Lideranças de PT e PDT prosseguem trocando farpas em público, como têm ocorrido desde a eleição do ano passado. A disparada mais recente foi do presidenciável pedetista Ciro Gomes, que chamou o ex-prefeito Fernando Haddad (PT) de “farsa” e acusou o PT de corrupção, em entrevista à BBC. A alta voltagem, entretanto, não impede que as duas siglas mostrem afinidade no Congresso Nacional.
O tom entre as legendas é um misto de aproximação e críticas. Via de regra, há aproximação quando o assunto é a oposição ao governo de Jair Bolsonaro (PSL), e distanciamento quando o debate vai para questões eleitorais – principalmente quando o nome em foco é o de Ciro Gomes, que já se posicionou publicamente como candidato a presidente em 2022 pelo PDT.
“A esquerda não começou com o PT”
O deputado Wolney Queiroz (PDT-PE) acredita que o cenário atual não permite análises sobre a disputa de 2022. Mas ele é da opinião de que o PDT tem que se portar no Congresso Nacional “como um partido que ficou em terceiro lugar na eleição presidencial” – em 2018, Ciro Gomes recebeu mais de 13 milhões de votos e ficou atrás apenas de Bolsonaro e Haddad.
“Acho que o partido tem que se posicionar, apresentar sua visão de Brasil, sua visão de mundo, sua visão social. E esperar que o tempo passe para que a gente diga à sociedade quais são os caminhos que defendemos”, diz Queiroz.
Entre esses caminhos, segundo o deputado, há pontos de convergência entre o que defende o PT, como as ideias de fortalecimento do Estado na economia e, principalmente, a contestação à gestão Bolsonaro.
Na Câmara dos Deputados, por exemplo, o PDT foi um dos signatários, juntamente com o PT, do pedido de instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar possíveis abusos cometidos pela Operação Lava Jato, motivada pelas supostas conversas vazadas entre integrantes da força-tarefa. Já no Senado, o líder do partido, Weverton Rocha (MA), tem se somado aos petistas no combate à reforma da Previdência. O PDT também não endossa a ideia da criação de uma CPI para investigar o Poder Judiciário – a chamada “CPI da Lava Toga”, que também é rejeitada pelo PT.
Mas o deputado Wolney Queiroz avalia que o PT tem “viés hegemonista” e que “a proximidade excessiva como o PT aniquila a presença de qualquer outro partido”. “Os partidos precisam manter sua independência. A esquerda não começou com o PT”, ressaltou.
Também deputado federal, Afonso Motta (PDT-PE) aponta outra divergência entre petistas e pedetistas: a luta pela libertação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso desde abril de 2018. “Lula livre não é a causa do PDT. A causa do PDT é a defesa da democracia, do Estado Democrático de Direito, das nossas bandeiras”, disse.
Com base nisso, destaca Motta, o PDT tem se aproximado mais de outras forças de esquerda dentro do Congresso Nacional, como o PSB. O deputado relembrou a disputa ocorrida na Câmara no início do ano pela presidência da Casa, que rachou as legendas de esquerda: PDT, PSB e PCdoB optaram pelo apoio a Rodrigo Maia (DEM-RJ), por entenderem que assim poderiam ocupar cargos na mesa diretora, e PT e PSol decidiram pela apresentação de uma candidatura “para marcar posição”.
“Uma coisa é o PDT de Brizola, outra é o PDT de Ciro Gomes”
Do lado do PT, a postura simultânea de crítica e aproximação com o PDT também se repete.
O PT não esquece o que considera a falta de apoio de Ciro Gomes no segundo turno de 2018, quando Haddad enfrentou Bolsonaro. E o partido também não vê a possibilidade de abrir mão de ser cabeça de chapa em 2022 em nome de uma convergência das forças de esquerda. “Não existe a menor possibilidade de chegar em 22 e o PT não ter candidato a presidente”, diz o deputado Valmir Assunção (PT-BA).
Mas o deputado petista minimiza a força das opiniões de Ciro Gomes: “Não levamos em consideração [a fala de Ciro] porque ele disputou três eleições e não saiu do 11%. Então o discurso dele não chega no meio da sociedade brasileira”. Mas Assunção ameniza o tom para indicar o esboço de parceria que ainda existe entre as legendas no Congresso: “Uma coisa é o PDT de Brizola, outra é o PDT de Ciro Gomes”.
O partido viu como positivo o apoio dos pedetistas à CPI da Lava Jato, proposta que é uma das principais bandeiras do PT. E têm somado forças com o PDT na votação em oposição ao governo Bolsonaro. “O PDT aqui na Câmara é um aliado de primeira hora para derrotarmos Bolsonaro, para reafirmarmos uma política de esquerda”, declara o deputado Valmir Assunção (PT-BA).
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