partidos estão falando a mesma língua. (...) O compromisso de uma candidatura única começa. O compromisso é de caminhada, não de fim”, declarou Mandetta ao jornal O Globo.
O ex-ministro do governo Bolsonaro vem sendo um nome testado em pesquisas de diferentes institutos. No mais recente, feito pela XP/Ipespe em junho, Mandetta apareceu com 3% das intenções de votos, atrás de Lula, Bolsonaro, Sergio Moro (sem partido), Ciro Gomes e Luciano Huck (sem partido).