Ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) quer eleger 60% de prefeitos de direita no país, mas terá que lidar com desafios| Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
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O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) retornou ao Brasil empenhado em eleger mil prefeitos para o seu partido e disposto a contribuir com a eleição de ao menos outros 2.340 prefeitos do Republicanos, PP e Novo. A soma de 3.340 prefeituras corresponde a 60% dos municípios do país, uma ambiciosa meta sinalizada no dia em que retornou ao Brasil, após ficar três meses nos Estados Unidos.

Alguns aliados acreditam que o objetivo é possível de ser alcançado, mas há quem entenda que isto pode ficar só na intenção, em razão dos desafios da "política real".

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"A vida real é muito diferente da vida do discurso e das redes sociais. A eleição de prefeito demanda muito empenho, compromisso, trabalho das lideranças estaduais e acho que ele vai influenciar muito pouco nas eleições de prefeitos do ano que vem", analisa o deputado federal Aluísio Mendes (Republicanos-MA), presidente do diretório estadual de seu partido e ex-vice-líder do governo na Câmara na gestão Bolsonaro. "Acho que o [ex-]presidente Bolsonaro não sabe fazer a política do dia a dia", complementa.

Mendes recorda que nas eleições municipais de 2020, quando Bolsonaro ainda era presidente, poucos de seus aliados tiveram sucesso nas urnas. De 16 candidatos à prefeituras apoiados por ele, cinco foram eleitos ao longo dos dois turnos. Nas capitais, apenas um dos sete se elegeu.

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À época, Bolsonaro minimizou os resultados e atribuiu as derrotas de aliados ao pouco tempo que teve para pedir apoio. Disse que sua ajuda "resumiu-se a quatro lives num total de três horas". Aliados também atenuaram o insucesso e atribuíram os resultados às limitações de circulação em razão da pandemia da Covid-19, às acusações da oposição e à cobertura da imprensa.

Sem a pandemia da Covid-19 em 2024 e fora da Presidência, aliados de Bolsonaro entendem que, agora, ele terá mais sucesso nas eleições municipais. Contudo, mesmo os mais otimistas reconhecem que não é um processo simples e que o resultado vai depender da agenda política construída pelo ex-presidente e do nível de confiança concedido a aliados e candidatos a prefeitos e vereadores.

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Bolsonaro terá que confiar nos aliados regionais

Com 5.568 prefeituras no país, aliados admitem que será impossível Bolsonaro cumprir agendas em cada cidade do país em apoio ao candidato a prefeito local e vereadores. Portanto, para atingir a meta de 60% das prefeituras com candidatos da direita, o ex-presidente precisará confiar no máximo de aliados nos estados para serem seus interlocutores e emissários que ficarão responsáveis por retransmitir seu apoio no máximo de municípios.

A questão, porém, é que isso pode não ser algo simples para Bolsonaro, admitem aliados. Quando ainda era presidente, ele não escondeu o desconforto de ter sido "traído" e até acusou nominalmente alguns ex-aliados nas eleições de 2018 de "traição", como o ex-governador de São Paulo João Doria (PSDB) e alguns parlamentares do antigo PSL, como a ex-deputada Joice Hasselmann (SP).

O deputado federal Sargento Fahur (PSD-PR) entende que é possível Bolsonaro eleger 60% de prefeitos de direita, mas sustenta que, para isso, o ex-presidente vai ter que selecionar aliados de confiança para ajudá-lo a mapear candidatos com potencial e afinidade política no campo conservador.

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O deputado Joaquim Passarinho (PL-PA) acredita que Bolsonaro fará boas escolhas e poderá ter mais tranquilidade para confiar em aliados para as eleições municipais de 2024. "Agora é mais fácil confiar porque ele está na oposição e não tem nada a oferecer, só o nome dele. Não tem estrutura, governo, nada. Quem quiser se encostar nele agora vai estar comprando briga com o governo atual", comenta.

Na análise feita por Passarinho, prefeitos que tentarão a eleição (ou a reeleição) apoiados por Bolsonaro poderão enfrentar adversários apoiados por partidos da base governista do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e até sofrer retaliação por meio de repasse de verbas de emendas parlamentares às prefeituras.

O deputado comenta que no Pará, por exemplo, o PL já é alvo do interesse de aliados que procuram o partido para a disputa das eleições municipais por discordâncias ou oposição com o governador do estado, Helder Barbalho (MDB), que concentra o apoio da maioria dos partidos, incluindo os que apoiam a base de Lula. "A possibilidade do PL aumentar seus quadros de prefeitura é muito grande", reforça.

Para garantir capilaridade à "rede de apoio" de Bolsonaro no maior número de municípios, aliados apontam as redes sociais como instrumento primordial para assegurar a eficácia nas estratégias políticas e na meta de eleger o maior número possível de prefeitos. O deputado Joaquim Passarinho destaca que vídeos gravados com Bolsonaro podem ser ferramentas importantes para disseminar o apoio por todo o país.

Viagens e disposição será determinante para eleger prefeitos da base

A agenda de viagens que Bolsonaro planeja fazer terá um peso fundamental na eleição de prefeitos do PL e de outros partidos, sustenta o deputado Paulo Bilynskyj (PL-SP). "Ele vai viajar e chamar as pessoas, vai aumentar o número de filiados ao partido e solidificar os candidatos", diz, salientando os 58 milhões de votos que Bolsonaro fez nas eleições de 2022.

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O aliado entende que o ex-presidente está bem assessorado e bem ambientado no partido para saber em quem pode confiar ou não e avalia que isso se reflete na disposição e possibilidade de eleger prefeitos não apenas do PL, mas também de PP e Republicanos.

O deputado Evair Vieira de Melo (PP-ES), vice-líder de seu partido, avalia que composição do Republicanos na Câmara, com partidos que apoiam a base governista de Lula, ou mesmo o PP, que se juntou a partidos de esquerda na Casa, não interfere na intenção de Bolsonaro em apoiar candidatos de ambos os partidos.

"O Republicanos dele [Bolsonaro] é o [governador] Tarcísio [de Freitas], em São Paulo", diz. "Ele vai fazer uma integração [de apoio aos partidos], acertou com o [senador] Ciro [Nogueira, ex-ministro-chefe da Casa Civil] e o PP, e ainda tem o PL, Republicanos e o Novo", complementa Evair.

O deputado Marcel van Hattem (Novo-RS), primeiro vice-líder da oposição na Câmara, acredita que Bolsonaro possa ser um importante cabo eleitoral de muitas candidaturas de direita, mas sustenta que ele não será o único a contribuir. "Outras figuras políticas relevantes no Brasil vão fazer o mesmo. Tarcísio vai fazer, o Zema [governador de Minas Gerais], do nosso partido, vai fazer. Eu vou fazer o possível também", sustenta.

O importante, continua Van Hattem, é que o país alcance mais prefeitos e mais vereadores que sigam as ideias do liberalismo econômico e do conservadorismo mais do que "eventuais figuras políticas". "O que não significa que o impacto de uma liderança política nacional numa eleição local é irrelevante. Isso vale para Bolsonaro e como tantas outras figuras que estarão aí trabalhando nas próximas eleições", avalia.

Desempenho do governo Lula também influenciará

As redes sociais, a agenda de viagens e uma maior confiança de Bolsonaro em aliados pode ser importante para o sucesso da eleição de prefeitos conservadores, mas o desempenho do governo Lula também precisa ser levado em consideração, avalia o deputado Aluísio Mendes.

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Na hipótese de sucesso do governo Lula e de um bom comportamento da conjuntura econômica, a maré pode virar a favor de candidatos do PT e de outros partidos da base, avalia Mendes. O deputado Sargento Fahur concorda com a análise.

"Vai depender um pouco do desempenho do governo federal nos próximos meses até as eleições. Pelo andar da carruagem, Bolsonaro terá mais facilidade pois o governo, no meu entendimento, está sendo desastroso. Mas também é possível que o governo dê uma guinada e aí terá sua força e máquina para usar", comenta.