Mesmo em tempos de rejeição e descrédito com a política, os partidos ampliaram suas receitas com doações de cidadãos brasileiros, especialmente de grandes empresários. Além dos R$ 889 milhões que as legendas receberam do Fundo Partidário (verba pública) em 2018, os doadores individuais repassaram R$ 106 milhões para as 35 siglas registradas no país. A quantia 19% superior aos R$ 89 milhões doados em 2017, segundo dados da Justiça Eleitoral. O dinheiro não foi destinado diretamente a campanhas eleitorais, mas sim para financiar as atividades partidárias.
Desde 2016, os partidos estão proibidos pelo Supremo Tribunal Federal (STF) de receber recursos de empresas para financiar campanhas e seu funcionamento. Empresários, porém, continuam autorizados por lei a doar como pessoa física. Em princípio, não há limites legais para contribuições de pessoa física. Mas as legendas só podem transferir para campanhas eleitorais o equivalente a 10% dos rendimentos brutos de cada doador.
Quem são os grandes doadores dos partidos
Entre os maiores financiadores de partidos, há nomes do mercado financeiro, ruralistas e empresários dos ramos de energia, saúde, educação e confecções – alguns com experiência em cargos públicos. A lista dos dez maiores arrecadadores inclui siglas de centro e de esquerda.
O maior doador para partidos no ano passado, com R$ 1,5 milhão repassados a duas siglas, foi Henrique Meirelles – atual secretário de Fazenda do estado de São Paulo, ex-ministro da Fazenda e ex-presidente do Banco Central. Com uma fortuna declarada de R$ 377 milhões, Meirelles doou R$ 900 mil para o MDB, seu partido, e R$ 600 mil para o PSD, ao qual era filiado anteriormente. Meirelles disputou a eleição presidencial de 2018, bancou a própria campanha com R$ 57 milhões e terminou na sétima colocação (1,2 milhão de votos). Antes de ingressar na vida pública, Meirelles foi presidente do Bank Boston, uma das maiores instituições financeiras dos EUA.
O empresário Rubens Ometto – controlador da Cosan, um dos maiores empresas do Brasil, com negócios nas áreas de energia, logística e infraestrutura – doou R$ 1 milhão para partidos que vão da direita à centro-esquerda. O DEM recebeu R$ 500 mil. Ao PSB e PDT ele repassou, respectivamente, R$ 450 mil e R$ 50 mil. "As doações foram realizadas em caráter pessoal e seguiram as regras estabelecidas", diz Ometto.
Flávio Rocha, dono da rede de lojas Riachuelo, também doou R$ 1 milhão no ano passado a partidos políticos. A verba foi dividida: R$ 570 mil ao Podemos e R$ 430 mil ao Republicanos (ex-PRB). Rocha afirmou que a recompensa dos partidos aos doadores é promover uma "renovação política". Rocha é um dos líderes do grupo de empresários Brasil 200, que busca promover uma renovação na política. No ano passado, o dono da Riachuelo chegou a lançar a pré-candidatura à Presidência pelo PRB, mas desistiu de concorrer. "Devemos participar do processo eleitoral, fortalecer os partidos e a democracia", afirma.
O empresário Rafael Sportelli, da Aethra, indústria produtora e exportadora de autopeças de Contagem (MG), repassou R$ 950 mil ao partido Novo no ano passado.
Já o CEO da locadora de veículos Localiza, Eugênio Pacelli Mattar, contribuiu pessoalmente com R$ 930 mil para o Novo. Ele é irmão do secretário especial de Desestatização e Desinvestimento do governo de Jair Bolsonaro, Salim Mattar.
Embora simpatizantes, tanto Mattar quanto Sportelli não são filiados ao Novo. O executivo da Localiza diz que as contribuições estão desvinculadas de suas atividades empresariais: "Representa o apoio cidadão a causas consideradas relevantes".
Herdeiros de bancos concentraram 66% do dinheiro doado à Rede, o partido comandado pela ex-ministra Marina Silva. As principais doadoras da Rede foram as irmãs Elisa e Beatriz Sawaya Botelho Bracher, com R$ 840 mil, e Neca Setubal, com R$ 322 mil. As três são de famílias de acionistas do banco Itaú.
A Rede também recebeu R$ 849 mil de sócias da holding Paraguaçu Participações: Daniela Maria, Gisela Maria e Mariana Moreau.
O empresário Wilson Picler, dono do grupo educacional Uninter, de Curitiba (PR), doou R$ 800 mil em 2018 para o PSL – partido do presidente Jair Bolsonaro. Picler é ex-deputado federal pelo PDT, partido de oposição ao governo Bolsonaro. "Eu, como político, acreditei neste projeto [de Bolsonaro], que está fazendo as reformas necessárias à nossa economia", diz Picler. Segundo ele, a doação foi uma iniciativa própria dele, que procurou o partido manifestando interesse em contribuir com o PSL. O empresário ainda afirma que seu objetivo era apoiar a estruturação do PSL no Paraná e ajudar na candidatura da sigla ao Senado.
Até mesmo o PT teve um grande doador individual: o empresário José Ricardo Rezek, do grupo Rezek – que atua no agronegócio, no mercado imobiliário e no setor de tecnologia. Ele doou R$ 200 mil aos petistas em 2018.
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