O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e aliados são alvos da Operação Tempus Veritatis, desencadeada pela Polícia Federal na manhã desta quinta (8) no âmbito das investigações da suposta tentativa de golpe de Estado e que levou aos atos de 8 de janeiro de 2023. Ao todo, são cumpridos 37 mandados de prisão, busca e apreensão em nove estados e no Distrito Federal.
Bolsonaro é alvo da operação com o cumprimento de medidas cautelares, como a entrega do passaporte às autoridades em até 24 horas. O ex-presidente ainda não se pronunciou, mas o advogado dele, Fábio Wajngarten, afirmou que o documento será entregue à autoridade.
Disse, ainda, que Bolsonaro determinou que seu auxiliar direto, que também é alvo da operação e que estava em Mambucaba (Angra dos Reis, RJ), retorne para sua casa em Brasília atendendo a ordem de não manter contato com os demais investigados.
A ação da PF ocorre um dia depois de Bolsonaro realizar um evento na cidade de São Sebastião (SP), em que disse que "o atual mandatário [Lula] quer censurar as redes sociais [...] eu só estou aqui com vocês graças às redes sociais".
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Entre os aliados do ex-presidente alvos da PF estão os ex-ministros Walter Braga Netto (Casa Civil), Augusto Heleno (GSI), Anderson Torres (Justiça) e Paulo Sérgio Nogueira (Defesa), o ex-ajudante de ordens Marcelo Câmara, os ex-assessores Filipe Martins e Tercio Arnaud Thomaz, entre outros.
O presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, também está na mira da PF. A sede nacional do partido foi alvo de busca e apreensão e ele foi detido por posse irregular de arma de fogo.
Há, ainda, mais militares alvos da operação, como o almirante Almir Garnier Santos, ex-comandante-geral da Marinha que se recusou a participar da posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT); o general Estevan Teóphilo Gaspar de Oliveira, ex-chefe do Comando de Operações Terrestres do Exército; e o coronel reformado do Exército, Ailton Barros.
Garnier afirmou que foi acordado pela PF às 6h15 e que "levaram meu telefone e papéis de projetos que venho buscando atuar na iniciativa privada. Peço a todos que orem pelo Brasil e por mim".
Veja abaixo quem são alguns dos alvos da operação desta quinta (8):
A PF também mira membros das Forças Especiais do Exército conhecidos como "kids pretos", que teriam participado da invasão das sedes dos Três Poderes no dia 8 de janeiro de 2023.
As primeiras informações apontam que Câmara e Martins foram presos pela PF na operação, junto dos militares da ativa coronel Romão Correa Neto e major Rafael Martins de Oliveira.
Câmara é coronel do Exército e foi citado no inquérito que apura os presentes recebidos pelo ex-presidente que teriam sido levados aos Estados Unidos no final do mandato dele, em 2022. Já Martins foi assessor para assuntos internacionais de Bolsonaro.
À Gazeta do Povo, o Exército informou que acompanha a operação deflagrada pela Polícia Federal "prestando todas as informações necessárias às investigações conduzidas por aquele órgão".
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A PF afirma, em nota, que a operação desta quinta (8) busca "apurar organização criminosa que atuou na tentativa de golpe de Estado e abolição do Estado Democrático de Direito, para obter vantagem de natureza política com a manutenção do então presidente da República [Bolsonaro] no poder".
Ao todo, são 33 mandados de busca e apreensão, quatro de prisão preventiva e 48 medidas cautelares autorizados pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e são cumpridos nos estados do Amazonas, Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Ceará, Espírito Santo, Paraná, Goiás e no Distrito Federal.
Entre as medidas cautelares, estão a proibição de manter contato com os demais investigados e a proibição de saírem do país, com a entrega dos passaportes no prazo de 24 horas e suspensão do exercício de funções públicas.
Informações preliminares apontam que os alvos da operação desta quinta (8) foram determinados a partir da delação do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, preso em maio do ano passado durante a investigação da inserção de dados falsos de vacinação contra a Covid-19 no cartão de vacinação do ex-presidente.
O subprocurador-geral da República, Carlos Frederico Santos, chegou a afirmar no ano passado que a delação de Cid era "fraca" e não trazias provas concretas contra o ex-presidente. "O que foi falado não tinha essas coisas todas. Tem anexo sobre golpe, tem anexo sobre joias, tem anexo sobre vacina, tem anexo sobre gabinete do ódio, milícias digitais", disse.
O presidente Lula afirmou esperar que "não ocorra nenhum excesso e seja aplicado o rigor da lei. Sabemos dos ataques à democracia. Precisamos saber quem financiou os acampamentos. Vamos esperar as investigações", disse em entrevista à rádio Itatiaia, de Belo Horizonte, onde cumpre agenda nesta quinta (8).
Grupo atuava em núcleos para questionar eleições
As apurações da Polícia Federal apontam que o grupo investigado se dividiu em núcleos de atuação para "disseminar a ocorrência de fraude nas Eleições Presidenciais de 2022", antes mesmo da realização do pleito, de modo a "viabilizar e legitimar uma intervenção militar, em dinâmica de milícia digital".
Os núcleos, diz a PF, se dividiam em dois eixos de atuação, sendo o primeiro na "construção e propagação da versão de fraude nas eleições de 2022, por meio da disseminação falaciosa de vulnerabilidades do sistema eletrônico de votação".
Este, de acordo com a PF, era um discurso reiterado pelos investigados desde 2019 e que persistiu mesmo após os resultados do segundo turno do pleito em 2022.
Já o segundo eixo atuava na prática de "atos para subsidiar a abolição do Estado Democrático de Direito, através de um golpe de Estado, com apoio de militares com conhecimentos e táticas de forças especiais no ambiente politicamente sensível".
De acordo com a Polícia Federal, o Exército acompanha o cumprimento de alguns dos mandados contra militares, como Braga Netto e Heleno.
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