Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Deputados

Por 11 votos, Câmara rejeita PEC que dava mais poder ao Congresso no Conselho do MP

Presidente da Câmara, Arthur Lira, comandou sessão que aprovou a PEC do Ministério Público.
Presidente da Câmara, Arthur Lira, comandou sessão que analisou a PEC do Ministério Público. (Foto: Michel Jesus/Câmara dos Deputados)

Ouça este conteúdo

O plenário da Câmara dos Deputados rejeitou nesta quarta-feira (20) o texto substitutivo do deputado Paulo Magalhães (PSD-BA) à proposta de emenda à Constituição (PEC) 5/21, apontada como uma ameaça à independência do Ministério Público, que não obteve os 308 votos necessários para sua aprovação em primeiro turno.

No placar, o resultado foi de 297 contra 182 votos, além de quatro abstenções — faltaram 11 votos para aprovação, no que foi interpretado como uma derrota do presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), principal defensor da proposta. Ele se empenhou pessoalmente na aprovação da proposta e chegou a rebater sindicatos de procuradores e promotores contrários à PEC.

A sessão foi suspensa após a rejeição do substitutivo, que havia incluído modificações a pedido de setores do Ministério Público e de parlamentares da Casa na tentativa de se aprovar o texto. "O plenário vota e nós temos que obedecer o resultado. Eu não penso em vitória nem derrota", disse Lira ao fim da sessão.

Agora, os deputados em tese podem votar o texto original da proposta, de autoria do deputado Paulo Teixeira (PT-SP). "Nós temos um texto principal, temos possibilidades regimentares... Vamos analisar o que mudou em três votações para fazer uma análise política. O jogo só termina quando acaba", afirmou o presidente da Câmara.

A proposta original de Teixeira mantém a composição do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), órgão correicional responsável por fiscalizar a atuação de procuradores e promotores, em 14 membros, mas acaba com a vaga do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios. No lugar, a Câmara e o Senado elegem mais um conselheiro, que deverá ser membro do Ministério Público. Já o corregedor nacional do MP poderá provir de fora da instituição em uma escolha a ser feita pelo Congresso Nacional.

Não há garantia, porém, de que a PEC voltará a ser colocada em votação. Para parlamentares, não há mais clima para isso diante da derrota na primeira votação em plenário.

Paulo Teixeira atribuiu a rejeição ao que chamou de “máquina de propaganda” contra a proposta. “Talvez deputados não tenham se sentido encorajados a votar. Foram 11 votos a menos e eu acredito que novas rodadas poderão amadurecer um novo texto capaz de aperfeiçoar o controle do Ministério Público”, disse.

Para ele, houve um “clima nacional” contra a proposta sem levar em consideração as mudanças feitas pelo relator, deputado Paulo Magalhães. “O Ministério Público fez uma propaganda daquele texto que já não existia mais e isso cria um clima nacional contra a PEC”, disse.

VEJA TAMBÉM:

Ministério Público pressionou contra aprovação da PEC

A PEC causou polêmica desde o início por ter sido levada ao plenário sem um parecer final da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). E sofreu resistência da ampla maioria do Ministério Público, que viu na proposta uma forma de interferir na autonomia e na independência do MP.

Entidades que representam os membros do MP sustentam que a PEC 5 é composta por "diversos pontos graves". "Seja pela indesejável interferência nas atividades finalísticas, seja pela afronta a autonomia institucional e a independência funcional de seus integrantes", dizem, em nota.

O promotor Paulo Penteado, vice-presidente da Associação Nacional dos Membros do Ministério Público (Conamp), criticou em entrevista exclusiva à Gazeta do Povo a forma como a matéria é discutida pelo Congresso. Além disso, alegou que o texto não está "maduro" para ser votado, além de não atender o interesse da sociedade.

"Isso [PEC 5] não segue o procedimento comum de tramitação de emendas constitucionais, que são discussões demoradas dentro do próprio Parlamento, com muitas oitivas com integrantes da sociedade civil e com uma extensa discussão entre os parlamentares", argumentou Penteado.

Os deputados favoráveis à PEC defendiam que, no atual formato, o CNMP favorece o corporativismo e a efetiva punição a procuradores por excessos em investigações envolvendo políticos e empresários. A Gazeta do Povo mostrou, contudo, que o CNMP apresentou, em seus primeiros 14 anos de existência, números que comprovam a fiscalização sobre a conduta de seus membros.

Desde 2005, o CNMP abriu 237 processos disciplinares, julgou 212 e aplicou 138 penalidades. Os números são superiores aos do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), órgão disciplinar congênere, que não sofre pressão por alterações por parte dos deputados e abriu 140 processos, julgou 105 e fez 87 punições.

Use este espaço apenas para a comunicação de erros