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Caso Queiroz

5 perguntas sem resposta sobre suposto vazamento de operação que interessava Flávio Bolsonaro

O ex-deputado estadual Flávio Bolsonaro e o assessor do seu gabinete Fabrício Queiroz: suspeita de “rachadinha” na Assembleia Legislativa do Rio.
O então deputado estadual Flávio Bolsonaro e o assessor do gabinete Fabrício Queiroz: suspeita de “rachadinha” na Assembleia Legislativa do Rio. (Foto: Reprodução Instagram)

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O empresário Paulo Marinho presta depoimento à Polícia Federal no Rio de Janeiro, nesta quarta-feira (20), no inquérito que apura a suspeita de interferência política do presidente Jair Bolsonaro na PF. Em entrevista publicado no domingo (17) na Folha de S. Paulo, o empresário afirmou que o senador Flávio Bolsonaro foi informado por um delegado da PF sobre a deflagração da Operação Furna da Onça e das suspeitas contra seu então assessor de gabinete, Fabrício Queiroz, na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. Marinho deve esclarecer em seu depoimento algumas pontas soltas sobre a denúncia.

Segundo Marinho, a PF decidiu deflagrar a operação envolvendo Queiroz após o segundo turno das eleições de 2018 para não prejudicar a campanha presidencial de Bolsonaro. O delegado informante também teria aconselhado Flávio a demitir Queiroz e a filha dele, que até então trabalhava no gabinete de Jair Bolsonaro, em Brasília.

Depois da entrevista de Marinho à Folha, a Procuradoria-Geral da República (PGR) pediu, no domingo (17), que o empresário preste depoimento no inquérito que investiga as denúncias do ex-ministro Sergio Moro de que o presidente Bolsonaro tentou interferir politicamente na PF. A PGR também pediu cópia de um inquérito da PF que já apurou vazamentos sobre a operação no passado.

Veja perguntas sobre o caso que ainda estão sem resposta:

1) Quem é o delegado da PF que teria se encontrado com emissários de Flávio Bolsonaro?

Ainda não se sabe. Marinho contou à Folha que ouviu o relato de Flávio Bolsonaro, mas o senador não teria dito quem foi o delegado responsável por vazar a informação sobre a deflagração da Operação Furna da Onça.

A Corregedoria da PF abriu uma investigação para apurar o vazamento da operação e vai ouvir delegados e policiais que participaram das investigações da Furna da Onça. A PF vai ouvir a delegada Xênia Soares, que presidiu o inquérito, e os policiais que trabalharam na investigação.

Xênia Soares também atuou na Operação Cadeia Velha, que levou à prisão em 2017 do então presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), Jorge Picciani (MDB), e deu origem às investigações da Furna da Onça.

A Cadeia Velha foi comandada por Alexandre Ramagem, atual diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), que Bolsonaro tentou nomear diretor-geral da PF, mas foi barrado pelo STF. Quando a Furna da Onça foi deflagrada, Ramagem já era chefe da segurança de Bolsonaro. Antes disso, trabalhou em Brasília.

2) Se não houve vazamento da PF, por que Queiroz e filha foram demitidos?

Segundo o relato de Marinho, o delegado da PF que vazou a deflagração da operação Furna da Onça teria aconselhado Flávio Bolsonaro a demitir Fabrício Queiroz, seu assessor de gabinete na Alerj.

A demissão de fato ocorreu, em 15 de outubro de 2018. Fabrício Queiroz foi demitido por Flávio e Natália Queiroz, sua filha, foi demitida do gabinete de Jair Bolsonaro na Câmara dos Deputados, em Brasília. As demissões ocorreram justamente entre o primeiro e o segundo turno das eleições presidenciais.

Queiroz desde então desapareceu e ainda não prestou depoimento no caso envolvendo as suspeitas de movimentação financeira atípica. Em entrevista, o ex-assessor de Flávio chegou a dizer que teria movimentado R$ 1,2 milhão comprando e revendendo carros.

Mesmo depois de ser exonerado do cargo, Queiroz continuava agindo como integrante do gabinete de Flávio Bolsonaro. Conversas no WhatsApp revelados pelo jornal O Globo mostraram que Queiroz informou à Danielle Mendonça da Costa da Nóbrega, ex-mulher de Adriano Nóbrega, um dos milicianos mais procurados do Rio e que foi morto pela polícia da Bahia, em fevereiro último, que ela havia sido exonerada do cargo de assessora parlamentar de Flávio.

O diálogo ocorreu em 6 de dezembro de 2018 e foi interceptado pelo Ministério Público. Queiroz também teria pedido para que Danielle parasse de usar o sobrenome Nóbrega para evitar a associação do miliciano com o gabinete de Flávio.

3) Se PF e MP já tinham o relatório do Coaf desde janeiro de 2018, por que a operação só foi ocorrer em novembro daquele ano, depois da eleição presidencial?

O relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) que mostrava movimentações suspeitas nas contas de Queiroz estava com a PF e com o Ministério Público Estadual desde janeiro de 2018. Também havia cópia do relatório com a Receita Federal e com o Ministério Público Federal. Mesmo assim, a Operação Furna da Onça só foi deflagrada em novembro daquele ano — depois das eleições — e não teve nem Queiroz, nem Flávio Bolsonaro como alvos. As transações financeiras de Queiroz só foram reveladas em dezembro, pelo jornal O Estado de S. Paulo.

Segundo o relato de Marinho, o delegado da PF que informou Flávio sobre a deflagração da Furna da Onça teria dito que a PF iria esperar para deflagrar a operação apenas depois do segundo turno das eleições de 2018 — o que de fato ocorreu — para não prejudicar a campanha de Jair Bolsonaro.

A manifestação do MPF para a deflagração da Operação Furna da Onça, com os pedidos de prisão e busca e apreensão, foi entregue à Justiça no dia 16 de outubro de 2018 — um dia depois da demissão de Queiroz. A data estava entre o primeiro e o segundo turno das eleições presidenciais.

Os mandados, porém, só foram expedidos em 31 de outubro de 2018 pelo Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2). Depois da eleição. A operação foi deflagrada apenas em 8 de novembro.

Em nota, o relator da operação Furna da Onça no TRF-2, desembargador Abel Gomes, afirma que as autoridades envolvidas entenderam que a operação "não deveria ser deflagrada em período eleitoral, visto que poderia suscitar a ideia de uso político de uma situação que era exclusivamente jurídico-criminal". Segundo ele, a decisão foi tomada em conjunto pela Justiça Federal, pelo Ministério Público Federal e pela Polícia Federal.

4) Por que Paulo Marinho resolveu denunciar essa história só agora, quase um ano e seis meses depois dos fatos?

Marinho disse à Folha ter tido conhecimento do caso já em dezembro de 2018. Em nota, o senador Flávio Bolsonaro acusou o empresário, que é seu suplente no Senado, de ter interesse em prejudicá-lo para ficar com a vaga de senador.

Flávio também questionou por que Marinho só falou sobre o caso agora. “E por que somente agora inventa isso, às vésperas das eleições municipais em que ele se coloca como pré-candidato do PSDB à Prefeitura do Rio, e não à época em que ele diz terem acontecido os fatos, dois anos atrás? Sobre as estórias, não passam de invenção de alguém desesperado e sem votos", disse, em nota.

Marinho afirmou que só trouxe as informações à tona agora porque o STF investiga a suposta interferência política de Bolsonaro na PF. Segundo ele, esses fatos podem ser esclarecedores sobre a denúncia feita pelo ex-ministro da Justiça, Sergio Moro.

Além de suplente de senador, Marinho é pré-candidato a prefeito do Rio de Janeiro pelo PSDB. Ele ocupou a vaga deixada pelo ex-ministro Gustavo Bebianno, braço-direito de Jair Bolsonaro durante a campanha presidencial. Após romper laços políticos com o bolsonarismo, Bebianno pretendia correr à prefeitura, mas morreu em março deste ano, após sofrer um enfarte fulminante. Marinho será candidato com o apoio do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), apontado como presidenciável em 2022.

5) Onde está Queiroz e por que ele evitar prestar mais esclarecimentos sobre as suspeitas que têm contra si?

Depois que o nome de Queiroz veio à tona nas investigações no Rio de Janeiro, o ex-assessor de Flávio desapareceu. Ele concedeu uma entrevista em que dizia que a movimentação atípica identificada pelo Coaf vinha da revenda de carros usados. Desde janeiro de 2019, não havia mais sido visto em público.

Uma reportagem da revista Veja mostrou, em agosto do ano passado, que Queiroz estava morando no Morumbi, bairro da Zona Sul de São Paulo. Ele foi fotografado entrando no Hospital Albert Einstein, onde fazia tratamento contra um câncer no intestino. Em janeiro do ano passado, ele havia passado por uma cirurgia no mesmo hospital. Segundo o jornal O Globo, Queiroz pagou a conta do hospital em dinheiro vivo. Em março deste ano, Queiroz passou por uma cirurgia para a retirada da próstata.

Até agora, o ex-assessor de Flávio Bolsonaro não prestou depoimento ao Ministério Público para explicar as movimentações suspeitas em suas contas. A suspeita é que ele era o operador da “rachadinha” no gabinete de Flávio Bolsonaro na Alerj. A prática consiste em fazer com que os servidores contratados devolvam parte dos salários para o político que os contratou. O relatório do Coaf mostra saques das contas de Queiroz em datas próximas ao pagamento dos salários dos assessores da Alerj, em caixas eletrônicos na própria Assembleia.

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