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O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) deve permanecer nos Estados Unidos pelo menos até fevereiro. Alguns aliados e interlocutores próximos de sua família acreditam, inclusive, que é provável que ele permaneça em Orlando, na Flórida, durante o período do carnaval, que se encerra em 21 de fevereiro.
Existe, inclusive, a previsão de que Bolsonaro se reúna no próximo mês com o cantor Netinho no país norte-americano, conforme apurou a Gazeta do Povo. O músico é apoiador do ex-presidente e disputou o cargo de deputado federal pelo PL na última eleição com o nome "Netinho da Bahia". Ele obteve cerca de 31,4 mil votos válidos, mas não se elegeu.
A permanência de Bolsonaro nos Estados Unidos pode depender, contudo, de ajustes no status de seu visto. Ele entrou no país quando ainda era presidente da República, ou seja, com visto diplomático. Para continuar em Orlando, ele precisa do status de visto de turista, o que permitiria a ele permanecer lá por até seis meses.
O visto diplomático do ex-presidente expira na segunda-feira (30), mas aliados afirmam que ele deu início ao processo de ajustamento do status de seu visto. Caso a solicitação seja negada e ele não retorne ao Brasil, um cenário possível seria o de deportação. Alguns deputados do Partido Democrata pressionam há semanas o presidente norte-americano, Joe Biden, para que isso ocorra.
Porém o entorno de Bolsonaro confia que o pedido de alteração do visto será concedido e que isso seja o suficiente para assegurar suas condições de permanência. Contudo, ainda que consiga a autorização do Estado norte-americano é incerto o período provável que Bolsonaro permaneceria nos Estados Unidos.
O que ainda pesa sobre a decisão de retorno de Bolsonaro ao Brasil
O ex-presidente ainda vive um dilema sobre retornar ou não ao Brasil. Uma parcela de seu entorno político e familiar acha que é importante ele retornar ao país e outro grupo entende que é mais prudente permanecer nos Estados Unidos. O vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) é um dos membros da família que defende a permanência do ex-presidente em Orlando. O entendimento é de que o retorno não é prudente em razão do atual momento político do país.
A percepção entre aliados e familiares que apoiam a permanência de Bolsonaro em solo norte-americano é de que um retorno agora o tornaria um alvo fácil para a esquerda e até para lideranças de centro que apoiam investigação e possível prisão do ex-presidente.
Há pedidos de investigação feitos ao Ministério Público Federal (PF) por deputados do PT por suposto cometimento do crime de genocídio contra indígenas Yanomami e também por suposta responsabilidade nos atos de vandalismo em 8 de janeiro. O senador Renan Calheiros (MDB-AL) defendeu a prisão do ex-presidente.
Por essas razões, interlocutores próximos da família afirmam que qualquer retorno de Bolsonaro ficaria para após o início do ano legislativo e provavelmente até após o carnaval. Como a nova legislatura tem mais parlamentares conservadores, parte deles alinhados ao ex-presidente, a ideia é retornar ao Brasil com algum apoio político.
O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), aliás, retornou ao Brasil para apoiar a candidatura do senador eleito Rogério Marinho (PL-RN) à presidência do Senado, mas também para pavimentar o "terreno" político e também jurídico favorável ao regresso do pai. A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro também retornou na noite de quinta-feira (26) ao Brasil após passar quase um mês em Orlando. Segundo o site Metrópoles, porém, o motivo está associado à volta às aulas da filha, Laura Bolsonaro.
Quem pressiona pelo retorno de Bolsonaro ao país
Com o prolongamento da estadia de Bolsonaro, ele descumpre uma sinalização feita a alguns aliados políticos, como o presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, de que retornaria ao país ao fim do vencimento do período do visto diplomático. Ou seja, a previsão era de que ele poderia voltar até o fim de janeiro.
"Ele me disse que retorna no fim do mês e aqui no PL ele vai ter uma importância muito grande", afirmou Valdemar nesta sexta-feira (27) em entrevista à CNN Brasil. O presidente do PL é um dos principais entusiastas do retorno de Bolsonaro ao Brasil. Aliados da ala política do partido e outras lideranças conservadoras defendem que ele retorne e participe do processo de reorganização da direita.
Valdemar espera que Bolsonaro volte e o ajude a dialogar com os eleitores conservadores. "Nós temos o pessoal que é de direita, eu diria de extrema-direita, e esse pessoal eu vou ter um pouco de dificuldade com eles, eu não tenho dúvida. E ele pode me ajudar muito nisso, porque todos eles respeitam muito o Bolsonaro, consideram o Bolsonaro, e o Bolsonaro pode fazer um grande trabalho aqui no partido, devagar", comentou.
O presidente da legenda manifestou o interesse de que o ex-presidente participe de palestras e seja um importante cabo eleitoral do PL para fazer prefeitos e vereadores nas eleições municipais do próximo ano. "Hoje, nós temos 350 prefeitos no Brasil. Nós pretendemos chegar a mil prefeitos. Mas para isso o Bolsonaro tem prestígio nesses lugares, nessas cidades, então ele pode dar um impulso muito grande nos nossos candidatos", comentou o presidente do PL.
Além das motivações políticas, alguns aliados também aconselham o ex-presidente a voltar por razões de saúde. O médico Antônio Luiz Macedo, que trata Bolsonaro desde 2018, quando o ex-presidente levou uma facada durante um ato de campanha eleitoral em Juiz de Fora (MG), disse que ele terá que passar por uma nova cirurgia no intestino assim que retornar ao Brasil. A preocupação com o quadro clínico dele elevou os pedidos de regresso.