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Nesta segunda-feira (29), o perfil oficial do governo federal ironizou a operação da Polícia Federal (PF) contra o filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ). O vereador foi alvo da operação por suspeita de ter recebido dados coletados ilegalmente pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin).
No meio da tarde, após algumas horas de repercussão do caso nas redes sociais, a página do governo federal no Instagram publicou o que seria uma orientação à população sobre a importância de receber os agentes comunitários de saúde.
No entanto, a mensagem diz, em tom ambíguo, para as pessoas não terem medo “quando os agentes comunitários baterem à sua porta”. A postagem é ilustrada com uma mão batendo em uma porta acompanhada do seguinte texto: “Toc, toc, toc…”.
Vários seguidores relacionaram a postagem à operação contra Carlos Bolsonaro e elogiaram a “ideia”. Os perfis do governo nas redes sociais são gerenciados pela Secretaria de Comunicação Social (Secom), comandada pelo ministro Paulo Pimenta.
Em seu perfil da rede social X, Pimenta disse que os críticos da publicação raciocinam "em uma linguagem analógica tradicional" e não entendem "o papel dos algoritmos nas janelas de oportunidades e fluxos".
"É como se tivesse um trem em alta velocidade passando. Se eu ficar na frente sou atropelado. Se eu embarco junto, viajo na velocidade do trem, e levo junto a minha mensagem. A mensagem principal é a dengue, o trem é a pauta do dia. É assim que funciona. O resto é especulação e tentativa de tirar o foco do que é central e relevante neste momento", escreveu o ministro.
Publicação fere o princípio da impessoalidade
Procurada pela Gazeta do Povo para comentar sobre o conteúdo da publicação, a presidente da Associação Nacional de Proteção da Advocacia e da Cidadania (Anpac), a advogada Isabela Bueno, disse que a postagem do governo fere o princípio da impessoalidade.
“O princípio da impessoalidade, previsto no artigo 37 da Constituição Federal, impede que agentes públicos usem de seus cargos e funções para seu próprio proveito e autopromoção. Quando o governo, por meio de sua página institucional, usa o espaço para debochar de adversários políticos que sofreram operações policiais oriundas da Polícia Federal, cria uma insegurança em relação à própria imparcialidade da operação, posto que o ministro da Justiça é o superior direto da PF”, afirmou a advogada.
“Além disso, o ataque é notoriamente político, visando desqualificar um adversário, fazendo uso politiqueiro de uma página institucional do governo e desviando a finalidade administrativa, que deve ter sempre como foco o interesse público”, completou Bueno.
Militantes e imprensa compartilharam fake news sobre a operação
Após a deflagração da operação da Polícia Federal (PF), membros do PT, PSOL e outros políticos rivais do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) compartilharam duas notícias falsas divulgadas por um veículo de imprensa.
O filho do ex-presidente foi alvo da operação por suspeita de ter recebido dados coletados ilegalmente pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Um dos locais das buscas foi o gabinete de Carlos Bolsonaro na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, onde foram apreendidos um computador e documentos.
A operação cumpriu, ainda, mandados em Angra dos Reis (RJ), onde a família Bolsonaro tem residência. O ex-presidente e familiares estavam passeando de barco pela manhã e voltaram à residência por volta das 11h30 para acompanhar o cumprimento dos mandados.
Ao noticiar o caso, a âncora do programa Conexão GloboNews, Daniela Lima, disse ter confirmado com uma fonte anônima da PF que teria sido apreendido um computador da Abin em poder de Carlos Bolsonaro.
Algumas horas depois de fazer diversas ilações contra o vereador pela suposta posse do equipamento, Daniela Lima reconheceu que a informação não foi confirmada oficialmente pela PF.
Na verdade, o equipamento da Abin teria sido apreendido na casa de um militar na Bahia e não com o vereador. O militar é casado com uma servidora da Abin e não têm vínculos com Carlos Bolsonaro.
Apesar de a informação ter sido desmentida no fim da manhã desta sexta-feira (29), a manchete publicada por Daniela em seu blog no G1, mesmo depois de alterada, permaneceu sugerindo, sem provas, uma ligação entre o equipamento apreendido e o vereador Carlos Bolsonaro. O reconhecimento do "erro" só veio por parte da emissora no fim da tarde.
A âncora da GloboNews também disse que o ex-presidente e os filhos deixaram o local de barco depois que a PF chegou. Logo depois de fazer a afirmação ao vivo, a jornalista pede para exibir imagens do local que mostram os agentes da PF saindo da casa da família com o ex-presidente e o vereador acompanhando a operação.
De acordo com o advogado e amigo da família, Fabio Wajngarten, o ex-presidente, seus filhos e amigos saíram para pescar às 5 horas da manhã, portanto, bem antes do início da operação da PF. A versão foi confirmada pelo ex-presidente Bolsonaro.
A primeira versão apresentada pela jornalista da GloboNews, no entanto, tem alimentado a militância esquerdista nas redes sociais.