O ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que o atual sistema previdenciário é insustentável devido a quatro 'bombas': pirâmide demográfica invertida, alto custo dos encargos trabalhistas, ausência de aplicação da contribuição ao longo do tempo e manutenção de privilégios.
O ministro defendeu a reforma do sistema atual, proposta pelo governo ao Congresso, e pediu que os parlamentares mantenham a economia de R$ 1 trilhão para que o governo possa lançar um novo regime, de capitalização, em que o trabalhador vai recolher para uma aposentadoria individual.
“Gastamos dez vezes mais com a Previdência do que com a educação”, afirmou o ministro em audiência nesta quarta-feira (3) na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados. “A Previdência no formato atual já está condenada. Independentemente de quem esteve ou está [no governo], esse problema está se impondo. Não importa a coloração [do partido]”, completou.
Pirâmide demográfica
Guedes explicou que o sistema atual é insustentável pois carrega quatro bombas. A primeira é a pirâmide demográfica. Pelo sistema previdenciário atual, chamado de repartição, os trabalhadores da ativa recolhem para bancar as atuais aposentadorias. Só que o número de aposentados está crescendo, e o número de trabalhadores se reduzindo, o que leva há um déficit: o que é arrecadado é insuficiente para bancar as aposentadorias. E o Tesouro precisa aportar dinheiro no sistema, aumentando o déficit público.
“A pirâmide demográfica vai virando um losango e, com o tempo, desaba”, exemplificou o ministro. Ele disse que isso já aconteceu na Grécia e em Portugal e, mais recentemente, no estado do Rio de Janeiro. “O sistema está condenado por uma bomba demográfica.”
Altos custos trabalhistas
A segunda bomba do sistema seria, segundo o ministro, os altos custos trabalhistas, ou seja, tudo o que as empresas precisam recolher para a Previdência. “Você cobrar encargos trabalhistas sobre a folha de pagamentos é do ponto de vista social uma condenação. É um sistema perverso.”
O ministro diz que 40 milhões de brasileiros foram expulsos do mercado de trabalho, ou seja, não conseguem emprego porque há altos encargos. “Eles não conseguem contribuir, mas vão se aposentar e pesar no futuro da Previdência”, explicou.
Ausência de juros compostos
A terceira bomba seria a ausência de aplicação da contribuição ao longo do tempo. Como as contribuições atuais bancam as aposentadorias atuais, os trabalhadores não formam uma poupança previdenciária e o governo não consegue aplicar esses recursos para ganhar com juros.
“A Previdência promete recursos crescentes, mas não leva nada para o futuro”, disse Guedes, que defende que o trabalhador faça uma poupança previdenciária e que o dinheiro seja aplicado para render com juros compostos. “Todo mundo sabe a maravilha que são os juros compostos."
Para atacar essa frente, o governo pretende justamente lançar o sistema de capitalização, em que o trabalhador vai recolher para uma conta individual sua. O novo sistema, porém, será opcional e só valerá para quem ainda vai entrar no mercado de trabalho. A proposta de reforma da Previdência enviada ao Congresso prevê a criação do regime, mas deixa para lei complementar detalhar o funcionamento.
Privilégios
A última bomba seriam os benefícios e privilégios do atual sistema previdenciário. “Aposentadoria média no legislativo é 20 vezes a aposentadoria média do INSS [iniciativa privada]. No INSS, o trabalhador recebe R$ 1,3 mil, R$ 1,4 mil. Aqui, no Legislativo, a média é R$ 20 mil”, afirmou o ministro a uma sessão com 66 parlamentares.
Sem R$ 1 trilhão, sem capitalização
O ministro voltou a dizer que, se o Congresso desidratar a proposta e a economia esperada com a reforma cair para menos de R$ 1 trilhão, não será possível lançar o novo sistema previdenciário, de capitalização.
"Estamos abrindo uma porta para um regime de capitalização. Se aprovar algo [uma reforma da Previdência] que não tenha potência fiscal, não existirá esse regime", afirmou o ministro ao ser questionado por parlamentares sobre mais detalhes do novo sistema.
A reforma enviada pelo governo ao Congresso prevê a criação de um sistema de capitalização, mas deixa as regras a serem estabelecidas em lei complementar. Com isso, se a reforma for aprovado, o governo enviará um projeto de lei complementar com as regras da capitalização.
Sobre o novo regime, o ministro detalhou que ele será opcional e para quem ainda vai entrar no mercado de trabalho. E que ninguém vai receber menos de um salário mínimo, já que esse parâmetro está previsto na PEC.
O ministro sugeriu o novo sistema pode ser associado a alíquotas negativas de Imposto de Renda para pessoas carentes. "Vai ter imposto de renda negativo para quem ganha menos”, disse, sem entrar em mais detalhes.
Questionado se o novo regime terá recolhimento de empregador, o ministro respondeu que, por ele, no início, não haveria encargos trabalhistas. A ideia seria estimular a criação de empregos. Mas ressaltou que os detalhes serão definidos depois, em conjunto com o Congresso, se a reforma for aprovada com potência fiscal.
Audiência com clima tenso
A audiência na CCJ começou com clima tenso. Deputados da oposição fizeram fila uma hora antes de começar a sessão, marcada para as 14 horas, para conseguir se inscrever primeiro e falar no início.
Com isso, teceram críticas às mudanças propostas pelo governo na aposentadoria rural e no Benefício de Prestação Continuada (BPC). Também criticaram o regime de capitalização.
Moraes eleva confusão de papéis ao ápice em investigação sobre suposto golpe
Indiciamento de Bolsonaro é novo teste para a democracia
Países da Europa estão se preparando para lidar com eventual avanço de Putin sobre o continente
Em rota contra Musk, Lula amplia laços com a China e fecha acordo com concorrente da Starlink
Triângulo Mineiro investe na prospecção de talentos para impulsionar polo de inovação
Investimentos no Vale do Lítio estimulam economia da região mais pobre de Minas Gerais
Conheça o município paranaense que impulsiona a produção de mel no Brasil
Decisões de Toffoli sobre Odebrecht duram meses sem previsão de julgamento no STF