Deputados federais devem aproveitar o "superferiadão" presenteado após a Páscoa para consolidar apoios políticos para as eleições municipais de 6 de outubro, às vésperas do fechamento de prazos importantes previstos no calendário da justiça eleitoral. Embora seus cargos não estejam em disputa em 2024, alguns deputados planejam concorrer a prefeito, enquanto outros estão se articulando para eleger seus aliados em seus redutos, reforçando assim suas bases para as eleições de 2026.
O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), fez um acordo com líderes de partidos na Casa para esticar o feriado da Semana Santa até 8 de abril. Dois dias antes, 6 de abril, é a data-limite estipulada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para mudança de domicílio eleitoral de candidatos e para filiação ao partido pelo qual deseja concorrer. Os seis meses exatos antes do dia da votação também marcam o prazo final para o registro dos estatutos dos partidos e federações partidárias que participarão das eleições.
Há, ainda, outra data eleitoral importante chegando: em 5 de abril encerra-se a chamada "janela partidária", período em que vereadores podem mudar de partido sem correr o risco de perder o mandato. Por se tratar de uma eleição municipal, a janela partidária deste ano se aplica somente aos vereadores, e não aos deputados. Prefeitos, por sua vez, podem mudar de partido a qualquer tempo, já que os mandatos estão vinculados ao eleito e não ao partido. Eles também não precisam renunciar, caso concorram à reeleição. Isso é exigido apenas no caso de prefeitos que se candidatem ao cargo de vereador.
Para o analista Juan Carlos Gonçalves, diretor do Ranking dos Políticos, é natural que os deputados se aproximem de suas bases nesse momento para manter contato com aqueles que serão seus principais apoiadores eleitorais em 2026, considerando que prefeitos e vereadores acabam sendo os principais cabos eleitorais nas eleições gerais (para presidente, governadores, senadores, deputados federais e estaduais).
Apostando no casal Bolsonaro como cabo eleitoral, PL quer eleger 1.500 prefeitos
Neste contexto, os partidos estão traçando suas estratégias para conquistar o maior número possível de prefeituras e cadeiras nas Câmaras de Vereadores em todo o país.
O PL do ex-presidente Jair Bolsonaro, por exemplo, tem metas ambiciosas. O presidente da sigla, Valdemar Costa Neto, tem dito em encontros e entrevistas que o partido espera sair das urnas em outubro com um saldo de pelo menos 1.500 prefeitos eleitos.
“Vamos bater recorde nas eleições de 2024. Somos a legenda que mais cresce no Brasil, e com a força dos nossos parlamentares e de Bolsonaro, iremos fazer mais de 1.500 prefeitos nas próximas eleições”, publicou Costa Neto no X (antigo Twitter).
Para chegar a esse objetivo, o partido terá que fazer quatro vezes mais prefeitos que em 2020, quando conseguiu eleger 349 candidatos. A legenda está apostando no casal Jair e Michelle Bolsonaro como seus principais cabos eleitorais para fazer uma boa votação.
O ex-mandatário, apesar das investigações da Polícia Federal que tentam ligá-lo a uma suposta tentativa de golpe de Estado, está com uma agenda pré-eleitoral intensa, visitando diversas cidades. Michelle, que é presidente do PL Mulher, também tem rodado o país, busca aumentar a representatividade feminina nos quadros do PL.
“Confiem no PL. Se filiem, se candidatem, porque nós estaremos aqui, fortalecendo o PL nacional com o estadual e o municipal.... Nós queremos capacitar as nossas candidatas. Nós queremos estar juntas com elas para que elas consigam se eleger", tem dito Michelle Bolsonaro nos eventos do PL Mulher, para atrair o público feminino.
Lula deve ajudar PT a fazer mais prefeitos em 2024 do que em 2020
Enquanto o PL aposta no casal Bolsonaro para engrossar as fileiras do partido, o Partido dos Trabalhadores usa estratégia semelhante, com o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como principal cabo eleitoral para conquistar novas prefeituras pelo Brasil.
Embora a presidente do PT, deputada federal Gleisi Hoffman (PR), afirme que a legenda não estabeleceu uma meta de eleição de prefeitos, o objetivo é pelo menos ultrapassar os 227 prefeitos petistas eleitos em 2020.
O partido deve focar seus esforços eleitorais nas capitais dos estados e em cidades com mais de 200 mil eleitores, mas já sinalizou que dará espaço para alianças com partidos de esquerda em vez de perseguir candidaturas próprias a todo custo – a exemplo do apoio à candidatura do deputado federal Guilherme Boulos (Psol-SP) para a prefeitura de São Paulo. A aliança com outros partidos também mira a sucessão de Lula em 2026.
Migrações partidárias tornaram PSD a sigla com maior número de prefeituras
Olhando para fora do eixo antagonista, tem se destacado a estratégia do PSD, comandado por Gilberto Kassab. O partido apostou em atrair a filiação de prefeitos de outras siglas e atualmente é quem controla o maior número de prefeituras no país: 968, segundo o TSE.
São 308 prefeitos a mais do que os 660 que o partido elegeu em 2020, um crescimento de 47%, observado especialmente no estado de São Paulo, onde o PSD aproveitou o "encolhimento" do tradicional PSDB.
Diferentemente dos vereadores, os prefeitos podem mudar de partido a qualquer momento, sem precisar esperar a janela partidária.
Republicanos quer eleger 300 prefeitos e 3.000 vereadores
Enquanto ainda negociam a formação de uma grande federação partidária em nível nacional, União Brasil, Republicanos e Progressistas têm, cada um, suas metas próprias para as eleições de 2024.
O presidente do Republicanos, deputado federal Marcos Pereira (SP), disse à Gazeta do Povo que o partido quer eleger 300 prefeitos e 3.000 vereadores no país em 2024, um aumento significativo considerando-se que em 2020 a sigla elegeu 213 prefeitos e 2.551 vereadores.
O União Brasil, por sua vez, não estabeleceu metas, mas o vice-presidente do partido, Antônio Carlos Magalhães Neto, conhecido como ACM Neto, disse que o partido quer crescer e, onde não puder ter candidaturas próprias, vai discutir apoios estratégicos que possam ampliar sua participação e fortalecer o partido.
O União Brasil também já está olhando para 2026. Um dos principais quadros do partido, o governador Ronaldo Caiado (Goiás) sinaliza para uma possível candidatura à presidência da República nas próximas eleições gerais.
Mas o começo de ano do partido tem sido conturbado, com sucessivas crises. Recentemente houve a mudança na presidência do partido – o deputado federal Luciano Bivar (PE) foi afastado pela Executiva do União após uma disputa interna com o novo presidente eleito, Antonio Rueda – e a prisão do deputado federal Chiquinho Brazão (RJ), suspeito de ser um dos mandantes da morte da vereadora carioca Marielle Franco. Brazão foi expulso da legenda no último domingo (24).
Sobre as estratégias do PP, o senador Ciro Nogueira (PI), presidente da sigla, não quis estabelecer números, mas disse trabalhar para que o partido termine a campanha com o maior número de prefeituras do país.
Em 2020, o Progressistas saiu das eleições com um saldo de 700 prefeitos eleitos, e hoje, após as migrações entre partidos, tem 752 gestores municipais.
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