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O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) está em um “silêncio barulhento” em relação à eleição do democrata Joe Biden à presidência dos EUA. Nem o Palácio do Planalto nem o Ministério das Relações Exteriores se pronunciaram sobre a eleição americana. A postura, dizem interlocutores, foi adotada por prudência, já que alguns estados não haviam finalizado a contagem de votos oficialmente.
Apesar de não se manifestar sobre o resultado da eleição americana, Bolsonaro não está recluso. Ele tem usado normalmente suas redes sociais e chegou a fazer uma live de cerca de trinta minutos, em que tratou da situação no Amapá e falou sobre as eleições da próxima semana sem nenhuma menção à vitória de Biden.
Esse silêncio isola o Brasil no plano internacional, já que inúmeros líderes e chefes de estado já reconheceram a vitória de Biden, até mesmo alguns que tinham alinhamento junto ao governo de Donald Trump, como é o caso do primeiro-ministro britânico, Boris Johnson. Pesa também neste silêncio de Bolsonaro o fato de que Trump não reconheceu a derrota. O atual presidente americano foi ao Twitter alegar que venceu a eleição, pois tem 71 milhões de votos e diz que seus observadores foram impedidos de acompanhar a contagem de votos.
Mas outras lideranças no Brasil já se manifestaram e parabenizaram Biden. É o caso de Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara dos Deputados e o primeiro a se manifestar. Além dele, Luís Roberto Barroso, presidente do TSE e ministro do STF, também comentou o resultado. Em comum, ambos exaltaram o processo e os valores democráticos.
“A vitória de JoeBiden restaura os valores da democracia verdadeiramente liberal, que preza pelos direitos humanos, individuais e das minorias. Parabenizo o presidente eleito e, em nome da Câmara dos Deputados, reforço os laços de amizade e cooperação entre as duas nações”, escreveu Maia em seu Twitter.
A mensagem de Barroso, também no Twitter, seguiu a mesma linha. “Democracia significa eleições limpas, alternância no poder e respeito aos resultados. E, também, civilidade. Cumprimento Joe Biden, presidente eleito dos Estados Unidos, e a vice Kamala Harris, primeira mulher eleita para a função no país”, escreveu.
Silêncio de Bolsonaro contrasta com estilo do presidente
De acordo com fontes do Planalto, Bolsonaro reagiu com "tranquilidade" ao resultado e reforçou que vai esperar um "quadro concreto" para se pronunciar. Ainda segundo integrantes do governo, o presidente considera qualquer pronunciamento uma afobação e vai aguardar o término dos processos judiciais movidos por Trump, que não reconhece a derrota e contesta o resultado alegando, sem provas, que há fraude no processo judicial.
O silêncio de Bolsonaro não está atrelado a uma expectativa de reviravolta nas urnas, mas a uma "prudência" de que a imprensa, alvo frequente de ataques de Trump e Bolsonaro, tenha errado. Mas esse movimento contrasta com o estilo do presidente, que costuma usar as redes sociais para rebater ou felicitar adversários.
Foi o que ocorreu, por exemplo, em 30 de setembro, quando Biden fez críticas à preservação da Amazônia e ameaçou sanções econômicas sobre o governo brasileiro. Bolsonaro não demorou a rebater o democrata nas redes.
Como outros presidentes parabenizar o eleito nos EUA
É comum que chefes de governo se manifestem logo após um país chegar ao resultado das eleições presidenciais. Alguns dos primeiros foram os primeiros-ministros do Canadá, Justin Trudeau da Alemanha, Angela Merkel, o presidente da França, Emmanuel Macronm e o primeiro-ministro britâncio, Boris Johnson. Todos usaram suas redes sociais.
O momento de falar é uma decisão de política externa do Palácio do Planalto. E costuma variar de presidente para presidente. Em 2000, quando a eleição americana também passou por contestação na Justiça e recontagem de votos, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) só enviou carta ao republicano George W. Bush, vencedor, 36 dias após a votação, em dezembro. Bush derrotara Al Gore, democrata na sucessão de Bill Clinton, de quem FHC era amigo.
Já Luiz Inácio Lula da Silva, em 2008, telefonou para Barack Obama no mesmo dia do anúncio do resultado. O presidente eleito americano retornou dias depois e eles conversaram por 15 minutos. Por sua vez, Michel Temer, em 2016, preferiu parabenizar com um telegrama.
Outro aliado de Trump, o primeiro-ministro de Israel, Biyamin Netanyahu, parabenizou o presidente e a vice-presidente eleitos dos EUA, por meio de uma mensagem no Twitter na madrugada deste domingo (8).
Segundo a reportagem apurou, assim que Bolsonaro decidir, a Presidência está pronta para fazer contato com o vencedor. Porém não está descartado que Bolsonaro se manifeste apenas pelo Twitter. O chefe do Executivo também pode determinar que o contato seja feito pelo embaixador brasileiro nos Estados Unidos Nestor Foster.