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Em busca de um novo partido, o presidente Jair Bolsonaro está dividido entre o PP e o PL, as maiores siglas do Centrão — o PTB passou a ser considerado carta fora do baralho. A indefinição da futura legenda tem sua explicação em diferentes variáveis político-eleitorais. A estrutura partidária nacional e até estadual de ambas as legendas, a acomodação de espaços para aliados, a montagem de chapas e a distribuição de recursos são alguns dos cálculos feitos por Bolsonaro.
Deputados da base "bolsonarista" explicam que a indefinição não é exclusiva do presidente que, na quarta-feira (27), disse que "hoje em dia está mais para PP ou PL". Como a maioria dos 25 parlamentares da base "raiz" de Bolsonaro quer acompanhá-lo para o partido que definir, eles também abriram diálogo com ambas as siglas.
"Eu estou conversando com a galera dos dois partidos. No PL, dois deputados me afirmaram categoricamente que o Bolsonaro vai para lá. No PP, três deputados me falam: 'ele já está aqui, está certo'. E a verdade é que não tem nada definido, são muitas variáveis em jogo", explica um deputado bolsonarista.
A Gazeta do Povo já contou que Bolsonaro levará em conta na escolha a possibilidade de montar uma estratégia conjunta entre o Centrão e o bolsonarismo para 2022. Por isso, conheça as vantagens e desvantagens de o presidente se unir ao PP e ao PL.
Vantagens e desvantagens do PP
Vantagens
O partido do ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, é apontado por bolsonaristas como um partido mais "flexível" para a negociação de espaços. Por ser um partido mais democrático e sem "dono", a leitura feita é que, no partido, Bolsonaro teria mais liberdade para discutir a alocação de aliados e distribuição de recursos.
"O PP é um partido mais flexível para essa montagem de poder do que o PL", analisa um deputado bolsonarista. Para Bolsonaro e deputados aliados que obtiveram muitos votos nas eleições de 2018, é um partido onde o presidente pode negociar com mais facilidade recursos dos fundos eleitoral e partidário, além de espaços a aliados nos diretórios estaduais.
Os vultuosos recursos dos fundos no PP são pontos positivos para uma campanha que aliados sustentam que vai demandar muitos gastos. Não à toa que há tempos parte dos interlocutores de Bolsonaro defendem que ele se filie a um partido grande, não a um nanico, como era o desejo inicial do presidente. Além disso, a estrutura partidária pode ajudar na campanha eleitoral desde as capitais e grandes cidades aos municípios do interior.
Desvantagens
Da mesma forma que a capilaridade do PP é uma vantagem, ela também acaba sendo uma desvantagem especificamente para a base bolsonarista. Por contar com lideranças bem estruturadas ao redor do país, deputados aliados temem não ter espaços nos diretórios estaduais para construir suas bases políticas.
A desvantagem para Bolsonaro se dá pelo fato de que parte de deputados e lideranças do PP são contra a filiação dele, especialmente nas regiões Norte e Nordeste. Isso demandaria uma construção mais desafiadora para as chapas estaduais apoiadas pela candidatura do presidente da República.
Outra desvantagem apontada por interlocutores é o da associação com o Centrão. "Na parte programática, ambos os partidos [PP e PL] são muito parecidos, com algumas características em especial. Mas são muito gelatinosos na pauta ideológica, algo que é cobrado pelo eleitorado conservador", analisa um deputado aliado.
Vantagens e desvantagens do PL
Vantagens
O partido presidido pelo ex-deputado federal Valdemar Costa Neto tem uma estrutura comparável ao PP no Congresso, mas é um partido menos capilarizado no país. É uma variável que possibilita mais espaços para aliados bolsonaristas barganharem comandos e espaços nos diretórios estaduais para montarem suas bases políticas.
O presidente do PL é apontado na política como alguém que cumpre acordos e isso anima tanto Bolsonaro quanto sua base "raiz" no Congresso. "Valdemar é um cara que cumpre o que define, é um honrador de compromissos. Se o presidente fechar algo com ele, isso seguirá respeitado", define um deputado governista.
Uma liderança do partido diz que a sigla pode oferecer uma disputa à reeleição mais "tranquila" a Bolsonaro por ser um partido com credibilidade e estrutura para acomodar aliados e oferecer segurança jurídica ao presidente. Também é um partido que dispõe de muitos recursos dos fundos partidário e eleitoral.
Desvantagens
Diferentemente do PP, o fato de o PL ser um partido com "dono" é um fator de desvantagem. Por mais que, no geral, seja melhor para a base bolsonarista, não é para Bolsonaro. "O Jair é um cara que não gosta da ideia de estar abaixo de ninguém. O motivo do tensionamento no racha com o [Luciano] Bivar [presidente do PSL] foi porque ele não tinha o controle do partido", explica um deputado aliado.
O temperamento de Costa Neto também é outro elemento que assusta os bolsonaristas. Nos bastidores, ele ameaçou deixar a base do governo caso Bolsonaro não se filie à legenda, segundo informou o jornal O Globo e confirmou a Gazeta do Povo. Deputados até avaliam que esse é um elemento que gera mais aversão do eleitorado conservador já avesso à ideia de filiação a um partido do Centrão.
Uma liderança do PL acredita, contudo, que as ameaças de Costa Neto são contornáveis, embora ao custo de mais espaços no governo em caso de reeleição. A mesma fonte ainda aborda que, nas contas do mandatário da sigla, o partido pode eleger até 60 deputados federais — já contados os deputados bolsonaristas. Caso apoie o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o partido faria em torno de 30 deputados.
Quais os tamanhos de PP e PL
Ambos os partidos dispõem de uma expressiva estrutura partidária. Confira, abaixo, as fichas técnicas de PP e PL:
PP
Governadores: 2
Senadores: 7
Deputados federais: 42
Prefeitos: 683*
Recursos: R$ 47,83 milhões de fundo partidário e R$ 140,66 milhões de fundo eleitoral**
(*) Número de prefeitos eleitos nas eleições de 2020
(**) Valores referentes a 2020
PL
Governadores: 1
Senadores: 4
Deputados federais: 43
Prefeitos: 341*
Recursos: R$ 45,67 milhões de fundo partidário e R$ 117,62 milhões de fundo eleitoral**
(*) Número de prefeitos eleitos nas eleições de 2020
(**) Valores referentes a 2020