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Sem 'caneladas'

Velha política? Como MDB, Centrão e tucanos reagiram aos encontros com Bolsonaro

O presidente Jair Bolsonaro durante audiência com Onyx Lorenzoni, ministro-chefe da Casa Civil da Presidência da República; Ronaldo Caiado, governador de Goiás, e ACM Neto, prefeito de Salvador e presidente do DEM. Foto: Marcos Corrêa/PR
O presidente Jair Bolsonaro recebeu em audiência dirigentes do DEM: Onyx Lorenzoni, ministro-chefe da Casa Civil; Ronaldo Caiado, governador de Goiás, e ACM Neto, prefeito de Salvador e presidente do DEM. Foto: Marcos Corrêa/PR (Foto: Marcos Correa)

Em busca de apoio para formar uma base aliada no Congresso, o presidente Jair Bolsonaro se reuniu nesta quinta-feira (4) com lideranças de alguns dos maiores partidos do Brasil. Foram encontros separados com os presidentes do DEM, PSDB, MDB, PP, PSD e PRB.

Pelo Twitter, Bolsonaro disse que "tudo ocorreu em alto nível" e "nada se falou sobre cargos" nas reuniões com os partidos. Para ele, as primeiras conversas demonstram que Executivo e Legislativo estão unidos em busca da aprovação da reforma da Previdência.

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O ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, avaliou como positivo o dia de encontros de Bolsonaro e afirmou que o presidente se desculpou por "caneladas" com líderes de partidos.

"Todos concordaram que é momento de passar por cima das nossas diferenças, passar por cima do que aconteceu durante o período eleitoral. O presidente, com a sua humildade, se desculpou por uma canelada aqui e acolá. E a gente vai conseguir uma coisa que é muito importante, unir todos que são verde e amarelo a favor do Brasil", declarou Onyx a jornalistas.

Juntas, as legendas que se reuniram com Bolsonaro nesta quinta têm 196 deputados dos 513, sendo 308 necessários para aprovar reformas constitucionais, como a da Previdência. Os senadores são 43 de um total de 81, sendo que 49 aprovam uma PEC.

Na terça e quarta-feira que vem, Bolsonaro fará uma nova rodada de encontros com dirigentes do PSL, PR, PROS, Podemos e Solidariedade. Veja o que os dirigentes partidários disseram ao fim das reuniões no Palácio do Planalto nesta quinta:

'MDB não quer ser base, quer ter uma agenda', diz MDB

O presidente do MDB, Romero Jucá, admitiu que é preciso construir uma "nova modelagem na relação política", pois a antiga foi "vencida pelas urnas". Jucá não conseguiu se reeleger como senador na última eleição, após três mandatos consecutivos. O emedebista deixou claro que o partido não quer fazer parte da base aliada do governo e não garantiu apoio irrestrito à reforma da Previdência.

Apesar do discurso sobre a nova forma de atuação, Jucá rebateu críticas de Bolsonaro em relação ao que chama de "velha política" e defendeu o diálogo entre o governo, os partidos e parlamentares. Segundo o emedebista, "Bolsonaro acabou concordando que o que vale é a boa política". "Não existe nova ou velha política, existe política", defendeu Jucá durante coletiva de imprensa.

Jucá reforçou que o MDB não tem interesse em integrar formalmente a base aliada do governo e não está em busca de cargos em ministérios, mas quer propor uma agenda "econômica e social" ao governo. "Ser ou não ser da base é uma questão passada, discussão agora é temática", disse. "O MDB não quer ser base, quer ter uma agenda", reiterou.

O ex-senador elogiou Bolsonaro por chamar os dirigentes partidários para conversar e disse que ele foi "simpático". O gesto, na visão dele, "mostra uma mão estendida e um desprendimento".

Sobre a reforma da Previdência, Jucá lembrou que há restrições a um eventual apoio. "Sou favorável à reforma, mas questões específicas precisam ser discutidas." Os emedebistas são contra as mudanças no Benefício de Prestação Continuada (BPC), que é pago para idosos e deficientes de baixa renda, e alterações propostas na aposentadoria rural.

Jucá fez ponderações ainda sobre trechos da proposta que tratam do modelo de capitalização. Para Jucá, o modelo apresentado precisa ser discutido porque "não está claro e não está ajustado".

PSD não fechará questão a favor da reforma da Previdência

O ex-ministro Gilberto Kassab, dirigente nacional do PSD, afirmou que Bolsonaro não ofereceu cargos e espaço no governo em troca de apoio à reforma da Previdência. "Seria até uma agressão isso", rechaçou.

"O partido tem uma posição muito clara em relação à sua independência em relação ao governo e essa posição continuará", disse Kassab na saída, afirmando que não houve convite formal para que o partido integre a base aliada nem para que feche questão a favor da reforma.

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“O presidente pediu apoio para as reformas e nós sabemos que elas são importantes para o país. Existe o engajamento do partido, mas ficou claro que o partido não fechará questão", completou. Kassab afirmou que é tradição do PSD preservar a independência de seus congressistas.

O dirigente disse que é preciso dialogar, mesmo depois de Bolsonaro ter dito na campanha de 2018 que o Centrão é ‘a nata do que há de pior no Brasil’. "Na vida pública, aqueles que levarem em consideração tudo o que é falado em campanha acabam ficando sozinhos", respondeu.

Presente na reunião, o líder do PSD no Senado, Otto Alencar (BA), relatou ter defendido a Bolsonaro que o quadro econômico não pode ser prejudicado por "questões de ordem ideológica", como a discussão sobre a ditadura militar e a definição do nazismo. "Não pode ficar discutindo apenas questões de direita e de esquerda. Isso não produz nada para o Brasil", disse.

No encontro, o senador disse ainda que é negativo para o Palácio do Planalto adotar uma postura de beligerância com o Poder Legislativo. "É necessário desemperrar projetos dos setores elétrico e de telecomunicações, temas que não têm nenhum viés político ou ideológico", afirmou.

Segundo ele, Bolsonaro disse que, após a aprovação da reforma previdenciária, apresentará uma proposta de simplificação do sistema tributário.

DEM deixa reunião animado e cogita aderir à base aliada

O presidente nacional do DEM e prefeito de Salvador, ACM Neto, afirmou que o partido pode aderir à futura base aliada do governo federal. Segundo ele, o partido, que detém três pastas na Esplanada dos Ministérios, deve tratar do assunto com "absoluta naturalidade".

"Ser base, formalmente ou não, é algo que pode ocorrer com absoluta naturalidade e que vai acontecer no momento em que houver uma deliberação da executiva do partido", afirmou.

O dirigente da legenda disse que as conversas sobre uma eventual adesão vão "avançar naturalmente", uma vez que o partido prega um "ambiente positivo e construtivo na relação com o presidente".

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Presente no encontro com Bolsonaro, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, disse ser favorável a uma adesão da sigla à base aliada. "Não há nenhum obstáculo [para a adesão], mas para tudo tem uma regra. O que se está fazendo hoje é ouvir os dirigentes do partido, que posteriormente vão consultar as suas executivas nacionais", disse.

Nos bastidores, integrantes da sigla avaliam que uma adesão deve enfrentar resistência por parte do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que protagonizou um desentendimento público com Bolsonaro.

Para arrefecer os ânimos, a cúpula do partido tem costurado um encontro entre ambos para a próxima semana. Por enquanto, no entanto, Maia tem recusado uma aproximação neste momento com o Palácio do Planalto e prefere que um encontro ocorra mais para frente.

"Maia é um homem de espírito público e que quer ajudar o país. Ontem, já disse que, sempre que convocado pelo presidente, vai conversar. São duas pessoas maduras e responsáveis. E eu sempre vou defender o diálogo entre os presidentes", disse ACM Neto.

O presidente nacional do DEM também não descartou a possibilidade do partido fechar questão em torno da reforma previdenciária. A bancada federal da legenda é composta por 27 deputados federais e por 6 senadores.

"A decisão tem relação com o texto que for votado no plenário da Câmara dos Deputados. É possível que o texto enviado pelo governo federal sofra alterações. Se o texto tiver o apoio majoritário do partido, podemos avançar para propor o fechamento de questão", disse.

Boa política não envelhece, diz PSDB

Seu adversário na campanha de 2018, o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB) rebateu o discurso contra a velha política feito pelo presidente Bolsonaro, após encontro entre os dois nesta quinta-feira. "Não existe nova e velha, existe boa e má política. A boa política não envelhece", afirmou Alckmin, presidente nacional do PSDB.

O tucano afirmou que o PSDB manterá sua posição de independência em relação ao governo, "não há nenhum tipo de troca, não participaremos do governo, não aceitamos cargo do governo, e votamos com o Brasil".

Depois de seguidas declarações de Bolsonaro associando negociações com o Congresso a corrupção e seu embate com o presidente da Câmara, Alckmin defendeu o diálogo. "Quanto mais a gente ouve, menos a gente erra. Política não é troca-troca, é o diálogo", disse.

Ele citou Ulysses Guimarães, que presidiu a Câmara e liderou a campanha pela redemocratização no fim da ditadura militar (1964-1985). "Saber ouvir é uma grande virtude. Dr. Ulysses, que era um estadista, dizia que o homem tem dois ouvidos e uma boca para ouvir mais do que fala", lembrou.

Alckmin e Bolsonaro tiveram embates públicos durante a campanha. Mas na reunião nesta quinta, "a conversa foi boa", segundo o tucano. "O presidente me cumprimentou falando, 'olha, votei em você nas últimas eleições'", afirmou. "Dr. Ulysses lembrava, não se guarda ressentimentos na geladeira."

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O presidente do PSDB defendeu a aprovação da reforma da Previdência, mas fez ressalvas ao texto apresentado pelo governo. "O importante na reforma é idade mínima e tempo de transição. A reforma é muito complexa, muito detalhista, muito longa", comentou. "Nós não aprovaremos nenhum benefício menor que um salário mínimo. O BPC nós somos contra, como também a questão rural. Se há diferença de idade na área urbana, por que não há na área rural", questionou.

O texto prevê que homens e mulheres se aposentem aos 60 anos no campo e 65 e 62, respectivamente, na cidade. "A reforma da Previdência precisa ser centrada em dois objetivos. O primeiro é justiça social. Não é possível permitir privilégios e é preciso proteger aqueles que mais precisam", afirmou Alckmin.

O segundo objetivo é de natureza fiscal, para aliviar as contas públicas, afirmou o tucano. "Não é possível ter mais de 5% do PIB de déficit somando o regime geral da Previdência e os regimes próprios dos governos", disse Alckmin.

O PSDB não vetará que seus quadros relatem a reforma ao longo da tramitação no Congresso, segundo o presidente do partido.

Silêncio no PP e no PRB

Os presidentes do PP, senador Ciro Nogueira (PI), e do PRB Marcos Pereira não deram entrevistas no Planalto após o encontro com o presidente.

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