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Um dos três grandes partidos envolvidos na Lava Jato junto com PT e MDB, o PP (ou Progressistas, como agora prefere ser chamado) deu a volta por cima e caminha para entrar definitivamente na lista dos partidos mais poderosos do país. O PP conquistou o segundo maior número de prefeituras nas eleições de 2020, é o principal partido da base de apoio do governo no Congresso e agora pode chegar ao comando da Câmara com Arthur Lira (AL) – além de ser uma das siglas favoritas para receber o presidente Jair Bolsonaro para a disputa de 2022.
Um dos mais recentes exemplos do prestígio do PP é que políticos do partido estão atuando de "bombeiros" num dos principais problemas do país: o impasse entre Brasil e China por causa da compra dos insumos para a fabricação da vacina contra a Covid-19.
No Senado, Kátia Abreu (PP-TO) lidera um grupo de congressistas que planeja uma reunião com o embaixador do país asiático, Yang Wanming. E na Câmara, o deputado Fausto Pinato (PP-SP) usa sua prerrogativa de presidente da Frente Parlamentar Brasil-China para também entrar nas negociações.
“O presidente Jair Bolsonaro tem a faca e o queijo nas mãos para reconstruir a relação com a China. A relação entre os dois países é muito importante, ainda mais neste momento em que os Estados Unidos mudam de presidente. Um gesto que o senhor ministro [Ernesto Araújo, das Relações Exteriores] poderia fazer aos brasileiros e ao mundo é adotar uma nova postura e ajudar o Brasil a superar as crises dos últimos anos. É hora de mudar a estratégia e enxergar o óbvio”, afirmou Pinato, que enviou uma carta em nome da frente ao presidente chinês, Xi Jinping.
Lira e a cereja do bolo para o PP: a possível filiação de Bolsonaro
Mas, nesse contexto de crescimento do protagonismo do PP na política nacional, os principais holofotes vão para o líder do partido na Câmara, Arthur Lira (AL). O parlamentar é um dos favoritos para a eleição de presidente da Casa, agendada para 1.º de fevereiro.
Lira tem conquistado a adesão inclusive de deputados que estão contrariando as direções de seus partidos, como Elmar Nascimento (DEM-BA), Daniela do Waguinho (MDB-RJ) e Celso Sabino (PSDB-PA). DEM, MDB, PSDB e outras legendas compõem, formalmente, o bloco do principal adversário de Lira, Baleia Rossi (MDB-SP).
A meta do PP, para coroar em definitivo o bom momento do partido, é ter Jair Bolsonaro como um de seus filiados. O presidente já foi do PP por mais de uma década, quando ainda era deputado. Bolsonaro deixou a sigla em 2016, quando foi para o PSC. Na ocasião, ele já planejava seu projeto presidencial.
"O próprio presidente [do PP] Ciro [Nogueira, senador pelo Piauí] já 'fez a corte' a ele, para que ele [Bolsonaro] faça o retorno à sua casa. Eu espero que seja assim. Ter um presidente da República filiado é algo que muda as coisas", diz a ex-senadora Ana Amélia Lemos (RS), que é vice-presidente nacional do partido.
Desde que o Brasil se redemocratizou e voltou a votar para presidente da República, o PP nunca lançou um candidato ao Palácio do Planalto. Por não ter nomes com densidade eleitoral para concorrer à Presidência, preferiu se aliar formalmente ou extraoficialmente com candidatos de outros partidos.
Para o PP, sua força vem do fato de ser de centro
A ascensão recente do PP é marcada por, entre outros fatores, discursos de seus líderes reafirmando que o partido é uma força de centro.
"Eu sou um candidato do Centro do espectro político. Eu sou líder de um partido que vem apoiando as pautas do atual governo, mas não apenas deste, em todos os temas centrais que dizem respeito às questões estratégicas do país, mesmo que momentaneamente essas pautas tenham sido estigmatizadas por interesses eleitorais e efêmeros", disse Arthur Lira em artigo publicado no site Poder360 na quarta-feira (20).
Lira concorre ao comando da Câmara tendo como apoiador o próprio presidente Bolsonaro. A aproximação entre ambos teve como pontapé inicial um encontro no Palácio do Planalto em abril do ano passado. A partir dali só cresceu a parceria entre Bolsonaro e o chamado Centrão da Câmara, grupo que tem em Lira seu principal expoente e o PP como a legenda mais expressiva.
O "namoro" entre o PP e Bolsonaro teve também como capítulo a nomeação de Ricardo Barros (PP-PR) como líder do governo na Câmara, em agosto do ano passado. O paranaense substituiu no posto o deputado Vitor Hugo (PSL-GO), parlamentar de primeiro mandato e visto como integrante da "ala ideológica" do bolsonarismo.
Pouco após chegar à liderança do governo, Barros concedeu uma entrevista à Gazeta do Povo em que valorizou as "virtudes" do centro. "Ao longo do tempo [Bolsonaro] entende o funcionamento do processo e percebe que precisa do centro para governar. Nenhum dos extremos consegue governar, porque não tem universalidade para isso. Então, governar é com o centro. É com o conjunto. E se o governo é de direita, então é centro-direita; se o governo é de esquerda, então é centro-esquerda. Só com as pontas, ninguém governa", disse.
A ex-senadora do PP Ana Amélia avalia que uma vitória de Lira trará ainda outro peso ao partido. "Se Lira vencer a eleição, passará a ser o terceiro da linha sucessória do Brasil, atrás apenas do presidente e do vice. Isso é algo que amplia o espaço do partido na representação institucional", diz a ex-parlamentar, que atualmente é Secretaria Extraordinária de Relações Federativas e Internacionais do Rio Grande do Sul.
Números estão a favor da sigla, mas corrupção é uma mancha
O desempenho do PP tem sido positivo não apenas no Congresso. O partido foi a segunda legenda que mais conquistou prefeituras nas eleições municipais de novembro. Foram 685 vitórias nas cidades, contra 195 obtidas em 2016, quando o PP foi apenas o quarto partido com mais prefeituras. Em 2020, o PP voltou a vencer em capitais: Cícero Lucena foi o eleito em João Pessoa (PB) e Tião Bocalom triunfou em Rio Branco (AC).
Além disso, PP hoje é o quarto partido com mais filiados, atrás apenas de MDB, PT e PSDB. São 1,34 milhão de integrantes, de acordo com os números do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de dezembro de 2020.
Mas a mancha das acusações de corrupção continua sobre o partido. O Supremo Tribunal Federal (STF) julga processos contra a cúpula da legenda, formada por Lira; pelo presidente da legenda, Ciro Nogueira; e também por outros nomes, como Eduardo da Fonte (PE) e Aguinaldo Ribeiro (PB). A expressão "quadrilhão do PP" entrou no vocabulário da Lava Jato para designar políticos do partido acusados de desviar recursos da Petrobras.
As denúncias contra o PP são minimizadas pela ex-senadora Ana Amélia. "Se você puxar qualquer partido, seja de centro, de direita ou de esquerda, vai ver que com todos acontece a mesma coisa. Isso não reside apenas no PP. O que os líderes precisam fazer é reconstruir, atuar para criar uma imagem melhor diante da sociedade. Mas é importante termos em mente que os eleitores não votam em partidos, e sim em candidatos. Ou você acha que alguém votou no Bolsonaro em 2018 porque ele estava filiado ao PSL?", disse.