De volta ao Brasil depois da sua última viagem ao Japão, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pretende realizar nos próximos dias uma avaliação médica para bater o martelo sobre a necessidade de uma cirurgia no quadril. A decisão, no entanto, não será apenas médica e vai levar em consideração o cenário político para que o petista defina o melhor momento para passar pela intervenção.
O presidente vem se queixando de dores no quadril há alguns meses devido a um diagnóstico de artrose. Desde então, Lula vem realizando tratamento não invasivos, mas a avaliação é de que o quadro se agravou nas últimas semanas e por isso seria necessário o afastamento para uma cirurgia.
Integrantes do Palácio do Planalto, no entanto, sinalizam que a intervenção neste momento poderia atrapalhar o avanço de algumas pautas de interesses do governo no Congresso Nacional. Para evitar esse afastamento, alguns aliados defendem que Lula adie essa decisão para o período do recesso parlamentar de meados de julho.
O pano de fundo para a defesa desse adiamento é a mobilização dos articuladores do Planalto junto ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), para tentar aprovar a reforma tributária ainda neste semestre. O ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, tem se movimentado no intuito de aprovar a matéria antes do recesso parlamentar.
Na última sexta-feira (19), durante uma reunião do Consórcio de Integração Sul e Sudeste (Cosud), que reuniu governadores de estados das duas regiões, Lira indicou que pretende pautar a proposta após a aprovação do novo arcabouço fiscal. A nova regra fiscal passou na Câmara na última terça-feira (23).
“Depois da votação do arcabouço, nós teremos ainda junho e julho para terminarmos essas discussões e conseguirmos pautar no plenário da Câmara [a reforma tributária], ainda antes do recesso do fim de julho”, disse o presidente da Câmara.
A avaliação entre os integrantes do Planalto é de que a reforma tributária vai demandar um grande esforço por parte da articulação política. Com isso, os petistas avaliam que um envolvimento de Lula junto aos congressistas será determinante para que a pauta avance ao menos na Câmara ainda neste semestre.
Janja pode influenciar na decisão de Lula sobre cirurgia ainda neste semestre
Apesar da avaliação por parte dos aliados políticos, assessores do Palácio do Planalto admitem que a primeira-dama Rosângela Silva, a Janja, terá grande influência sobre a decisão de Lula. De acordo com esses auxiliares, caso a equipe médica defenda a realização da cirurgia imediatamente, a expectativa é de que Janja tenha mais influência sobre a decisão do que a ala política do governo.
Com a eleição de Lula, a primeira-dama passou a controlar com mais rigor a agenda de compromisso do presidente. Desde a campanha do ano passado, Janja já vinha definindo períodos de descanso com o intuito de preservar a saúde do petista. Tamanha influência chegou a gerar, inclusive, queixas por parte de integrantes do PT.
O petista já vinha sendo aconselhado a diminuir o ritmo de viagens internacionais como forma de poupar a sua saúde. Um dos argumentos do presidente é de que ele não pode parar "só por causa de uma dor".
Além da última viagem ao Japão, onde participou da cúpula do G7, o petista esteve recentemente na China, nos Emirados Árabes, em Portugal, na Espanha e na Inglaterra. Além disso, participou de agendas nos estados de São Paulo, Bahia e no Ceará.
Operação pode adiar viagens de Lula dentro e fora do Brasil
Além das agendas políticas, uma eventual cirurgia ainda neste semestre pode fazer com que Lula tenha que adiar uma série de viagens que já estavam sendo planejadas. Além das agendas internacionais, o petista vinha sendo cobrado pelos seus aliados para ampliar as visitas aos estados brasileiros como forma de ampliar a popularidade do governo.
Caso a intervenção seja realizada nas próximas semanas, o presidente só poderá fazer longas viagens após cerca de quatro semanas depois da operação. Nesse cenário, o petista precisaria abrir mão de agendas no exterior durante o período de recuperação.
O governo está preparando para meados de junho e julho visitas a alguns países da África, como Angola e Moçambique. Além disso, o Itamaraty prepara algumas agendas com a Bélgica e a Argentina. Caso isso ocorra, apenas as viagens para participar do G20, na Índia, e da Assembleia Geral da ONU, nos Estados Unidos, ambas em setembro, seriam mantidas.
Já as viagens dentro do Brasil poderiam ficar comprometidas, pois além do deslocamento de avião, eventos no interior do país implicam, muitas vezes, em sobe e desce de helicóptero. Outros pontos que podem prejudicar a recuperação são as caminhadas e as diversas horas em pé. Neste caso, ele teria que adiar, por exemplo, as viagens que pretende fazer a cada uma das cinco regiões do país para prestigiar as discussões do Plano Plurianual Participativo junto à sociedade civil.
Lula já teria indicado aos seus auxiliares mais próximos que não pretende abrir mão de sua agenda de trabalho neste momento. Com isso, caso a avaliação médica desta semana permita o adiamento da cirurgia, o petista pretende marcar a operação apenas para o final do ano, período que considera ser mais viável para o seu afastamento.
Ainda no ano passado, durante o período de transição, Lula passou por uma cirurgia para a retirada de uma leucoplasia (lesão) nas cordas vocais, considerada bem sucedida. A leucoplasia é o desenvolvimento de manchas ou placas brancas principalmente nas pregas vocais, mas elas também podem aparecer na região da laringe.
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