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O governo do presidente Jair Bolsonaro é "baseado em mentiras", afirmou o ex-juiz Sergio Moro no lançamento do seu livro “Contra o Sistema da Corrupção” (Sextante), em Curitiba, nesta quinta-feira (2). O pré-candidato a presidente pelo Podemos não quis falar sobre seu projeto eleitoral para 2022, focando em temas presentes na obra, mas sua palestra foi recheada de críticas a Bolsonaro, que deve disputar com ele parte do eleitorado de direita no ano que vem.
Ao contar sobre sua participação no governo como ministro da Justiça, Moro disse que Bolsonaro desmantelou o combate à corrupção, citando a falta de apoio do presidente ao projeto de lei anticrime, a falta de compromisso do presidente em vetar itens incluídos pela Câmara dos Deputados neste projeto – os quais ele classificou como “retrocessos no combate à corrupção” – e supostas interferências na Polícia Federal e no Coaf, órgãos que, segundo Moro, devem ser autônomos, servindo o Estado e não a um governo.
“Esse é um governo baseado em mentiras”, afirmou. “Desde que sai do Ministério da Justiça, acelerou o desmantelamento do combate à corrupção”. Segundo ele, "quem fazia a coisa certa era mandado embora", referindo-se a Roberto Leonel, ex-diretor do Coaf indicado por Moro que acabou demitido.
Mas Moro disse que esse desmantelamento também teve ajuda do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Legislativo, os quais, segundo ele, tomaram decisões erradas. O ex-ministro falou de leis aprovadas no Congresso, como a nova lei de abuso de autoridade e a reforma da lei de improbidade, e de decisões “equivocadas” da Suprema Corte, como o fim da prisão em segunda instância e as anulações das sentenças que condenaram o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Foram anuladas decisões por questões formais sem apresentar decisões substanciais: a Petrobras foi saqueada ou não?”, perguntou Moro retoricamente.
O pré-candidato afirmou que foram esses “retrocessos” que o motivaram a voltar ao Brasil para apresentar um projeto para governar o país. “Temos que olhar para o futuro com esperança e não desapontados”, disse Moro, emendando: “Voltei por vocês”. "O país vai mal porque a liderança é ruim", sentenciou.
Moro disse acreditar que é possível governar sem “toma lá, dá cá”. Desde que se apresentou como pré-candidato à Presidência, ele tem sido cobrado sobre como negociaria com um Congresso muitas vezes avesso às pautas anticorrupção e, até mesmo, ao papel que ele desempenhou como juiz da Lava Jato. Moro se defendeu dizendo que, durante o tempo em que foi ministro da Justiça, recebeu muitos parlamentares em seu gabinete e foi ao Congresso diversas vezes. “Dá para negociar sem toma lá, da cá, mas primeiro é preciso ter projeto, liderança e diálogo”.
Transparência não deve ser confundida com vazamento, diz Moro
Ao comentar acusações que recebeu sobre vazamentos seletivos durante a Lava Jato, Moro repetiu uma frase que costumava dizer quando era juiz da operação: “A Justiça não pode ser guardiã de segredos sombrios”. Ele explicou ser a favor da publicidade de processos por corrupção na administração pública e acrescentou que isso não deve ser confundido com vazamentos.
O ex-juiz prometeu ainda um segundo volume do livro: “Algumas coisas ficaram de fora. Não porque eu tenha algo a esconder. Mas porque daqui um tempo, uns dez anos, escreverei um novo livro contando coisas que agora não pude”.