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Após queda de Moro

Congresso rediscute forma de escolha do comando da PF. Mas essa ideia pode avançar?

Congresso quer rediscutir forma de escolha do comando da PF. Mas essa ideia pode avançar?
Várias propostas no Congresso sugerem que o comandante da PF seja selecionado por meio de uma lista tríplice elaborada pela categoria, e não mais por uma escolha livre do presidente da República, como ocorre hoje. (Foto: Aniele Nascimento/Arquivo/Gazeta do Povo)

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No mesmo dia 24 de abril em que o ex-juiz Sergio Moro apresentou seu pedido de desligamento do Ministério da Justiça, a deputada federal Celina Leão (PP-DF) protocolou um projeto de lei que determina novos critérios para a escolha do diretor-geral da Polícia Federal (PF). A proposta da parlamentar é estabelecer que o comandante da PF seja selecionado por meio de uma lista tríplice elaborada pela categoria, e não mais por uma escolha livre do presidente da República, como ocorre hoje.

O projeto apresentado por Celina cita trechos de uma reportagem sobre o pronunciamento de despedida de Moro e menciona que a ideia é proporcionar "uma independência política-administrativa das Polícias Federal e Civil".

A proposta da deputada de Brasília faz parte da reabertura da discussão sobre o tema, motivada pelo modo como Moro deixou o governo Bolsonaro.

O ex-ministro disse que o presidente desejava interferir politicamente nos trabalhos da PF. E, nesse processo, a seleção do diretor-geral da instituição era uma das principais etapas. A determinação de Bolsonaro para a destituição de Mauricio Valeixo do comando da Polícia Federal foi o que levou Moro a pedir para deixar o governo – e a apresentar suas acusações.

Além da proposição de Celina, outros projetos similares tramitam no Congresso. A modificação no sistema é uma reivindicação antiga de parte da categoria e se junta a um pedido mais amplo, que é o de concessão de autonomia à Polícia Federal. Apesar da comoção criada pela queda de Moro e as acusações apresentadas pelo ex-ministro, deputados avaliam que é pequena a probabilidade do avanço de uma proposta com este teor.

Projetos de lei e ideias ainda no papel

No dia 8 de maio, foi a vez de o deputado Sargento Isidório (Avante-BA) também propor a lista tríplice para o comando da PF.

Sem mencionar o nome de Moro ou citar exemplos contemporâneos, a proposta do parlamentar diz que a implantação da lista tríplice representa "uma garantia de autonomia e de independência na atuação dos órgãos policiais, ao propiciar a escolha de alguém com representatividade e liderança na carreira. Também permite à sociedade e à imprensa acompanhar o processo de escolha destes importantes cargos".

Já o Podemos, partido visto como "lavajatista" e que manifestou por mais de uma ocasião o interesse em ter o ex-ministro Moro como integrante, falou sobre a ideia em diferentes ocasiões – mas ainda não concretizou as iniciativas protocolando projetos de lei nesse sentido.

Uma sugestão veio ainda no ano passado, quando Bolsonaro e Moro vivenciaram o primeiro conflito em torno da Polícia Federal do Rio e que quase ocasionou a queda do então ministro. Na ocasião, o líder do partido na Câmara à época, José Nelto (Podemos-GO), disse que apresentaria uma proposta de emenda à Constituição (PEC) para garantir a lista tríplice para seleção do diretor-geral da PF e também a determinação de um mandato fixo relativo ao cargo. A proposta não chegou a ser protocolada pelo parlamentar.

E recentemente, sob os efeitos da queda de Moro, o Podemos voltou a falar que apresentaria o projeto, agora com a assinatura de seu atual líder, Léo Moraes (RO). Mas, a exemplo do que houve no ano passado, a proposição não foi formalizada. A assessoria de Moraes alega que o projeto ainda está na fase de coleta de assinaturas. São necessários 171 apoios para que uma PEC possa começar a tramitar na Câmara.

Outro membro do partido, o senador Eduardo Girão (CE), disse no último dia 28 que pretende apresentar uma PEC de teor similar. "Minha proposta é para que o diretor-geral na nova nomenclatura possa ser indicado a partir de uma lista tríplice a ser apresentada pela Polícia Federal, cabendo ao presidente da República escolher um dos nomes e que este tenha assegurado o mandado independente de eleição de presidente. O diretor da PF deveria continuar no cargo, para maior independência da instituição. Nós não aceitamos interferências políticas e acreditamos que essa PEC exercerá um bom papel em nosso país", afirmou, em pronunciamento. Até o momento, entretanto, a proposta não foi formalizada pelo parlamentar.

Ambiente não favorece mudança na escolha da cúpula da PF

Apesar de a queda de Moro ter trazido novamente o assunto à pauta, o ambiente no Congresso Nacional é pouco favorável para a aprovação de uma proposta com este teor.

O fator principal que explica a análise é a pandemia de coronavírus. Câmara e Senado têm destinado praticamente todo o seu tempo em debates e votações de projetos relacionados ao combate à Covid-19. Além disso, a doença faz com que o Congresso funcione de maneira remota, com debates e votos coletados a distância, o que inibe a tramitação de propostas de maior relevo. Quando a casa analisou a PEC do Orçamento de guerra, a iniciativa recebeu contestações não apenas pelo seu teor, mas também pelo fato de que muitos parlamentares consideravam que emendas à Constituição não deveriam ser aprovadas sem debates presenciais.

E mesmo o mérito da ideia de alterar a sistemática de escolha do comandante da Polícia Federal é contestada por parlamentares de diferentes partidos, da direita à esquerda. O deputado Afonso Florence (PT-BA) acredita que "o problema não é a forma de escolha, e sim o fato de Bolsonaro tentar aplacar investigações". "Estamos no presidencialismo, e é assim que funciona. A solução para as interferências políticas não está em se tirar prerrogativas do presidente da República, e sim em fortalecer organismos de controle, como o Conselho Nacional do Ministério Público e o Conselho Nacional de Justiça, por exemplo", apontou.

Já o também deputado Coronel Tadeu (PSL-SP) vê na proposta uma "tentativa de desautorizar a autonomia do presidente". "O presidente da República tem a autonomia de escolher seus auxiliares. Isso faz parte da independência dos poderes. Compreendo até que se discutam novos critérios para seleção de integrantes dos tribunais federais e da Justiça do Trabalho, que são outros poderes. Mas na hora de falar de membros da linha hierárquica do presidente, como ministros, secretários, chefes de superintendências e diretores de órgãos como a PF, acredito que deve permanecer como uma decisão do Executivo", disse.

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