Ex-governador do Espírito Santo, Paulo Hartung.| Foto: Marcos Corrêa/PR

Enquanto o presidente Jair Bolsonaro (PSL) já sinalizou que pretende disputar a reeleição e o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), tenta se reposicionar para atrair o eleitorado de centro-direita que não se reconhece no bolsonarismo, as forças políticas de centro continuam em busca de um nome forte para concorrer ao Planalto em 2022.

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O nome de Luciano Huck continua à mesa como uma das principais alternativas, mas o apresentador de TV ainda não confirmou se concorrerá à sucessão de Bolsonaro. Na Câmara, o núcleo duro do Centrão é formado por DEM, PP, PL, Solidariedade e Avante. O presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), é o grande articulador desse movimento que defende uma agenda liberal com um lastro social.

Nesse cenário tem despontado nas últimas semanas o nome de Paulo Hartung, 62 anos, economista e ex-governador do Espírito Santo, atualmente sem partido. “Ele é o meu mestre Miyagi”, disse em agosto Luciano Huck sobre Hartung, fazendo referência ao professor de artes marciais da série Karatê Kid, dos anos 1980.

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Ex-deputado federal, senador e três vezes governador, Hartung é conselheiro do RenovaBR e do Agora!, grupos de renovação política apoiados por Huck. No ano passado, ele foi um dos principais articuladores para lançar a candidatura do apresentador. Hartung chegou a ser cotado como vice numa possível chapa.

Quem apresentou Huck a Hartung foi Arminio Fraga, ex-presidente do Banco Central. “No núcleo duro de discussão de projeto de país, você precisa ter o Paulo Hartung na mesa”, afirmou o apresentador em entrevista à Piauí.

O economista Marcos Lisboa, ex-secretário de Política Econômica de Antonio Palocci quando o petista era ministro da Fazenda, no primeiro mandato de Lula, o define como “o melhor gestor público que tem”, “a melhor liderança política” do país.

Descrito como extremamente reservado, sério e que se leva a sério, Hartung ganhou fama de imprevisível entre os aliados e de político que não cumpre acordos. “Não é que eu não cumpra acordo, é que eu sou ruim de fazer acordo; quando fizer, eu cumpro”, se defendeu na Piauí.

Sua carreira foi marcada por oscilações no espectro político. Militante do Partido Comunista Brasileiro (PCB) quando era estudante universitário, Hartung se filiou na década de 1980 ao PMDB, em seguida ajudou a fundar o PSDB no Espírito Santo, teve uma breve passagem pelo PSB e por fim retornou ao PMDB.

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Recentemente disse ser a favor da inclusão de estados e municípios na reforma da Previdência e da redução da jornada dos servidores de 8 para 6 horas. Graças aos vencimentos proporcionalmente menores, “em apenas um ou dois anos, poderiam voltar à normalidade e gerar poupança”, escreveu em artigo na Folha de S. Paulo.

Sua figura é associada aos programas de austeridade e seus governos foram marcados pelo ajuste fiscal. No primeiro dia de seu último mandato anunciou o congelamento dos salários dos servidores. Ao longo da legislatura, ele cortou os gastos em 14%, incluindo legislativo e Judiciário, peitou os sindicatos e eliminou mais de 7 mil cargos, cerca de 12% do total.

Quando os policiais militares entraram em greve, em fevereiro de 2017, pedindo aumentos salariais e melhores condições de trabalho, o governador recusou a ceder ao que ele chamou de “chantagem”. A paralisação foi encerrada após 20 dias quando o governo anunciou um plano de reestruturação da PM, que não contemplava aumentos salariais nem novos concursos. No período, o estado registrou mais de 200 mortes.

A austera gestão de Hartung foi destaque no semanal britânico The Economist. Em reportagem publicada em agosto, o governo do Espirito Santo é definido “modelo de eficiência” que “tem conseguido não se endividar”, diferente do que aconteceu na maior parte do Brasil.

A atuação na área de educação é celebrada por especialistas. Entre 2013 e 2017, o Espírito Santo foi o estado que mais avançou no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), que mede as taxas de aprovação e o desempenho dos alunos do ensino médio.

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No meio da recente crise das queimadas, Hartung defendeu que o Brasil exerça soberania sobre a Amazônia por meio de um modelo de desenvolvimento sustentável. “É dar garantia para que esse patrimônio siga como um verdadeiro ativo, gerando desenvolvimento para os seus povos ao mesmo tempo em que se investe no uso sustentável das riquezas renováveis”, escreveu em artigo no site Poder 360.

Atualmente, Hartung é presidente executivo da Indústria Brasileira de Árvores (Ibá), integra o movimento Todos Pela Educação, compõe os conselhos consultivos de Educação do Estado de São Paulo, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e do Centro Brasileiro de Relações Exteriores (Cebri), além de conselheiro da Unimed Participações.

Biografia de Paulo Hartung

Nascido em Guaçuí, na divisa com Minas Gerais, em 1957, Hartung é formado em Economia pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Iniciou a vida política no movimento estudantil e foi eleito primeiro presidente do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da universidade.

O sobrenome alemão é originário de uma família do Rio Grande do Sul que emigrou para Minas e em seguida se estabeleceu no Espírito Santo. O pai, comerciante bem sucedido, era simpatizante do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e Paulo militou no partido, então na clandestinidade.

Em 1979, Hartung participou da reestruturação da União Nacional dos Estudantes (UNE) e se mobilizou para organizar o Congresso da entidade, realizado em Salvador.

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Em 1982, aos 25 anos, se elegeu deputado estadual do Espírito Santo pelo PMDB e se reelegeu em 1986. Em 1988 deixou o PMDB e se tornou um dos fundadores do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) no Espírito Santo.

Em 1990 foi eleito deputado federal e se tornou vice-líder do PSDB na Câmara, mas renunciou ao mandato para assumir a Prefeitura de Vitória entre 1993 e 1996. Ocupou também o cargo de diretor de desenvolvimento regional e social do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Eleito senador em 1998, abandonou o PSDB e se transferiu para o Partido Socialista Brasileiro (PSB), legenda pela qual se elegeu governador do Espírito Santo em 2002, ainda no primeiro turno.

Em novembro de 2005 voltou a se filiar ao PMDB e se reelegeu ao governo do estado. Em 2010, fez de Renato Casagrande (PSB) seu sucessor com 82% dos votos. Em 2014 concorreu novamente ao governo derrotando Casagrande no primeiro turno.

Durante o mandato sobreviveu a um pedido de impeachment movido por representantes da sociedade civil e líderes sindicais que o acusavam de supostos crimes fiscais. Em 2018 resolveu não concorrer para o quarto mandato. É casado com Cristina Maria Soares Gomes com quem teve dois filhos.

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