O senador Plínio Valério (PSDB-AM) é o autor e o presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Organizações Não Governamentais (ONGs) na Amazônia. Para ele, as ONGs que atuam na Amazônia são instrumentos de uma agenda global, imposta por interesses internacionais e que veem o Brasil como uma "despensa". “O objetivo deles não é o ser humano. Mas, sim, ter uma despensa, como uma reserva”, disse o senador.
Em entrevista exclusiva para a Gazeta do Povo, Valério contou o que o motivou a lutar pela abertura da CPI, numa batalha que levou mais de quatro anos. A curiosidade e a busca pelas respostas, no entanto, vêm de muito antes de se tornar político. Nascido e criado no Amazonas, o senador - desde a infância - tinha o objetivo de esclarecer a atuação das ONGs na floresta. Já adulto, formou-se jornalista e escreveu reportagens sobre o tema.
Eleito senador pelo Amazonas, Valério segue tentando mostrar ao Brasil e ao mundo o que acontece em seu estado. Com a CPI das ONGs, ele busca investigar eventuais abusos na captação de recursos, bem como na execução de projetos que seriam custeados por tais verbas. Por meio de sua atuação, o parlamentar também quer dar voz, em especial, aos indígenas, que ele chama de “invisíveis”.
O senador afirma que os amazônidas são colocados em segundo plano e expulsos das áreas, caso não concordem com as regras impostas pelas ONGs que atuam na região. Na CPI, ele tem como foco mostrar que essas entidades não se preocupam com a população que vive na Amazônia, mas sim com a biodiversidade que existe nela.
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Confira a entrevista completa:
O que motivou o senhor a lutar por essa CPI? Qual é a memória mais remota do senhor sobre a atuação de ONGs na Amazônia?
Plínio Valério: Eu lembro que, ainda criança, pescando na beira do rio, via missões religiosas passando nos barcos com caixas fechadas. Subiam o rio, levava um tempo e depois desciam com tudo. Esquisito, escondido. Aquilo me chamou atenção. Como jornalista, eu fiz várias matérias lá em São Gabriel da Cachoeira [município do Amazonas]. Naquela época já tinha missão da Bélgica, da Noruega dominando São Gabriel. Eram missões religiosas, de cientistas, pesquisadores. Isso chamou muito a minha atenção. Então, como jornalista, eu combati muito isso. E, como político, eu levei esse viés pro discurso: o estrangeiro no meio da mata, roubando a gente. E agora, na campanha que eu ganhei, eu prometi mesmo criar uma CPI para investigar essas ONGs.
Hoje, eu vejo que o negócio é bem maior. Nós somos dominados por uma agenda global. Sendo da Amazônia, eu vejo isso, eu sinto isso, eu vivo isso. Então, a gente quer clarear isso. A gente quer mostrar que eles [ONGs] estão enfiados na floresta a serviço deles lá fora e não nosso. Se fosse em nosso serviço, eles priorizavam o homem, ou então igualavam os homens à floresta. Eles não igualam. A floresta pesa mais do que o homem. Eles não estão preocupados com os homens, mas com a biodiversidade. Então, as ONGs agem assim: vamos educar, vamos fazer a cabeça deles. Não fez? Expulsa. Expulsa como? Demarcando.
Mesmo os indígenas eles expulsam?
Plínio Valério: Não, os indígenas eles não expulsam. Eles expulsam quem está no território que eles querem ocupar em nome dos indígenas. E depois eles abandonam os indígenas. Porque o objetivo deles não é o ser humano. É, sim, ter uma despensa. Um grande celeiro mundial para eles lá. Então, à medida que eles isolam a Amazônia, reservam para eles. Esse é o objetivo. E como é que eles reservam? Demarcando, transformando em terras indígenas. Hoje 14% do território nacional é indígena. E se o marco temporal cair, vai para em torno de 18% ou 22%. Esse é o serviço que essas ONGs da Amazônia prestam.
Que ONGs são essas? O que elas fazem?
Plínio Valério - O Isa [Instituto Socioambiental], por exemplo, promove estudos, laudos antropológicos mostrando que encontraram um caco da cerâmica de determinada etnia em um lugar específico. Ou eles plantam esses itens ou sabiam que tinha naquele lugar. E o que eles fazem? Se tem uma etnia que só tem 100 índios, eles espalham esses índios em 5 de 20 ou em 10 comunidades de 10 índios. Para isso, eles chegam para os pequenos agricultores, os garimpeiros desiludidos, os plantadores e oferecem o documento indígena, o Rani [Registro Administrativo de Nascimento de Indígena], perguntam a eles se querem ser índios. Quando as pessoas dizem que não são indígenas, as ONGs dizem que se eles aceitarem, terão assistência médica, bolsa nos institutos e nas escolas. Aí tem uma vantagem e eles acabam aceitando. É assim que eles estão aumentando o número de indígenas no país. Só que esse cara que aceita é pressionado. Ele já foi pressionado pelo Ibama, pela Funai a sair da terra dele sem direitos. Isso leva anos. Não é de um dia para o outro. Quando eles estão com tudo preparado, tudo feito, o Isa tem tudo, aí avisa pra Funai que está pronto para fornecer o laudo. Aí a Funai vai encomendar o laudo do Isa. Como se o macaco tomasse conta do bananal. Aí vai o Isa, monta os estudos antropológicos e a Funai expede a demarcação.
Contatados, o Isa e a Funai não enviaram manifestações sobre as colocações do senador Plínio Valério até a publicação desta entrevista. O espaço segue aberto.
A intenção internacional nisso tudo é, como o senhor falou, de criar uma "despensa"? Essas ONGs na Amazônia parecem ter alguns focos, certo? Hoje, por exemplo, estão vendendo na internet os cogumelos yanomamis. Como isso funciona?
Plínio Valério: Isso, eles têm um foco. Nos tem como reserva, como uma despensa. Eles reservam, mas se faltou lá na tua cozinha uma lata de leite, você vai na despensa e pega. Não é assim que a gente faz na despensa da gente? É assim que eles fazem. Então agora é o camapu [planta medicinal], como o Aldo [Rebelo] mencionou [durante reunião da CPI das ONGs], que dizem que vai curar Alzheimer. Eles têm tudo que você possa imaginar sobre informações da Amazônia. Não tem toda porque a Amazônia ninguém conhece por completo. Quem disser que conhece a Amazônia toda tá mentindo. Eles têm informações de onde tem ou não minério...
E quais são os objetivos deles com essas informações?
Plínio Valério: Com essas informações eles têm dois objetivos. Esse que eu falei de isolar, criar reserva. O outro é que quando eles sabem que vai ter o progresso em algum canto da Amazônia, se vai passar uma ferrovia ou uma rodovia, por exemplo, eles vão e “plantam” os índios naquele lugar. Quando o governo externa o desejo de fazer isso, eles vêm com a indústria da indenização.
E como ficam os indígenas nessa história? O que pensam os que falam com o senhor?
Plínio Valério: A maioria não fala por eles. Quem fala por eles são essas ONGs. Eu posso trazer 100 índios aqui, eles vão dizer a mesma coisa. “A terra é nossa? Então, por que eu não posso plantar? Por que eu não tenho um documento? Por que que eu não posso cavar?” Outro diz: “a gente quer dignidade. A gente não quer mais ser roubado. Ninguém quer tutela, a gente quer comandar o nosso destino”. É isso que eles querem. Agora você não ouve isso. Você só ouve aqueles índios que vêm para Brasília trazidos por eles [membros de ONGs], pra pregar o contrário. Eles dizem: “Queremos demarcação”.
A CPI aprovou um pedido de convocação do presidente da Natura. Pode nos explicar o motivo dessa convocação e quando a audiência deve acontecer?
Plínio Valério: Vai depender da agenda, nossa e dos convidados, para marcar a data. Nós chamamos, pois surgiu a denúncia de um cacique indígena. Ele nos disse que a cooperativa que vende semente de copaíba e andiroba para a Natura estaria pagando aos índios apenas R$ 3 a diária. A Natura diz que paga muito mais do que isso para a cooperativa. Emitiram inclusive uma nota, dizendo que pagam 70% a mais pelo produto. Eu acredito que eles pagam, mas eles têm obrigação de saber de quem eles estão comprando. É uma cadeia e a gente precisa de explicações deles. Nada além disso. A Natura detém os royalties dos produtos oriundos da copaíba e da andiroba. Então, a gente precisa mostrar como isso está funcionando. Mas isso não é tudo, nem metade. O que a gente quer são aquelas ONGs ambientalistas, conservacionistas que estão a serviço da agenda global, promovendo há 40 anos estudos forjados, laudos antropológicos forjados para pedir demarcação de terras, esse conluio que existe entre Ibama, Funai e ONGs.
A Natura emitiu nota à imprensa sobre a convocação para a CPI das Ongs e afirmou que o relacionamento da empresa com comunidades fornecedoras “é baseado no respeito às pessoas e à natureza, premissas fundamentais de nosso modelo de negócio na Amazônia há mais de 20 anos”. “Seguros de nossa atuação ética e transparente com comunidades fornecedoras na Amazônia, prestaremos os esclarecimentos necessários”, diz outro trecho do comunicado. Confira a íntegra da nota no final da entrevista.
Diante de todos os depoimentos que os senhores já coletaram na CPI, tanto os por meio de vídeos que o senhor tem mostrado, como a questão que o ex-ministro Aldo Rebelo expôs, falando da atuação das ONGs, o que que falta para que as autoridades façam alguma coisa de fato, para impedir de agirem assim? É esse o objetivo da CPI?
Plínio Valério: As ONGs pregam a narrativa de que são salvadores do mundo. Eles são altruístas, politicamente corretos. Mas a verdade é que mentem e oprimem. Eles pressionam de tal forma que se alguém disser o contrário, está errado. Essa narrativa é muito forte por dois motivos. Um: porque as pessoas têm medo e vergonha de dizer o contrário, por isso que a gente está mostrando os invisíveis. E dois: porque eles já estão aparelhados, principalmente no Ibama e na Funai. Procurador da República, por exemplo, tem sempre um de plantão. Juiz de primeira instância também. Às vezes, eles também são pressionados pelas ONGs. Muitas vezes, sem ter muitas informações, eles confiam quando uma ONG diz: “encontramos um caco de cerâmica próximo ao porto”. Aí o juiz manda parar o porto. E assim eles não ouvem o outro lado. Têm relatos de procuradores que não ouvem, não querem saber, mesmo que o outro lado tenha documentos. Certa vez, soube que um senhor tinha um documento, tipo um pergaminho da propriedade dele. Sabe o que a juíza disse para ele? “Isso não serve, nem vou ver”. E assim que eles estão tratando. Está tudo dominado.
E tem como reverter isso, senador?
Plínio Valério: Com uma geração que tivesse compromisso com a nação. Que tivesse espírito do que é soberania. A gente tem que dizer “a Amazônia é nossa”. Mas isso teria que ser as novas gerações. Temos feito um grande trabalho, para quebrar a narrativa. As pessoas estão se atentando para essas coisas agora, nas redes sociais. O brasileiro quando viu o cacique falando aquilo na CPI parou para pensar e percebeu que não sabia que é assim que a Amazônia é. Porque a imagem que vocês têm aqui fora é de que o indígena quer viver isolado. Como se dissesse: "Não perturbem a minha paz”.
Como é que ele quer viver isolado se ele não tem o que comer, ele não planta, ele não tem saúde - embora tenha dinheiro para isso -, não tem educação, não tem transporte, não tem lazer? Ele não quer isso. O índio hoje anda de relógio, de celular. Eu dou o maior exemplo de quando fui dar uma ajuda para os índios Tenharim na Transamazônica. Eles vieram aqui, pediram, eu honrei. Como eles não estão acostumados, com alguém honrando a palavra com eles, me homenagearam com uma carta dizendo: "Obrigado, senador que tem palavra, por nos ajudar a realizar o nosso sonho". Sabe o que era o sonho deles? Eu estava entregando 19 canoas de alumínio com motor rabeta e duas picapes.
Confira a íntegra da nota emitida pela assessoria de imprensa da Natura.
A Natura mantém relacionamento comercial com a Cooperativa Mista da Flona do Tapajós (Coomflona) desde 2019 para o fornecimento de amêndoas secas de andiroba. O trabalho de coleta da matéria-prima envolve cerca de 70 famílias e ocorre na área de manejo florestal comunitário da Flona do Tapajós, conforme previsto no Plano de Manejo da Unidade de Conservação, gerida pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
Em 2022, o valor pago à Coomflona pelo quilo de matéria-prima foi aproximadamente 70% maior que o preço mínimo estipulado pela Companhia Nacional do Abastecimento (Conab). A Natura também investe na capacitação e transferência de tecnologia para que as comunidades possam prosperar e fortalecer seus negócios, independentemente do contrato estabelecido com a empresa.
O relacionamento da Natura com comunidades fornecedoras é baseado no respeito às pessoas e à natureza, premissas fundamentais de nosso modelo de negócio na Amazônia há mais de 20 anos. Toda a cadeia produtiva da andiroba é certificada pela União para o Biocomércio Ético (UEBT – The Union for Ethical BioTrade), que avalia as medidas de conservação da biodiversidade, boas práticas de produção e o respeito aos direitos humanos, incluindo o compartilhamento justo e equitativo dos benefícios e condições seguras de trabalho para as comunidades de sua cadeia produtiva.
Seguros de nossa atuação ética e transparente com comunidades fornecedoras na Amazônia, prestaremos os esclarecimentos necessários.
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