Ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) possuem grande interesse na disputa pelo Rio de Janeiro| Foto: Alan Santos/PR e Joka Madruga/Agência PT
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O Partido Liberal (PL) irá apostar na polarização com o Partido dos Trabalhadores (PT) na disputa pela prefeitura do Rio de Janeiro nas eleições municipais de 2024. A estratégia da sigla comandada por Valdemar Costa Neto é superar os desgastes causados pelas operações da Polícia Federal contra o deputado federal Alexandre Ramagem, atual pré-candidato a prefeito da capital fluminense, e contra o vereador Carlos Bolsonaro (atualmente no Republicanos, mas que deve migrar para o PL), que irá tentar a reeleição para a Câmara Municipal.

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Tanto Carlos Bolsonaro quanto Ramagem foram investigados em uma operação que apura suposta espionagem ilegal feita pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin) durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), quando Ramagem era diretor da agência.

Apesar do atual prefeito do Rio, Eduardo Paes, ser do PSD, a possibilidade de o candidato a vice-prefeito ser do PT anima os membros do PL. Na segunda-feira (29), a presidente do PT, a deputada federal Gleisi Hoffmann, disse que a eleição no Rio é “prioritária” para o partido e defendeu que a legenda tenha a vice-prefeitura nessa disputa.

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“Na minha avaliação, para Paes ter o apoio do PT no Rio na eleição municipal, o partido precisa indicar o vice”, disse Gleisi em entrevista ao jornal O Globo. Até o momento, a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, e o ex-presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro André Ceciliano (PT) foram ventilados como possíveis nomes do PT para a chapa de Eduardo Paes.

A estratégia do PL de apostar na polarização com o PT segue na esteira do resultado eleitoral do segundo turno de 2022 de Lula e Bolsonaro na capital fluminense. Na época, o ex-presidente recebeu 1.929.209 votos, o equivalente a 52,66% do total da cidade. Já Lula foi a escolha de 47,34% dos eleitores e recebeu 1.734.159 votos.

“A população do Rio de Janeiro vai saber que de um lado tem um candidato de Jair Bolsonaro e do outro lado, um candidato do Lula”, disse o líder do PL na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, Rogério Amorim.

Ele avalia que a polarização pode dificultar a campanha do atual prefeito. “Paes tem medo da polarização. Nos últimos seis meses, ele se aproximou do PT, levou Lula até o Complexo do Alemão. Os vereadores da sua base fizeram campanha para Lula. Quando ele viu que a polarização não deu certo, buscou tentar reverter”.

Para Amorim, a insegurança na cidade do Rio de Janeiro será um ponto mais importante na campanha municipal e isso pode prejudicar o desempenho de Paes - apesar de a segurança pública não ser de responsabilidade dos municípios, e ficar a cargo dos estados e da União.

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“O Eduardo Paes está vendo sua reeleição em risco por conta do atual estado da segurança pública no Rio. Por conta disso, ele até tentou fazer discursos mais duros contra a criminalidade”, disse Amorim. Para o vereador carioca, a tentativa do chefe do Executivo municipal de se aproximar do eleitor pró-Bolsonaro não terá êxito.

A avaliação do líder da bancada do PL ocorreu após Paes dizer que não irá aceitar a atuação de organizações criminosas que cobram dinheiro de empreiteiras para liberar obras na cidade. A declaração foi tida como um recado mais duro do prefeito contra a criminalidade.

“O território da cidade é do cidadão de bem, e a única força que existe é a força do Estado. Não pode ter nenhum grupelho de "vagabundos" achando que vai impor sua força, a sua lei e as suas regras em qualquer área do território da cidade, seja ele miliciano ou traficante”, declarou Paes em 10 de janeiro.

Eduardo Paes deve evitar polarização de PL e PT

Na avaliação do cientista político Bernardo Santoro, coordenador do Instituto Liberal, a eleição para a capital fluminense terá forte influência do resultado eleitoral registrado em 2022. Ele também opinou que a estratégia de Eduardo Paes será tentar se "descolar" da polarização.

“O Paes está tentando fugir da polarização de duas maneiras: a primeira é tentar implementar algumas agendas consideradas positivas pela direita, e a segunda é tentar impedir o PT de indicar seu vice. O Eduardo Paes sabe que vai facilitar a vida da direita e do PL se aceitar essa indicação. É uma coisa que antigamente não era um problema para ele, tanto que ele já teve um petista como o vice dele, em outro momento, só que nesse momento ele enxerga como algo que acentua essa polarização", explicou o especialista.

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O cientista político afirma que a hesitação de Paes com relação ao PT também tem relação com os planos do prefeito do Rio de se lançar candidato ao governo do estado em 2026.

“Ele quer ser candidato a governador em 2026. Só que ele teria que renunciar em março e o vice teria que assumir. Com isso, tendo um vice do PT, criaria a seguinte narrativa: “Se você votar no Eduardo Paes, estará votando para um petista assumir a cadeira de prefeito do Rio em março de 2026”. Essa é uma narrativa muito plausível a ser feita pela direita”, salientou Santoro.

PL quer aumentar bancada na Câmara Municipal

Amorim também comentou que o PL deseja aumentar a bancada de vereadores do Rio nestas eleições. Atualmente com três representantes na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, a sigla almeja eleger entre oito e 14 vereadores. A legenda aposta na força eleitoral de Bolsonaro na capital fluminense.

“Sabemos que faremos pelo menos oito vereadores, mas no melhor cenário podemos chegar até 14 vereadores. Bolsonaro ganhou no Rio e isso faz a diferença. A chegada do Carlos [Bolsonaro] no partido com certeza irá ajudar a conseguirmos esse objetivo”, disse o vereador do PL.

PL aposta em Carlos Bolsonaro para conduzir campanha de Ramagem

A expectativa é de que Carlos Bolsonaro, filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, saia do Republicanos em março, quando inicia a janela partidária - momento em que os vereadores podem trocar de partido sem perder o mandato -, e se filie ao PL. Ele irá substituir o vice-prefeito do Rio, Nilton Caldeira, no comando da legenda na capital fluminense.

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A ida do vereador carioca para a sigla é vista como positiva por membros do PL. Sendo o principal estrategista de campanha de 2022, quando Bolsonaro tentou a reeleição para o cargo de presidente da República, Carlos Bolsonaro é avaliado como um nome que pode ajudar o partido a enfrentar a candidatura de Eduardo Paes.

A ida de Carlos Bolsonaro para o comando do PL também é uma reviravolta na relação entre a família Bolsonaro e Valdemar Costa Neto. Procurando um partido para tentar a reeleição em 2022, após sair do PSL (atual União Brasil), Bolsonaro se reuniu com o dirigente e exigiu que os diretórios do Rio e de São Paulo fossem comandados pelos seus filhos: o senador Flávio Bolsonaro e o deputado federal Eduardo Bolsonaro, respectivamente. No entanto, o pedido do ex-presidente não foi atendido.

Costa Neto confirmou a filiação de Carlos Bolsonaro em entrevista à GloboNews e reforçou que ele irá assumir a presidência do partido na cidade do Rio de Janeiro. "Vamos fazer, eles [família Bolsonaro] que têm os votos no Rio de Janeiro", disse.

Decisão contra perda de mandato de Ramagem também "anima" PL

A hipotética perda do mandato de deputado federal por parte Ramagem chegou a entrar no radar do PL nos últimos dias. Por causa da operação na semana passada, a PF pediu o afastamento do parlamentar. No entanto, o pedido foi negado pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), após pronunciamento contrário da Procuradoria-Geral da República sobre o caso. Para os procuradores, o exercício do cargo, neste momento, não seria um empecilho às investigações.

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"Em que pese a gravidade das condutas do investigado, Alexandre Ramagem, bem analisada pela Polícia Federal, nesse momento da investigação não se vislumbra a atual necessidade e adequação de afastamento de suas funções", afirmou Moraes.

Apesar da decisão, ainda existem incertezas sobre o futuro político de Ramagem para as eleições em 2024. Caso sofra alguma condenação futuramente, o deputado poderá ser enquadrado pela Lei da Ficha Limpa e deixar a disputa pela prefeitura. Por outro lado, o PL trabalha com a possibilidade das investigações não avançarem a esse ponto.

Candidatura de Ramagem está mantida

Em entrevista à GloboNews, Valdemar Costa Neto comentou sobre a operação contra o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), que apura uma suposta "Abin paralela" durante a gestão do ex-presidente Bolsonaro. Apesar da investigação, o presidente do PL afirmou que a pré-candidatura de Ramagem à Prefeitura do Rio segue de pé.

"Eu não acredito nisso, a Abin é um órgão sério. Não conheço o assunto com detalhes, a única gravação que conheço dos dois é quando o Ramagem não é mais diretor. O PL não pensa em afastar o Ramagem, temos confiança nele e vamos levar essa história até o final", afirmou Costa Neto.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]
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