Manifestações de rua de parlamentares do Grupo Muda Senado contra o STF, em 2019.| Foto: Divulgação
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O grupo "Muda Senado", que após as eleições de 2018 se posicionou como uma das maiores forças do Congresso, chega ao fim da atual legislatura virtualmente extinto. O grupo queria mudar a Casa e o Judiciário brasileiro. Mas se chocou com os grupos tradicionais que já comandavam o Senado. Além disso, se fraturou e viu seus integrantes tomarem caminhos diferentes, principalmente por causa da polarização política que se acentuou nos últimos anos. E, por fim, alguns dos seus componentes perderam força política e não estarão no Senado a partir do ano que vem.

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Não houve um encerramento formal do Muda Senado ou uma ruptura aberta entre os membros do grupo. Mas ele deixou de ser referência no Congresso no fim de 2020 e sumiu de vez dos holofotes no início de 2021. Quando a CPI da Covid foi instalada, em abril do ano passado, a "morte" do grupo já era evidente. Alguns dos seus integrantes estavam do lado da CPI que condenava o governo de Jair Bolsonaro – casos de Fabiano Contarato (PT-ES) e Randolfe Rodrigues (Rede-AP). Enquanto outros ficaram ao lado do Palácio do Planalto, como Eduardo Girão (Podemos-CE) e Marcos do Val (Podemos-ES).

O grupo encerrou suas atividades sem alcançar aqueles que, na época da sua fundação, foram definidos como seus principais objetivos: a instalação de uma comissão parlamentar de inquérito para investigar a cúpula dos tribunais superiores, apelidada de CPI da Lava Toga, e a aprovação de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que modernizaria o Poder Judiciário. Ambas as propostas enfrentaram forte oposição dentro do Senado.

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O Muda Senado falhou também na tentativa de condução dos comandos do Senado. Após apoiar Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) nas eleições para a presidência do Senado em 2019, havia a expectativa de que o grupo fosse contemplado com mais poder no comando da Casa. Mas isso não ocorreu. Dois anos depois, o Muda Senado tentou formalizar uma candidatura para a disputa pela presidência da Casa, mas viu parte de seus componentes declarando apoio a Rodrigo Pacheco (PSD-MG) e Simone Tebet (MDB-MS).

Outro golpe sofrido pelo grupo foi a morte do senador Major Olímpio (PSL-SP), por Covid-19, em março do ano passado. O parlamentar era uma das principais vozes do grupo e chegou a lançar sua candidatura à Presidência do Senado.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]

Muda Senado tinha mistura de ideologias

O Muda Senado foi fundado tendo como expoentes senadores que assumiam pela primeira vez um mandato no Congresso Nacional – ou mesmo que estavam estreando na vida pública. Esses eram os casos de Alessandro Vieira (PSDB-SE), Leila Barros (PDT-DF), Oriovisto Guimarães (Podemos-PR) e Rodrigo Cunha (União Brasil-AL) e de Soraya Thronicke (União Brasil-MS).

Somaram-se ao grupo senadores já com experiência no Congresso, mas que faziam parte de um segmento contrário àquele que costuma comandar o Senado. Os membros veteranos do Muda Senado eram, entre outros, Lasier Martins (Podemos-RS), Reguffe (União Brasil-DF), Randolfe Rodrigues e o senador que acabaria informalmente sendo o líder do grupo, Alvaro Dias (Podemos-PR).

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A relação dos integrantes originais do Muda Senado mostra um conjunto de parlamentares com alguns nomes que, hoje, dificilmente se sentariam à mesma mesa. Também compuseram o grupo Carlos Viana (PL-MG), apoiador de primeira hora do governo Bolsonaro, e nomes que se destacaram na oposição, como Contarato e Randolfe – que hoje trabalham pela eleição do ex-presidente Lula (PT).

A variedade de opiniões foi um dos fatores que contribuiu para a derrocada do grupo. À parte daquelas demandas iniciais, os formadores do Muda Senado se viram com dificuldade para se unir em torno de outros projetos. A divisão em torno da CPI da Covid foi um exemplo. Além disso, ao longo dos últimos anos a pauta da contestação do Poder Judiciário acabou migrando mais para a direita, se tornando distante de nomes que são opositores ao governo Bolsonaro e que faziam parte do Muda Senado.

Para o senador Eduardo Girão, o desmantelamento do Muda Senado se explica também por "conveniência política". Segundo ele, alguns senadores desistiram da meta de investigar os tribunais superiores por causa de decisões de magistrados que afetaram o governo Bolsonaro.

Para Girão, isso estimulou alguns parlamentares a passarem a apoiar os componentes do Judiciário. "Tivemos jornalista preso, deputado preso, empreendedores [presos]… Tudo só de um lado, tudo conservadores. Presos. E aí ninguém mexe mais com o Supremo", diz.

O Muda Senado pode voltar?

Também integrante do Muda Senado, o senador Plínio Valério (PSDB-AM) vê com dificuldade a retomada do grupo. Ele diz que um dos elementos que unia os parlamentares era o sentimento de renovação na política que ocorreu por causa da quantidade de "novatos" que chegou ao Congresso com as eleições de 2018. "Eu penso que é possível um movimento [de renovação da Casa]. Não com esse título, Muda Senado, e nem jogando como a gente jogou daquela vez. Com certeza vai ser um pouco mais difícil tirar um movimento dessa natureza", afirmou.

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Eduardo Girão também vê com ceticismo a recuperação do Muda Senado. "Espero que essa chame volte a acender com a chegada de novos parlamentares. Porque a sociedade, seja de direita, seja de esquerda, contra governo, a favor de governo, já entendeu que é um dos grandes problemas do país, esse ativismo político judicial", apontou.