O presidente Jair Bolsonaro (PSL) levou, para a sua primeira participação na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), uma representante dos povos indígenas. Trata-se de Ysani Kalapalo, jovem do Alto Xingu, no Mato Grosso, que se descreve como "a indígena do século 21" em seu perfil no Twitter.
Demonstrando proximidade com a convidada, Bolsonaro utilizou um colar indígena dado por Ysani na última segunda-feira (23), na saída do hotel que estava hospedado, em Nova York. O presidente também mencionou Ysani em seu discurso, dizendo que ela será, a partir de agora, uma liderança na questão indígena no país. "Acabou o monopólio do senhor Raoni", afirmou, em referência ao cacique que foi indicado para o prêmio Nobel da Paz de 2020.
Ysani Kalapalo: conservadora nos costumes e liberal na economia
No Twitter, a jovem também se define como uma indígena "tribal e urbana", já que divide a vida entre São Paulo e a aldeia Thuhungu, no parque do Xingu.
Dona de um canal no YouTube com 275 mil inscritos, Ysani é abertamente uma defensora do bolsonarismo. Em um de seus vídeos, ela explica seu posicionamento atribuindo a postura ao estudo sobre questões políticas.
"Eu sou obrigada a ser indígena de esquerda? Por que não posso ser de direita?", questiona. Ela descreve que começou a se envolver com política há onze anos, quando passou a conhecer lideranças e a "se informar mais".
"Antes, eu entendia muito pouco de política. Eu acreditava muito no que as pessoas falavam, naqueles que se diziam favoráveis aos índios", afirma.
Hoje, ela se define como "80% de direita", "conservadora nos costumes e liberal na economia" e uma "defensora dos valores da família".
Ysani também é próxima da ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves - a quem já defendeu publicamente em outra de suas produções para o YouTube.
Posicionamento alinhado ao governo em relação à Amazônia
Em outro vídeo, com mais de 345 mil visualizações, a indígena comenta uma das questões mais sensíveis ao governo neste primeiro ano de mandato: as queimadas na Amazônia. Segundo ela, o fogo que atinge a floresta - e que provocou uma crise diplomática envolvendo os governos brasileiro e francês - é um "acidente".
Ysani comenta que o fogo é utilizado pelas comunidades indígenas para limpar plantações e que, muitas vezes, as queimadas acabam se espalhando. Veja a íntegra:
Em outro vídeo, com quase 25 mil visualizações, a indígena faz uma defesa mais enfática do presidente, dizendo que as queimadas na Amazônia não são "culpa do governo Bolsonaro".
"Queimar roça faz parte da nossa cultura. Muitas vezes o pouco do fogo que resta pega, o vento leva. Quem fala que é por conta do governo Bolsonaro não sabe nada do nossa realidade", diz a moça. Assista:
O discurso alinhado ao do presidente também aparece em outros posts de Ysani nas redes sociais. Em uma publicação no Twitter, a indígena critica outros índios, classificados por ela como "esquerdistas", por estarem fazendo "baderna em Brasília".
ÍNDIOS esquerdistas fazendo baderna em Brasília. Enquanto isso ÍNDIOS de BEM estão em suas aldeias trabalhando e pescando ou caçando para alimentar sua família. Esses índios que estão em Brasília nesse exato momento só representam uma parcela de indígenas que nem eles. pic.twitter.com/uKs3wBzvC1
— Ysani Kalapalo (@ysanikalapalo) August 12, 2019
Indígenas fazem nota de repúdio à presença de Ysani Kalapalo
Um número significativo de povos indígenas, porém, parece não estar de acordo com os posicionamentos de Ysani. Em uma nota de repúdio, 16 povos do Xingu classificam a escolha dela para acompanhar o presidente na ONU como uma "ofensa" aos índios brasileiros.
"Desrespeita-se a autonomia própria das organizações dos povos indígenas de decisão e indicação de seus representantes em eventos nacionais e internacionais", diz o texto.