Cidade do Leste, o segundo maior município do Paraguai com cerca de 305 mil habitantes e que fica na fronteira com o Brasil, próxima de Foz do Iguaçu (PR), está mais vigiada do que de costume neste início do mês de setembro. Um alerta emitido no fim de agosto pela Polícia Nacional do país vizinho chama atenção para o planejamento de um roubo que estaria prestes a ser executado por um grupo de pelo menos 25 pessoas ligadas ao Primeiro Comando da Capital (PCC).
O grau de atenção também vale para municípios próximos que concentram, além de uma intensa atividade comercial como destino de compras, locais que servem como depósitos de valores.Segundo a Polícia paraguaia, os serviços de inteligência que atuam na fronteira com o Brasil identificaram movimentações atípicas da facção que usa o país como um importante canal para o tráfico internacional de drogas, armas e o contrabando de cigarros.
O crime estaria sendo planejado há pelo menos cinco meses e envolveu uma série de roubos e furtos de caminhonetes em cidades brasileiras próximas à fronteira desde o início deste ano. Os veículos possuem características similares, são caminhonetes de uma mesma montadora, e estariam há algumas semanas em solo paraguaio sendo preparadas para a ação.
Informações da Divisão Regional de Inteligência e Contrainteligência da Diretoria de Polícia do Alto Paraná, departamento ao qual Cidade do Leste pertence, reforçou que o plano é para um roubo de grandes proporções, mas sem a identificação de onde isso ocorreria.
Esse foi um dos motivos que fez as forças de segurança mapearem áreas sensíveis para reforço no monitoramento e prevenção. O grau de atenção também está maior do lado brasileiro da fronteira, segundo fontes da Polícia Federal ouvidas pela reportagem. Além da atenção ao movimento de brasileiros rumo ao Paraguai para a ação criminosa, o objetivo está, se o fato se concretizar, em não possibilitar a entrada das remessas de dinheiro ao Brasil.
Em uma entrevista ao ABC Color, principal veículo de comunicação do Paraguai, o comissário inspetor-geral Feliciano Martínez Peña, que responde pela Diretoria da Polícia do Alto Paraná, disse que a segurança está focada em áreas com núcleos de comércio de produtos eletrônicos e com respectiva concentração de valores. Veículos que fazem o transporte de dinheiro também receberam escolas extras.
PCC tem focado em roubo a bancos e casas de valores no Paraguai
Essa seria a terceira grande ação do PCC no Paraguai somente nos últimos anos. A primeira foi em abril de 2017 quando a facção brasileira realizou um ataque à empresa Prossegur, em Cidade do Leste. O grupo chegou a cercar o município, atear fogo em veículos dificultando a chegada das forças de segurança. Foram levados quase US$ 12 milhões, próximo de R$ 60 milhões.
No começo deste ano o PCC levou, com a ajuda de uma facção do Rio Grande do Sul, cerca de R$ 75 milhões da Associação dos Cambistas de Cidade do Leste. Os números precisos até hoje não foram confirmados, porque muitas vítimas que operavam de forma irregular não registraram o caso às autoridades paraguaias. Investigações da Polícia Federal brasileira revelaram que os criminosos se organizaram durante um ano.
Alugaram imóveis próximos à entidade, cavaram um túnel de pelo menos 150 metros sem levantar suspeitas e levaram o dinheiro da Associação em um fim de semana no início de fevereiro, sem o disparo de um único tiro e sem chamar a atenção das autoridades. O caso só foi descoberto em uma segunda-feira, quando os profissionais chegaram para trabalhar.
Desde o início do ano, segundo a Polícia Federal, o PCC tem realizado uma série de roubos a pequenos bancos e unidades de valor pelo interior do país vizinho no estilo novo cangaço brasileiro. Segundo a PF, os ataques ocorrem em cidades menores, com menos aparato em segurança.
O objetivo seria a monetização da facção para financiar a compra de drogas, principalmente de cocaína da Colômbia e da Bolívia, assim como armas e munições. A cocaína passa pelo Paraguai e entra no Brasil geralmente por via terrestre, para que seja escoada a outros continentes, a maior parte camuflada em cargas licitas em navios cargueiros em portos como o de Santos (SP) e Paranaguá (PR).
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