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Apuração em andamento
A Polícia Federal cumpre, na manhã desta segunda (29), uma operação contra o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), do Rio de janeiro. De acordo com as corporação, a ação é um desdobramento da Operação Vigilância Aproximada, deflagrada na última semana e que mirou um grupo supostamente envolvido em um esquema de espionagem ilegal dentro da Agência Brasileira de Inteligência (Abin).
A Gazeta do Povo tenta contato com Carlos Bolsonaro.
"Nesta nova etapa, a Polícia Federal busca avançar no núcleo político, identificando os principais destinatários e beneficiários das informações produzidas ilegalmente no âmbito da Abin, por meio de ações clandestinas. Nessas ações eram utilizadas técnicas de investigação próprias das polícias judiciárias, sem, contudo, qualquer controle judicial ou do Ministério Público", diz a PF em uma nota oficial enviada à reportagem.
O filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) é alvo desta operação por suspeita de ter recebido dados coletados ilegalmente pela Abin. Um dos locais das buscas é o gabinete de Carlos Bolsonaro na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, onde foram apreendidos um computador e documentos.
"A diligência ocorreu das 7h às 9h, e foi acompanhada pela segurança da Casa e um assessor do parlamentar", disse a Câmara Municipal do Rio de Janeiro à Gazeta do Povo.
Ao todo são oito mandados de busca e apreensão sendo cumpridos. Além do gabinete do vereador, a casa dele na Barra da Tijuca e comitês políticos dele e do pai também são alvos da PF.
Informações preliminares apontavam que um computador da Abin foi apreendido em endereços de Carlos Bolsonaro, o que não foi confirmado pelo advogado Fabio Wajngarten, que defendeu o ex-presidente e é próximo da família. "Não foi encontrado nenhum computador de quem quer que seja na residência ou gabinete do vereador", disse.
A operação cumpre, ainda, mandados em Angra dos Reis (RJ), Brasília (DF), Formosa (GO) e Salvador (BA). Assessores do parlamentar também são alvos da operação, assim como um agente da PF que integrava os quadros da Abin na gestão passada.
As buscas em Angra se concentram na casa da família Bolsonaro, onde foi realizada a live deste domingo (28). O ex-presidente e familiares estavam passeando de barco pela manhã e voltaram à residência por volta das 11h30 para acompanhar o cumprimento dos mandados.
Na Bahia, a PF informou que foram apreendidos três notebooks, 10 aparelhos celulares, uma pistola e documentos. Os aparelhos estavam em poder de Giancarlo Gomes Rodrigues, militar do Exército que foi cedido para a Abin na gestão de Ramagem. Ele é casado com uma servidora ativa da agência e da Polícia Federal.
Ainda não há confirmação se algum dos aparelhos pertence ou estava conectado aos sistemas da Abin. A agência informou à Gazeta do Povo que "iniciou imediatamente apuração sobre o caso".
Os mandados foram autorizados pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), com manifestação positiva da Procuradoria-Geral da República (PGR).
De acordo com a PF, os investigados podem responder pelos crimes de invasão de dispositivo informático alheio, organização criminosa e interceptação de comunicações telefônicas, de informática ou telemática sem autorização judicial ou com objetivos não autorizados em lei.
Segundo fontes, a operação desta segunda (29) é o início de uma apuração de pessoas que podem ter sido beneficiadas pela coleta ilegal de informações na Abin durante a gestão do então diretor-geral Alexandre Ramagem (PL-RJ), que hoje ocupa o cargo de deputado federal.
Além de Carlos Bolsonaro, a investigação da PF apontou, na semana passada, que o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e Jair Renan Bolsonaro -- filho "04" de Jair Bolsonaro -- também se beneficiaram de informações coletadas pelo programa de monitoramento da Abin.
A investigação envolvendo a Abin e membros da família Bolsonaro remonta à reunião ministerial realizada pelo ex-presidente em 2020, em que reclamou que não tinha acesso a informações sensíveis de segurança contra seus familiares e amigos.
Ramagem foi o comandante da Abin no período em que o programa FirstMile esteve em funcionamento, entre o final do mandato de Michel Temer (MDB) até o terceiro ano do governo de Bolsonaro. As investigações apontam que o software podia monitorar aparelhos celulares e tablets de autoridades como políticos e juízes.
Alexandre Ramagem negou todas as suspeitas e disse, pouco depois da operação, que determinou uma auditoria no contrato do First Mile logo que tomou posse do cargo, no início de 2019. De acordo com ele, foi o resultado dessa análise que levou à operação deflagrada pela Polícia Federal.
Apesar de ser vereador do Rio de Janeiro, Carlos Bolsonaro se destacou ao longo do governo de Jair Bolsonaro por cuidar das redes sociais do pai. Em meados de abril do ano passado, ele anunciou que iria abandonar a função, mas voltou a trabalhar com ele pouco depois.
O ainda ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, que normalmente comenta as operações realizadas pela PF, ainda não se pronunciou sobre a ação desta segunda (29). Por outro lado, o secretário-executivo da pasta, Ricardo Cappelli, afirmou que "cometem crimes e apontam o dedo. Espionaram e monitoraram ilegalmente milhares de brasileiros e brasileiras, e agora se dizem perseguidos. Quem os persegue são os princípios consagrados na Constituição".
Mais informações em instantes.