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A Polícia Civil descobriu nesta quarta-feira (31) um carregamento de medicamentos vencidos desde 2021 escondido em uma casa abandonada em Boa Vista, capital de Roraima, que seriam destinados aos Yanomamis. Os remédios foram encontrados durante o cumprimento de mandados de busca e apreensão relativos a uma investigação sobre tráfico de drogas na região.
A investigação era conduzida pela Delegacia de Repressão aos Crimes Contra a Administração Pública (DRCAP), que repassou o caso à Polícia Federal por conta da presença dos medicamentos com etiquetas e registros de procedência do Ministério da Saúde.
À Gazeta do Povo, o ministério afirmou que repudia o descarte dos medicamentos "vencidos durante a gestão passada" e afirmou que irá colaborar com as investigações, "fornecendo todas as informações necessárias às autoridades". A PF não respondeu ao pedido da reportagem.
Os medicamentos estavam em caixas e sacos de lixo e frascos estavam espalhados pelo chão. A investigação constatou que os remédios eram destinados ao Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami (Dsei-Y), órgão do Ministério da Saúde responsável pela saúde indígena Yanomami.
A delegada Magnólia Soares, que conduziu a investigação, afirmou que “eram muitas caixas, com diversos medicamentos, muitos vencidos desde 2021. Desta forma, entendemos que não era competência da Polícia Civil e acionamos a Polícia Federal”, explicou à TV Globo.
Além dos medicamentos, também foram encontrados materiais e documentos incinerados no local.
Em uma publicação nas redes sociais, a senadora Damares Alves (Republicanos-DF) afirmou que vai pedir explicações à ministra Nísia Trindade sobre os medicamentos.
“Eu já apresentei requerimento de convocação para que a Ministra da Saúde compareça ao Senado para nos esclarecer sobre o estupro coletivo de uma menina yanomami dentro da Casa de Saúde Indígena que é de Administração do Ministério, para que ela explique o número de mortes de crianças yanomamis em 2023 e agora também vai ter que explicar sobre estes medicamentos. A Ministra da Saúde, o atual Secretário Especial de Saúde Indígena e a Ministra dos Povos Originários terão muita coisa para nos explicar no Senado Federal”, afirmou.
O encaminhamento do caso à PF pode dar continuidade à segunda fase da Operação Yoasi, deflagrada em outubro de 2023 para investigar suspeitas de lavagem de recursos desviados de medicamentos destinados ao povo Yanomami. A ação resultou em quatro mandados de busca e apreensão, visando empresários e servidores do Dsei-Y que investiram dinheiro em empresas suspeitas para dissimular a ilegalidade dos recursos.
A primeira fase da operação, em novembro de 2022, investigou um suposto esquema que deixou mais de 10 mil crianças Yanomami desassistidas, entregando apenas 30% dos medicamentos adquiridos pelo Dsei-Y.
A Terra Indígena Yanomami, maior território indígena do Brasil, enfrenta uma crise humanitária e sanitária, com dezenas de adultos e crianças sofrendo de desnutrição grave e malária, estando em estado de emergência de saúde pública desde 20 de janeiro de 2023.
A reportagem foi atualizada após posicionamento do Ministério da Saúde enviado à Gazeta do Povo.
Atualizado em 02/02/2024 às 08:46