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Com o agravamento da pandemia do novo coronavírus, o Ministério da Economia revisou para baixo a projeção para o crescimento da economia em 2020. A nova estimativa é de que o Produto Interno Bruto (PIB) cresça apenas 0,02% neste ano, ou seja, uma estagnação. Antes, a projeção oficial era de um crescimento de 2,10%. É o segundo rebaixamento da estimativa somente neste ano.
O governo começou o ano prevendo que o PIB iria crescer 2,40%. Esse era o valor que estava no Orçamento deste ano. Com a crise do preço do barril de petróleo e às consequências para a economia global do surto de coronavírus, o governo fez a primeira revisão e reduziu a previsão para 2,10%. Na época, medidas restritivas de circulação de pessoas e fechamento de comércio não tinham sido tomadas no Brasil.
Agora, com o país adotando medidas mais severas para reduzir os efeitos da crise, como a própria decretação do estado de calamidade pública, o governo prevê que a economia ficará estagnada em 2020. A perda para a nossa economia será de R$ 178 bilhões, isso na comparação com a projeção que previa crescimento de 2,10% do PIB. O número é ainda maior quando comparado com o Orçamento aprovado no fim de 2019.
Risco de recessão
A estimativa do governo, contudo, ainda está otimista. Instituições financeiras já começam a prever que o país entrará em recessão em 2020. É o caso do Itaú, que divulgou nesta sexta-feira (20) que prevê que o PIB brasileiro vai retrair 0,7% em 2020. Já para o JPMorgan a queda deve chegar a 1% e para o Goldman Sachs, 0,9%. A última recessão do país foi no período 2014 a 2016.
O governo, segundo o secretário de Política Econômica do Ministério da Economia, Adolfo Sachsida, não descarta que o país entre em recessão técnica no primeiro semestre de 2020. Mas acredita que o segundo semestre será melhor, evitando uma recessão de fato, com mais de dois trimestres seguidos de queda. A recessão técnica é caracterizada quando há queda seguida do PIB em dois trimestres.
“Existe uma boa chance de nós termos um PIB não muito favorável no 1º primeiro trimestre e uma redução significativa no 2º trimestre", afirmou Saschsida em entrevista coletiva nesta sexta-feira (20). “Tomando as medidas corretas, vamos ser capazes de tentar uma recuperação econômica e melhorarmos as estimativas no segundo semestre", completou.
Inflação e preço do petróleo
Para a inflação deste ano, o governo prevê que ela ficará em 3,05%, quando medida pelo Índice de Preços para o Consumidor Amplo (IPCA). Antes, a estimativa era de 3,12%.
Já para o preço de petróleo - que influencia bastante a arrecadação do governo, devido ao royalties - a queda foi mais expressiva. Passou de US$ 52,70 o preço do barril de petróleo tipo brent para US$ 41,87. A queda na projeção se dá devido ao impasse entre Rússia e Arábia Saudita.
O governo também divulgou novas estimativas para o câmbio e a taxa Selic, que é a taxa básica de juros da economia. A previsão é que o dólar frente ao real fique em R$ 4,35, antes R$ 4,20. Para a Selic, a projeção é que ele feche em 3,65%. Atualmente, a taxa está em 3,75% e os cortes são sempre múltiplos de 0,25.
Sem calamidade, bloqueio de verba chegaria a R$ 37,5 bilhões
O Ministério da Economia também informou nesta sexta-feira (20) que, se o estado de calamidade pública não fosse decretado, seria necessário efetuar um bloqueio de R$ 37,5 bilhões do Orçamento neste ano para cumprir a meta fiscal.
Com a calamidade decretada, o governo fica livre de cumprir a meta fiscal e pode aumentar as suas despesas para conter os efeitos da crise causada pela pandemia do novo coronavírus. A decretação de calamidade foi a solução encontrada pela equipe econômica para justamente evitar contingenciamentos numa magnitude que poderia paralisar a máquina pública.
A meta fiscal aprovada pelo Congresso era de um rombo nas contas públicas de até R$ 124,1 bilhões. O ministério divulgou que o rombo já chegaria a R$ 161,6 bilhões caso o PIB fosse de 2,10% e o preço do barril de petróleo fosse de US$ 52,7.
A estimativa de rombo para o PIB em 0,02% ainda está sendo calculada, mas é possível que ela fique em torno de R$ 200 bilhões, segundo o secretário especial de Fazenda, Waldery Rodrigues. Tudo vai depender de quanto o governo precisará gastar para combater os efeitos do coronavírus na economia.