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Reforma ministerial a caminho

PP e Republicanos vão aderir ao governo Lula impulsionados por interesses partidários e privados

Marcos Pereira
O presidente do Republicanos, deputado Marcos Pereira (SP), conduz estratégia de adesão ao governo para pavimentar sua candidatura à presidência da Câmara em 2025. (Foto: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados.)

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Os partidos conservadores PL, PP e Republicanos, que anteriormente se uniram com o objetivo de reeleger um presidente de direita e evitar a volta da esquerda ao poder, agora estão reformulando estratégias. Eles estão enfrentando dissensos internos para se adequarem à nova e intrigante conjuntura política e atender às demandas privadas de seus parlamentares por cargos e verbas.

Sete meses após o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) sair do Palácio do Planalto, essas legendas estão se reposicionando com diferentes níveis de colaboração com o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o seu principal adversário nas eleições de 2022. E o comportamento que adotarão reflete, proporcionalmente, os respectivos graus de conservadorismo e de apoio a Bolsonaro de cada uma delas.

O desafio de equilibrar a identidade conservadora com a realidade política liderada pelo esquerdista Lula, na qual o Legislativo de centro-direita é a variável determinante para a governabilidade, tem objetivos concretos. O PL tem no seu filiado Jair Bolsonaro o principal ativo político e a alavanca de votos para manter sua perspectiva de crescimento nas eleições municipais de 2024. A tendência é portar-se como oposição clássica, tolerando votações dos filiados a favor do Planalto justificadas pelo “interesse nacional”.

O PP, por sua, vez tende a optar por posição mais colaborativa com o governo atual, como consequência de acertos programáticos para ocupar espaços na máquina pública em troca de estabilidade nas votações na Câmara, tendo o seu presidente e filiado do partido, Arthur Lira (AL), como o principal fiador. Isso tudo sem a promessa de integração plena à base governista, sem abdicar da postura de “oposição responsável”.

Por fim, no Republicanos, cuja base social tem ligações mais firmes com convicções ideológicas vinculadas a Bolsonaro, incluindo o cada vez mais influente público evangélico, o adesismo “independente”, inclusive com cargos na Esplanada dos Ministério, deve servir ao propósito estratégico de garantir o comando da Câmara ao presidente nacional da sigla, deputado Marcos Pereira (SP) a partir de 2025, com o respaldo de Lula.

Maior desafio é manter o verniz ideológico perante os eleitores

Nos três casos, a busca por um caminho coerente que represente seus eleitores e princípios ideológicos é desafiadora. O cientista político Ismael Almeida avalia que o atual reposicionamento de PL, PP e Republicanos para buscar abertamente espaços no governo é muito complexo diante do quadro político e eleitoral do país, ainda marcado pela polarização. “Caso esses movimentos sejam mal calculados, corre-se o risco de jogar essas legendas na chamada "lista negra bolsonarista". Desta forma, o risco de perder o verniz conservador poderá implicar em sérias dificuldades nas urnas”, observou.

Em sua live semanal, na última terça-feira (25), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse ser “normal” ceder espaços no governo para ampliar a base no Congresso, mencionando PP e Republicanos. Mas tentou mostrar ter o domínio sobre as negociações. “O Lula não conversa com o Centrão. O Lula conversa com partidos individualmente. O Centrão não existe. É só um ajuntamento de partidos em determinadas situações”, afirmou ele, usando a terceira pessoa do singular para explicar como pretende tocar as negociações. “Quem escolhe o ministério é o presidente”, declarou.

O ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, já se reuniu semana passada com os deputados cotados para integrar o governo: André Fufuca (PP-MA), líder do partido na Câmara, e Sílvio Costa Filho (Republicanos-PE). Nas conversas, o PP deixou claro que precisa de uma pasta robusta para garantir a maioria de seus quase 50 deputados. Após a negativa de entrega do Ministério da Saúde, o partido tem insistido na pasta do Desenvolvimento Social, de Wellington Dias (PT), responsável pelo Bolsa Família. Lula tenta mostrar resistência às investidas e disse que o objetivo das conversas é “conseguir mais tranquilidade nas votações do Congresso”.

Abalos na frente de Bolsonaro começaram após vitória do PT na reforma tributária

As diferenciações entre as três legendas em relação ao cenário político se intensificaram após a votação da reforma tributária na Câmara, em 7 de julho. A campanha contra a medida liderada por Bolsonaro provocou um racha na direita. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, principal político eleito pelo Republicanos, expôs a sua discordância da resistência em relação à reforma. Por fim, 20 dos 99 deputados do PL acabaram votando a favor da proposta, contrariando o ex-presidente Bolsonaro. E não houve reprimendas por parte do PL.

Essa crise deu a oportunidade para os presidentes do Republicanos e do PP mostrarem suas diferenças em relação a Bolsonaro. Ciro Nogueira (PP), que já fez parte de governos petistas e afirma ter “afeto por Lula”, destacou: “a oposição não tem direito de agir de forma irresponsável”.

Marcos Pereira (Republicanos), por sua vez, rotulou a postura de Bolsonaro e de seus aliados fiéis como “radicalismo de extrema-direita”. O presidente do PL, Valdemar da Costa Neto, por fim, conteve as deserções na sua bancada, a maior da Câmara, e tocou adiante o plano para as eleições municipais.

Essas divergências entre os três partidos, que estiveram juntos ao lado de Bolsonaro durante a campanha e obtiveram votos significativos por meio do ex-presidente, começaram a aparecer logo após a proclamação do resultado do segundo turno. O PL, em nome da coligação, contestou a confiabilidade das urnas junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o que provocou sanções pesadas, como multas e bloqueio de recursos do fundo partidário. Nesse contexto, Republicanos e PP discordaram da iniciativa do PL, reconhecendo a vitória de Lula e buscando a liberação dos recursos devidos junto ao TSE.

Presidentes das siglas tentam fixar limites para o governismo

Em relação à abordagem para um possível ingresso no governo Lula, Ciro Nogueira afirmou que não identifica o PP como uma legenda para a base de apoio, mas também não impede que filiados façam parte da administração federal. Ele planeja lançar uma “cartilha” para definir princípios fundamentais do partido nas votações no Congresso, permitindo que a bancada até apoie o governo em alguns assuntos.

Quanto ao Republicanos, não ficou claro o grau de governismo ou independência que irá adotar. O partido deve atrelar sua estratégia ao plano de Marcos Pereira para suceder Arthur Lira (PP-AL) na presidência da Câmara, cargo para o qual já é vice pelo segundo mandato seguido.

Pereira teme que Lira emplaque o aliado Elmar Nascimento (União Brasil-BA) como seu sucessor. A formação dos dois maiores blocos partidários na Câmara, um encabeçado pelo PP de Lira e outro pelo Republicanos de Pereira, parte da mesma lógica. Para Pereira ter candidatura competitiva, seria necessário um impulso vindo do Planalto. Para alcançar isso, o Republicanos adotaria postura governista em momentos estratégicos e independente em outros, a fim de agradar os seus deputados de oposição restrita.

Para o cientista político Luiz Filipe Freitas, o governo começa a mostrar suas reais características, apesar de um início com certa dificuldade, definida pela insatisfação de parlamentares liderados por Arthur Lira. “O governo tomou rumo e para isso precisa ceder e explicitar os termos da coalizão. A nova postura não representa nenhum prejuízo para Lula, pelo contrário. Prova disso é o sucesso de votações no fim do semestre na Câmara, como a reforma tributária, na perspectiva de uma nova conjuntura”, disse.

Ele acrescenta que o governo segue investindo na aproximação também de governadores que apoiaram Bolsonaro, com anúncio de investimentos nos estados.

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