Líder do Centrão, Arthur Lira (PP-AL) é o candidato do Palácio do Planalto contra Baleia Rossi (MDB-SP)| Foto: Câmara dos Deputados
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O governo federal está confiante na vitória do líder do Centrão, Arthur Lira (PP-AL), na disputa pela presidência da Câmara. O motivo de tanto otimismo é a divisão interna de partidos que apoiam a candidatura de Baleia Rossi (MDB-SP), o deputado apoiado pelo presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ). A Gazeta do Povo ouviu interlocutores do Palácio do Planalto e do próprio candidato sobre a contagem de votos e a expectativa de ambos os lados é alta.

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O bloco que apoia Rossi tem 11 partidos: PT, PSL, MDB, PSDB, PSB, DEM, PDT, PCdoB, Cidadania, PV e Rede. Juntas, essas legendas contabilizam 280 votos. O problema é que o presidenciável emedebista não contará com todo esse apoio. É isso que nutre o otimismo de governistas. Afinal, só PSL, DEM e PSDB já entregariam 55 votos a Lira, calculam interlocutores do Planalto e do líder do Centrão.

A conta leva em consideração a já conhecida divisão interna do PSL. Dos 53 deputados do partido, Lira e o governo contam com 25 votos dos chamados deputados “bolsonaristas”. Aí, enquadram-se até mesmo os votos de parlamentares suspensos, pois, segundo o Regimento Interno da Câmara dos Deputados, a suspensão de um congressista não limita sua atuação legislativa na eleição presidencial.

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Outros 30 votos viriam de DEM e PSDB. Como mostrou a Gazeta do Povo, um movimento interno costurado pelo deputado Elmar Nascimento (DEM-BA) promete angariar pelo menos 14 votos. Os outros 16 viriam do PSDB. A adesão ao bloco de Rossi não foi consensual dentro de ambos os partidos — historicamente coirmãos na política nacional.

Com os votos de dissidentes de PSL, DEM e PSDB, Lira pode chegar a 260 votos, o suficiente para vencer a disputa ainda em primeiro turno. O mínimo necessário são 257. Essa margem, contudo, é muito apertada. Afinal, para se chegar a esse apoio, seria necessário assegurar os 55 votos de tucanos, demistas e pesselistas, além de todos os 205 votos de PL, PP, PSD, Republicanos, Solidariedade, PTB, Pros, PSC, Avante e Patriota. Um voto a menos na conta já muda a contabilidade.

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PDT e PSB na mira: Lira tenta rachar a esquerda

A conta do governo, entretanto, não fecha nos 260 votos. Lira conta com mais cartas na manga para vencer a disputa: os dissidentes do PDT e PSB. A Veja publicou que 15 pessebistas estão em “conflito ou insatisfeitos com o partido”. A informação, que cita os deputados Rodrigo Coelho (SC), Jefferson Campos (SP) e Emidinho Madeira (MG), foi confirmada pela Gazeta do Povo. “E tem, ainda, meio PDT”, ressalta Lira a aliados. Ou seja, o líder do Centrão aposta em ter até 14 votos de pedetistas.

O PDT e o PSB são dois partidos que se dividiram na votação da reforma da Previdência. Na ocasião, a cúpula pedetista instaurou processo disciplinar contra oito deputados federais. Já a Executiva Nacional pessebista puniu nove parlamentares da Câmara. Na eleição para a presidência da Câmara, que é por voto secreto, Lira acredita que contará com parte desses deputados punidos na ocasião e outros, chegando assim a 29 votos.

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Com os 29 votos dos dissidentes da esquerda — número que Lira acredita poder ampliar —, a candidatura governista chegaria a 289 votos. O número, entretanto, pode ser maior. O líder do Centrão mantém um diálogo próximo com a presidente nacional do Podemos, a deputada federal Renata Abreu (SP), e, por isso, conta com os 10 votos dos parlamentares do partido. Assim, sua campanha chegaria a 299 votos. “E ainda teremos mais. Vamos passar dos 300”, diz, confiante, um interlocutor de Lira.

Governo atua como fiador para fidelizar votos

A contabilidade de votos, por ora, é claramente feita de forma superficial. O aprofundamento do total de apoio esperado vem sendo trabalhado nos últimos dias e será intensificado na próxima semana. Ou seja, Lira mantém diálogo com líderes partidários e lideranças parlamentares para contabilizar o “voto a voto”, “nome a nome”, riscar os nomes com quem pode contar, quem não pode contar, e quem é indeciso.

O governo atua junto no processo de articulação. Menos na contagem do “voto a voto” e mais como um fiador. Segundo publicação do O Globo, a articulação política do Palácio do Planalto trabalha com um mapa de 500 cargos federais a serem preenchidos em troca de votos para Lira. Ainda de acordo com o jornal, o próprio líder do Centrão trabalha para dar forma a esse mapa em um toma-lá-da-cá no mínimo questionável.

A informação foi confirmada pela Gazeta do Povo, mas deputados próximos de Lira dizem que há mais do que 500 cargos. Uma contagem superior a essa virá da reforma ministerial que o governo promoverá, como informou a reportagem anteriormente. “A reforma ministerial vai acontecer”, afirma um interlocutor do governo, sem bancar, contudo, quando ela ocorrerá. “É cedo para assegurar se as mudanças acontecerão antes da eleição da Câmara. Mas estão sendo alinhavadas”, acrescenta.

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Aliados trabalham para garantir os votos

O entorno político de Baleia Rossi faz pouco caso da contagem de votos de Lira. Interlocutores do MDB desdenham da atuação do governo como fiador, negam a divisão interna de DEM, PSDB, PSB e PDT e afirmam que o Planalto nem sequer tem cumprido com a palavra no pagamento de emendas parlamentares. Citam R$ 3 milhões de emendas não liberadas no Ministério da Saúde e outros R$ 3 milhões não pagos no Ministério do Desenvolvimento Regional, para a irrigação das bases de congressistas.

Aliados de Lira, no entanto, rebatem os opositores. “Querem ganhar no grito”, critica um deputado. Interlocutores do líder do Centrão asseguram que está pacificado o racha interno em partidos como DEM e PSDB e bancam que, para provar a divisão, alguns parlamentares começarão a fazer campanha pública por Lira. Alguns até dão exemplos de como as articulações pela vitória do candidato governista estão avançadas.

O deputado Elmar Nascimento, exemplificam, voltou para sua base na última semana após se recuperar da Covid-19. Na Bahia, ele comanda as articulações com a bancada baiana para contribuir com a eleição de Lira. É pelo esforço dele que o deputado Alex Santana (PDT-BA), por exemplo, sinaliza apoio a Lira. Mas os parlamentares baianos não são os únicos com quem Nascimento dialoga. Os deputados Juscelino Filho (DEM-MA) e Luis Miranda (DEM-DF) viajaram a Salvador neste domingo (27) para uma reunião com o demista.