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Democratas e Republicanos

Como políticos brasileiros se relacionam com a política e os partidos dos EUA

Americanos vão às urnas para escolher entre Donald Trump e Joe Biden: candidatos dos EUA têm "torcidas" entre políticos brasileiros.
Americanos vão às urnas para escolher entre Donald Trump e Joe Biden: candidatos dos EUA têm "torcidas" entre políticos brasileiros. (Foto: Reprodução/Joshua Hoehne/Unsplash)

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Mesmo há poucos dias das eleições municipais no Brasil, a corrida presidencial dos EUA vem despertando mais o interesse dos políticos brasileiros, com torcidas pró e contra os candidatos Joe Biden (Partido Democrata) e Donald Trump (Partido Republicano), que tenta a reeleição. Mas, em geral, a relação de parlamentares e legendas do Brasil com os partidos norte-americanos termina aí. Com poucas exceções, não existe, de modo geral, uma conexão mais efetiva.

Os contatos entre as forças partidárias brasileiras e as dos EUA se dão basicamente em duas esferas: uma é a institucional, mantida especialmente por parlamentares do Congresso Nacional, que dialogam com seus pares de outros países. A outra é a ação individual, desempenhada especialmente por políticos mais alinhados à ideologia dos partidos dos EUA. Nesse caso, os políticos brasileiros de esquerda buscam se aproximar dos democratas; enquanto que os de direita promovem contato com os republicanos.

Em fevereiro deste ano, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) participou de uma reunião do grupo Republicans for National Renewal. A instituição é um braço do Partido Republicano, bem conectada ao presidente Trump e que apresenta como lema a frase "americanismo, não o globalismo, será o nosso credo". O antiglobalismo é uma das principais vertentes da política internacional do bolsonarismo. Para apoiadores do presidente da República, a perspectiva globalista ataca a soberania das nações.

Além de Eduardo, outros membros da base bolsonarista fazem contatos com simpatizantes do Partido Republicano. O deputado Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PSL-SP) é um dos que realiza esse tipo de atividade. Eduardo e Bragança são atualmente presidente e vice da Comissão de Relações Exteriores da Câmara.

No outro lado do espectro ideológico, a deputada federal Fernanda Melchionna (Psol-RS) é próxima do Democratic Socialists of America (DSA), grupo que reúne membros do Partido Democrata mais identificados com valores de esquerda. O DSA defende que "democracia e socialismo caminham de mãos dadas" e que as experiências comunistas de países europeus no século XX não caracterizam o verdadeiro socialismo.

Fernanda participou, em fevereiro, de uma reunião nos EUA com membros da equipe do senador Bernie Sanders, um dos principais líderes da esquerda no país, e que foi pré-candidato à presidência em 2020. A deputada Joênia Wapichana (Rede-RR) também esteve no encontro.

Sanders disse recentemente que o governo de Jair Bolsonaro promove ameaças às comunidades indígenas e quilombolas que vivem na região da base espacial de Alcântara, no Maranhão. A localidade tem sido alvo de uma disputa política e ideológica por causa da tentativa de expansão da área da base, o que pode levar à remoção de casas de centenas de famílias.

Apoiadores do presidente Bolsonaro alegam que a medida é necessária para o desenvolvimento do programa espacial brasileiro e que a ação trará vantagens inclusive para os moradores que seriam em um primeiro momento desabrigados, já que a expansão proporcionará um aumento de empregos e renda na região.

Os críticos da ideia, por outro lado, alegam que a remoção destruirá comunidades históricas e não há garantia de que os benefícios econômicos serão alcançados. Existe ainda uma oposição à influência excessiva que os EUA teriam sobre o espaço.

Partidos de esquerda mantêm estrutura de relações internacionais; os de direita, não

Os principais partidos brasileiros de esquerda, como o PDT, o PTB, o PT e o PCdoB, mantêm estruturas de diálogo com organizações políticas de outros países, como secretariados ou vice-presidências de relações internacionais. Já as principais agremiações de centro e centro-direita, como PSDB, MDB, DEM e Novo, não contam com departamentos específicos voltados ao assunto.

Sobre a política norte-americana, o secretário de relações internacionais do PCdoB, Walter Sorrentino, diz que os dois principais partidos dos EUA não estão no foco das relações da legenda com políticos daquele país. "Nós temos um contato constante com as forças socialistas e comunistas americanas. Por exemplo, a Internacional Progressista, a entidade de Noam Chomsky ou de outros intelectuais. É uma atividade bastante regular, com troca de opiniões e publicações. Mas não existe contato com os dois grandes partidos, o Democrata e o Republicano. Até porque nós somos quase inimigos para eles", explica.

O comunista relata que o PCdoB mantém contato habitual com mais de 130 organizações sediadas em diferentes países. Entre elas, o Foro de São Paulo e o Grupo de Puebla, entidades criadas para agrupar movimentos de esquerda na América Latina. A parceria principal, segundo ele, se dá na troca de opiniões políticas, na realização de intercâmbios para o conhecimento de experiências de gestão e na publicação mútua de artigos nas publicações dos diferentes partidos.

Congresso tem "grupos de amizade" institucional e diálogos suprapartidários

No ano passado, durante os trabalhos da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPI) das Fake News, a deputada Lídice da Mata (PSB-BA) propôs que o colegiado ouvisse a senadora Elizabeth Warren, integrante do Partido Democrata dos EUA. Warren foi também pré-candidata à presidência em 2020 e é crítica à gestão e aos métodos eleitorais de Donald Trump.

O convite a Warren — que não chegou a falar à comissão — é um exemplo de atividade internacional desempenhada pelo Congresso. Câmara e Senado mantêm órgãos que buscam o relacionamento com parlamentos de outros países. As instituições têm a preocupação de manter o caráter "suprapartidário", ou seja, de não se vincular a correntes políticas, nem do Brasil nem do exterior.

Na Câmara dos Deputados, um dos segmentos é o Grupo Parlamentar Brasil-EUA, presidido pela deputada Rosângela Gomes (Republicanos-RJ). O colegiado chegou a estruturar uma viagem aos EUA para uma "troca de experiências" com parlamentares locais, mas o plano foi suspenso por causa da pandemia de Covid-19. O Senado tem também grupo com o mesmo teor.

Instituição que também tem equivalentes em Câmara e Senado é a Comissão de Relações Exteriores, que é permanente nas duas casas. A do Senado é presidida por Nelsinho Trad (PSD-MS). A assessoria do parlamentar explica que o órgão atua de forma
"institucional e suprapartidária", "não devendo haver tratamento diferenciado a um ou outro partido".

Partido Democrata dos EUA tem braço no Brasil

Um grupo sediado no Brasil que está de olho de forma definitiva na eleição dos EUA é o Democrats Abroad Brazil. A entidade é a subdivisão brasileira do Democrats Abroad, segmento do Partido Democrata que busca estimular o voto por parte de americanos que estejam vivendo no exterior.

O Democrats Abroad Brazil foi fundado em abril de 2020. O vice-presidente do grupo, Jacob Lassar, explica que o principal objetivo é fazer o que os americanos chamam de "get out the vote", expressão que, em uma tradução livre, significaria algo como "extrair o voto".

"Nós não coletamos votos de eleitores. O que fazemos é conversar com a base de eleitores, promover o processo eleitoral, estimular que eles participem das eleições", ressaltou Lassar, destacando que a dinâmica do "get out the vote" é essencial para os partidos porque nos EUA o voto não é obrigatório.

Lassar disse que não há estimativas precisas sobre o número de eleitores americanos que morem no Brasil, mas a expectativa é que o total esteja na casa de 5 mil pessoas. Segundo ele, historicamente os eleitores americanos no exterior são mais propensos a votar no Partido Democrata — "mas é difícil fazer uma generalização". "Nós acreditamos que, nessa eleição, os 'foreign voters' (eleitores que moram fora do país) podem influenciar no resultado das urnas", destacou.

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