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O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) está nos EUA desde o dia 30 de dezembro| Foto: Alan Santos/PR.

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) encerrou seu período de silêncio após a derrota nas eleições e retomou sua agenda política nos Estados Unidos. Desde 1º de fevereiro, participou de três eventos e concedeu três entrevistas em sua estadia em Orlando, na Flórida, onde inclusive sinalizou que voltará ao Brasil em março para liderar a oposição ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Antes de retornar ao Brasil, existe a expectativa de que Bolsonaro participe da Conferência Anual de Ação Política Conservadora (CPAC, na sigla em inglês), que será realizada em Washington, capital dos Estados Unidos, em março. O convite ao ex-presidente foi feito na quinta-feira (16). O evento também contará com a presença do ex-presidente norte-americano Donald Trump.

A retomada da atividade política e de sua comunicação pessoal com o eleitor é uma resposta que Bolsonaro dá à sua base eleitoral mais "raiz" e também ao meio político. O ex-presidente tem conhecimento do interesse de uma parcela de dirigentes e lideranças de partidos da direita e centro-direita — inclusive no próprio PL — de isolá-lo do processo de reorganização do movimento conservador.

O objetivo é manter a militância engajada e, consequentemente, seu capital político, e marcar posição no cenário político brasileiro. Sobretudo em meio ao movimento conduzido por PP e União Brasil de se unir em uma federação partidária. Bolsonaro e seu entorno político e familiar entendem que não existe a direita sem seu envolvimento, mas acharam prudente voltar a se posicionar e a dialogar com o povo para demonstrar força.

A despeito das sinalizações e falas do próprio Bolsonaro de que retorna em março ao Brasil, seu regresso ainda é uma incógnita. Ex-ministros do ex-presidente e interlocutores da família não cravam sua volta à Gazeta do Povo. Três fontes com proximidade de Bolsonaro e de sua família ouvidas em condição sigilosa entendem que a fala é mais uma sinalização do que algo concreto.

Aliado diz que volta ao Brasil não é blefe político

Aliado de Bolsonaro, o deputado federal Evair Vieira de Melo (PP-ES) conversou com o ex-presidente de seu gabinete na quarta-feira (15) e nega que o prazo seja um blefe. "Março é o radar, ele está pronto a qualquer momento, está preparando as coisas, mas vai levar até pelo menos o carnaval [para retornar]. Está conversando com algumas pessoas, traçando estratégia e organizando a volta", afirma.

Segundo um interlocutor do ex-presidente que pediu anonimato, Bolsonaro tem que falar que vai voltar para que não surja uma narrativa falsa de que ele está fugindo. Porém, na opinião de outra fonte, a hipótese de voltar em março - anunciada pelo ex-presidente ao jornal americano Wall Street Journal nesta semana - pode ser um blefe. O ex-chefe do Executivo deu entrada em um pedido de vista de turista, que, se concedido, o permitiria ficar por mais seis meses nos Estados Unidos.

A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro defende que o marido continue nos EUA. "Acho que ele precisa descansar mais, continuar por lá. Estou com ele há 15 anos e nunca o vi descansar", declarou ao jornal Correio Braziliense na quinta-feira (16).

Críticos vêm dizendo que ele não lidera mais a direita no Brasil. Mas uma fonte próxima a Bolsonaro afirmou à reportagem não acreditar no surgimento de algum candidato com capital político, apoio e apelo popular nos próximos dez anos.

O que está por trás da organização e análise do retorno de Bolsonaro

Em janeiro, Bolsonaro disse em entrevista à imprensa e ao presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, que retornaria até o fim do mês, mas postergou seus planos. Aliados do entorno pessoal do ex-presidente e de sua família afirmam desde aquele mês à Gazeta do Povo que ele próprio e sua família não estão convencidos de que há condições para um retorno seguro.

Ainda existe um temor de Bolsonaro e de familiares de que ele possa ser preso em caso de retorno ao Brasil. O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) assumiu a responsabilidade de preparar uma equipe de advogados para dar segurança jurídica na defesa ao pai em caso de novas denúncias ou investigações. Contudo, persiste o temor de "perseguição política" orquestrada por políticos da base de Lula com a anuência do Judiciário.

Um aliado da família disse à reportagem, também pedindo anonimato, que enquanto não houver uma mudança consistente no ambiente político, Bolsonaro não deve retornar, sob risco de ser "martirizado". Um indício disso seria que sua mulher Michelle retornou e ele não a acompanhou.

O temor de ser acusado por suposto cometimento do crime de genocídio contra indígenas Yanomami e também por suposta responsabilidade nos atos de vandalismo em 8 de janeiro, em Brasília, permanece no radar de Bolsonaro e sua família. Em entrevista ao jornal Wall Street Journal na segunda-feira (14), ele ponderou o risco de prisão. "Uma ordem de prisão pode aparecer do nada", afirmou.

O deputado Evair de Melo observou em Bolsonaro muita "serenidade" na conversa por vídeo-chamada que teve com o ex-presidente em seu gabinete. "O presidente está sereno, acho que ele realmente precisava desse tempo e foi importante para ele. Ele está pronto para participar e fazer o debate [de oposição]. Assim que passar o carnaval, ele já começa", comenta. Além dele, o deputado federal Hélio Lopes (PL-RJ) também participou da conversa.

O que esperar do retorno e do papel na oposição do ex-presidente

O deputado Evair de Melo afirma que Bolsonaro não decidiu ainda se "chega em silêncio" ou com uma agenda política ativa quando voltar ao Brasil. "Como que ele vai chegar aqui e qual é a estratégia para chegar, ele ainda não definiu", comenta. O aliado avalia que o ex-presidente terá um papel importante a cumprir na oposição e na reorganização da direita.

"Onde ele estiver, vai juntar milhares, tenho certeza disso. Ele não só organiza, como mobiliza a direita. A capacidade de mobilização dele é até maior que a organização. A direita é tão grande que organizá-la não é algo simples, mas ele vai conseguir mobilizar com a impressionante capacidade que tem", comenta Melo, que é cotado para assumir a liderança da minoria na Câmara, um espaço de oposição ao governo vigente.

A expectativa do presidente do PL, Valdemar Costa Neto, é de que Bolsonaro retorne para liderar a direita no Brasil e também o PL. Lideranças próximas à cúpula do partido afirmam que o objetivo é que o ex-presidente viaje o país com foco nas eleições municipais, especialmente as cidades com mais de 200 mil habitantes. "Tem que construir uma base política forte, depois nos preparamos para as eleições de 2026", sustenta um dirigente.

O desafio de reagrupar a direita inclusive no PL é um dos desafios previstos para Bolsonaro. Uma das fontes próximas ao ex-presidente ouvidas pela reportagem ressaltou a divisão da direita por interesses divergentes de natureza pontual ou estrutural. Ainda assim, ela diz acreditar que a direita estará unificada nas eleições de 2026.

Bolsonaro seguirá sendo o líder da direita conservadora, diz Bia Kicis

A deputada Bia Kicis (PL-DF), presidente do diretório distrital do partido, reforça a importância do retorno do ex-chefe do Executivo. "A volta do Bolsonaro é muito esperada, e a expectativa, sim, é que ele siga como um líder da direita e organizando essa direita conservadora, porque ele é uma pessoa que inspira os conservadores e a direita no Brasil. E tem bastante experiência para ajudar a conduzir o processo de oposição", afirma.

A deputada Silvia Waiãpi (PL-AP) diz que Bolsonaro pode agregar valor e "arrebanhar" os eleitores no processo de reorganização da direita, inclusive indígenas. "Ele sempre arrebanhou multidões, inclusive uma parcela da população indígena que produz para o seu país. Ele é amado por indígenas porque ele deu a oportunidade que indígenas se desenvolvessem economicamente em suas próprias terras", destacou.

Aliados mais próximos sustentam que Bolsonaro segue sendo o nome mais forte da oposição e o único com apelo popular junto às massas. Para eles, o ex-presidente será o candidato caso mantenha os direitos políticos. No Senado, aliados sustentam que uma candidatura dele em 2026, como sugeriu o senador Flávio Bolsonaro, não é um "balão de ensaio" e o tratam como o principal nome de oposição a Lula por manter o capital político.

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