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Operação Contragolpe

PF prende general e outros 4 por suposta tentativa de golpe e plano para matar Lula, Alckmin e Moraes

Lula e Alckmin
Investigação aponta que militares das "Forças Especiais" tentariam matar Lula, Alckmin e um ministro do STF no final de 2022. (Foto: Fábio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil)

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A Polícia Federal prendeu cinco pessoas nesta terça (19) – entre elas militares com formação em Forças Especiais, os chamados "kids pretos" – por supostamente planejarem um golpe de Estado após a eleição presidencial de 2022. De acordo com as investigações que levaram à Operação Contragolpe, o grupo pretendia assassinar o então presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o vice Geraldo Alckmin (PSB) e o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). (Leia aqui a decisão do STF que levou à prisão dos militares).

Fontes confirmaram à Gazeta do Povo que foram presos quatro militares do Exército ligados aos "kids pretos", como o general da reserva Mario Fernandes, o tenente-coronel Helio Ferreira Lima, o major Rodrigo Bezerra Azevedo e o major Rafael Martins de Oliveira. O policial federal Wladimir Matos Soares também foi detido na operação. À reportagem, o Exército informou que "não se manifesta sobre processos em curso", e a PF preferiu não se pronunciar sobre a prisão do agente.

“As investigações apontam que a organização criminosa se utilizou de elevado nível de conhecimento técnico-militar para planejar, coordenar e executar ações ilícitas nos meses de novembro e dezembro de 2022. Os investigados são, em sua maioria, militares com formação em Forças Especiais (FE)”, disse a PF na nota informativa da operação.

Além dos cinco mandados de prisão, foram cumpridos ainda três mandados de busca e apreensão e 15 medidas cautelares nos estados do Rio de Janeiro, Goiás e Amazonas e no Distrito Federal autorizados pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal.

"Um verdadeiro planejamento com características terroristas, no qual constam descritos todos os dados necessários para a execução de uma operação de alto risco", diz a petição enviada pela Polícia Federal a Moraes sobre a operação.

Fontes informaram à reportagem que alguns dos militares presos nesta manhã estariam atuando na segurança de líderes mundiais que participam da cúpula do G20 no Rio de Janeiro. A Gazeta do Povo entrou em contato com o departamento de comunicação do evento e aguarda retorno. Já o Exército negou a informação, ressaltando que Fernandes e Lima estavam no Rio de Janeiro para outros compromissos.

Ainda segundo a autoridade, foi identificada a existência de um detalhado planejamento operacional denominado “Punhal Verde e Amarelo”, que “seria executado no dia 15 de dezembro de 2022, voltado ao homicídio dos candidatos à Presidência e Vice-Presidência da República eleitos”.

“Ainda estavam nos planos a prisão e execução de um ministro do Supremo Tribunal Federal, que vinha sendo monitorado continuamente, caso o Golpe de Estado fosse consumado”, completou a Polícia Federal sem citar nomes. No entanto, se acredita que seria Moraes, que presidia o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) naquele ano e proferiu decisões que atingiram diretamente eleitores do então presidente Jair Bolsonaro (PL) que tentava a reeleição.

A petição que autorizou a operação, divulgada no meio da manhã, aponta ainda uma suposta ligação entre Bolsonaro, os atos de 8 de janeiro de 2023 e os planos para matar Lula, Alckmin e Moraes, inclusive com o uso de armamentos pesados e, até mesmo, envenenamento.

Os documentos apreendidos mostram que o planejamento incluía a utilização de recursos bélicos e humanos, com técnicas militares avançadas, além da criação de um “Gabinete Institucional de Gestão de Crise” para gerenciar os conflitos decorrentes das ações.

A PF acredita que a organização atuava com um esquema meticuloso, indicando alta preparação estratégica para a execução das ações supostamente golpistas.

Entre as medidas cautelares cumpridas, estão a entrega de passaportes, suspensão do exercício de funções públicas e proibição de contato entre os investigados. A autoridade afirma que o Exército acompanhou o cumprimento dos mandados.

Segundo a PF, os crimes investigados incluem abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa. As ações desarticuladas apontam para uma grave ameaça à estabilidade institucional do país.

General preso foi ministro de Bolsonaro e assessorou Pazuello

O general Mario Fernandes foi apontado pelo tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, como um "militar radical que teria proposto de forma incisiva a realização de golpe de estado" e ligado ao acampamento de manifestantes montado em frente ao Quartel-General do Exército em Brasília.

"Narra que Mário Fernandes atuou no planejamento, coordenação e execução de atos
antidemocráticos, frequentando o acampamento montado nas adjacências do Quartel-General do Exército e possuindo relação direta com manifestantes que atuaram no período pós-eleições de 2022, servindo como ponto de contato para os acampados", escreveu o procurador-geral da República, Paulo Gonet Branco, na representação da PGR a Moraes.

Fernandes chegou a comandar o setor de Operações Especiais do Exército, foi ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República durante o governo Bolsonaro e trabalhou como assessor do deputado federal Eduardo Pazuello (PL-RJ) entre março de 2023 e março deste ano. Ele foi demitido do PL semanas depois da Operação Tempus Veritatis.

Pazuello informou, através de uma nota, que Fernandes trabalhou em seu gabinete até o dia 4 de março de 2024 "quando foi identificado seu impedimento para exercer cargo público".

"Pazuello esclarece ainda que só tomou conhecimento da prisão do general Mário e dos demais oficiais por meio da imprensa na data de hoje. O deputado reafirma sua crença nas instituições do país e na idoneidade do General Mário Fernandes, na certeza de que logo tudo será esclarecido", completou a nota.

Mario Fernandes chegou a ser convocado para prestar depoimento à PF em fevereiro, após a operação, mas se manteve em silêncio. Segundo a PF, Fernandes integraria um dos núcleos da organização que supostamente planejava um golpe de Estado. Em uma reunião com ministros de Bolsonaro, Fernandes teria defendido uma ação antes das eleições.

Segundo as investigações, o general teria pressionado o então comandante do Exército, general Freire Gomes, entre março e dezembro de 2022, a aderir ao suposto plano para impedir a posse de Lula e Alckmin. O militar teria se recusado a participar, o que acabou barrando o avanço da proposta.

“Então, tem que ser antes. Tem que acontecer antes. Como nós queremos. Dentro de um estado de normalidade. Mas é muito melhor assumir um pequeno risco de conturbar o País pensando assim, pra que aconteça antes, do que assumir um risco muito maior da conturbação no ‘the day after’, né? Quando a fotografia lá for de quem a fraude determinar”, disse, conforme a transcrição da PF.

Provas foram apagadas de aparelhos de Mauro Cid

A reportagem apurou que a operação desta terça (19) teve como provas da investigação arquivos que foram apagados de aparelhos pertencentes ao tenente-coronel Mauro Cid, que foi ajudante de ordens de Bolsonaro, e recuperados pela autoridade. Ele prestará um novo depoimento à PF à tarde, e deve ser questionado por não ter falado sobre estes arquivos no acordo de delação premiada.

Segundo fontes ligadas às investigações, um novo software de tecnologia israelense auxiliou na recuperação e localização de conversas ocultas ou apagadas que estavam na nuvem de dispositivos eletrônicos de Cid. Esses arquivos não teriam sido indicados pelo tenente-coronel em seu acordo de delação premiada, o que poderia levar à reversão do acordo, segundo a PF – possibilidade que o advogado de Cid, Cezar Bittencourt, nega.

Após determinar o novo depoimento de Cid, a PF pediu mais 60 dias para concluir o inquérito que investiga os autores intelectuais dos atos de 8 de janeiro de 2023. Outra parte das provas para a operação desta terça (19) veio de celulares apreendidos de outros militares.

A reportagem também apurou que a operação desta terça (19) está relacionada ao mesmo inquérito que investiga o 8/1 e é uma extensão da Operação Tempus Veritaris, que mirou ex-ministros e aliados de Bolsonaro em fevereiro deste ano.

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