Ex-presidente Jair Bolsonaro, nesta quarta (21), falou com a imprensa depois de ir ao Senado para visitar o filho| Foto: EFE/Andre Borges
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O Partido Liberal (PL) trabalha com a possibilidade de uma decisão favorável no julgamento no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), nesta quinta-feira (22), que definirá se o ex-presidente Jair Bolsonaro será ou não inelegível. Entretanto, parlamentares de oposição dão o julgamento como derrota certa. Bolsonaro é acusado de abuso de poder político e dos meios de comunicação devido à reunião com embaixadores, em 2022.

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Nesta terça-feira (20), Bolsonaro se reuniu com o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, e com o general Walter Braga Netto (PL), na sede do partido, em Brasília. Segundo o presidente da legenda, a reunião girou em torno do alinhamento político para o futuro. “Foi um encontro importante em que pudemos traçar estratégias claras sobre o futuro que queremos e de como vamos conquistá-lo”, afirmou o político.

O encontro foi um sinal de que o partido estuda os cenários caso o TSE imponha a inelegibilidade ao ex-mandatário. Um deles será de usar Bolsonaro para unificar a direita e atrair votos nas eleições municipais. A sigla já disse que vai trabalhar para eleger entre 1.000 e 1.300 prefeitos em diversas regiões.

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Apesar de um certo otimismo do partido em conseguir uma decisão favorável no TSE, membros da oposição no Congresso estão céticos em relação ao julgamento, visto que a maioria dos ministros da atual composição da Corte Eleitoral foi indicada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

“Não tenho a expectativa de que haverá uma decisão favorável. Mas o presidente continuará como líder dentro do partido e possuindo o direito de contribuir com a atividade política do partido”, disse a deputada Bia Kicis (PL-DF).

O segundo vice-presidente da Câmara dos Deputados, o deputado Sóstenes Cavalcanti (PL-RJ), questionou a parcialidade do TSE em julgar Bolsonaro por causa da reunião com embaixadores. “Ruptura do hímen democrático caso o TSE deixe o presidente Bolsonaro inelegível sem nenhum crime. O TSE pode dialogar com embaixadores, já o presidente da República não pode?  Que democracia deforme é essa?”, criticou o parlamentar.

Na mesma linha, o senador Eduardo Girão (Novo-CE) criticou a conduta do tribunal pela decisão contra o ex-deputado Deltan Dallagnol e também mostrou ceticismo em relação a uma decisão favorável ao ex-presidente. "Tudo pode acontecer, já que a lei não é observada. Nós vimos o que aconteceu com o [Deltan] Dallagnol. Quer dizer, jurisprudências não são observadas e o julgamento acaba sendo por conta do momento político. É um tribunal político", opinou o senador.

Bolsonaro: “é quase unanimidade que vou perder”

Ao comentar sobre o julgamento no TSE, o ex-presidente Jair Bolsonaro afirmou que, “hoje em dia, é quase uma unanimidade que vou perder a ação. Essa é uma verdade”, disse. A declaração foi dada em entrevista à CNN Brasil nesta quarta-feira (21). Ele também disse que não tem do que se arrepender sobre a reunião com os embaixadores no ano passado.

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Anteriormente, no sábado (17), Bolsonaro chegou a admitir que "os indicativos não são bons", dando a entender que considera a possibilidade de se tornar inelegível. "Estamos enfrentando um problema agora. Até mesmo uma condenação de inelegibilidade porque me reuni com embaixadores antes do período eleitoral. Vamos enfrentar isso no dia 22 agora, já sabemos que os indicativos não são bons, mas eu estou tranquilo", disse em evento um de filiação de prefeitos ao PL na cidade de Jundiaí.

Mesmo assim, ao ser questionado sobre a hipótese de se tornar inelegível, Bolsonaro disse que não considera essa possibilidade para 2026. “Eu não considero essa possibilidade, simplesmente isso… Hoje em dia, quem representa a centro-direita no Brasil? Sou eu. Tem outras lideranças surgindo? Tem, porque eu não tolhi o surgimento de outras lideranças, que estarão maduras daqui a uns anos. Acho que para 26 está um pouco cedo para outras lideranças surgirem. Agora, repito: não tire do povo o direito de optar entre a esquerda e a extrema-esquerda que está aí e a centro-direita, que sou eu”, afirmou.

Diante disso, ao chegar ao Senado, na manhã desta quarta (21), o ex-presidente disse esperar que o TSE leve em conta a decisão que a própria Corte tomou, em 2017, envolvendo a chapa da presidente Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB). Ele lembrou que a acusação que sofre, de reunião com embaixadores, é a mesma imputada à ex-presidente e, por isso, deveria se respeitar a jurisprudência.

"Me reuni com os embaixadores em junho, fora do período eleitoral, e exerci uma função que é de competência privativa do presidente da República", disse. Segundo ele, a orientação dos diplomatas continuou sendo a de reconhecer imediatamente o ganhador das eleições.

Bolsonaro também lembrou que o placar em favor de Dilma, de 4 a 3, teve como voto decisivo o do ministro Gilmar Mendes, que expressou não ser "o caso de o TSE cassar o mandato de ninguém , muito menos presidente da República". "Caberia ao ministro Alexandre de Moraes seguir os que outros presidentes do tribunal decidiram, me absolver e arquivar o processo", opinou.

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Suposto pedido de vista

Ao longo da semana, a expectativa era de um pedido de vista do ministro Kassio Nunes Marques no julgamento sobre a inelegibilidade de Bolsonaro. Entretanto, o magistrado afirmou ao UOL que ação seria “pura especulação”. "Eu nunca tratei desse assunto com ninguém; pura especulação", disse o ministro.

Apesar de marcado para quinta-feira, o julgamento pode se estender para os dias 26 e 27 de junho. A expectativa é de que a análise do caso seja prorrogada para esses dias.

Caminhos em caso de inelegibilidade de Bolsonaro

Ao retornar ao Brasil em março, após de quatro meses nos Estados Unidos, Bolsonaro concentrou a atuação em fortalecer o Partido Liberal (PL) para as próximas eleições. Desde a sua chegada, o ex-presidente marcou presença em diversos eventos do partido, como a filiação do ex-ministro da Saúde Marcelo Queiroga, e se estabeleceu em Brasília para criar maior contato com a base do PL no Congresso.

A atividade política do ex-mandatário indica que a atuação dele será articular o partido para a conquista de espaços em outros estados.

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Em 14 de junho, o partido anunciou que lançará o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello à Prefeitura de João Pessoa. Também foi anunciado que o deputado federal André Fernandes disputará a Prefeitura de Fortaleza.

A sigla deve usar a imagem do presidente nas próximas eleições gerais, marcadas para 2026. De início, especulou-se que a ex-primeira-dama Michele Bolsonaro poderia ocupar o lugar do marido na disputa presidencial, mas a hipótese foi descartada e agora a legenda avalia lançá-la ao Senado.

Alguns membros do PL defendem que o partido deva apoiar o governador de São Paulo e ex-ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Gomes Freitas, na disputa presidencial. Contudo, o ex-mandatário entende que o atual governador deve disputar a reeleição de São Paulo.

Nomes como os dos governadores Romeu Zema, de Minas Gerais, e Carlos Massa Ratinho Jr., do Paraná, também circularam como “Plano B” da oposição para enfrentar Lula em 2026. Até o momento, não há um nome favorito para a disputa.

Ao falar sobre 2026, Bolsonaro afirmou que as próximas eleições presidenciais serão "tranquilas", em razão da composição que terá o TSE. "Em 2026, a composição do TSE será outra. O presidente será o Kassio Nunes [Marques]. O vice será o André [Mendonça]. Por coincidência, eu que indiquei os dois. Vamos ter uma eleição tranquila", afirmou.

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Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]