Ouça este conteúdo
Ainda falta um ano e oito meses para a eleição presidencial, mas, como se diz na política, “2022 está logo aí”. Não à toa, o presidente Jair Bolsonaro decidiu não mais esperar pela criação do Aliança pelo Brasil e vai definir seu futuro partido até março. Assim como ele, outros atores políticos se articulam para criar a musculatura necessária para transformar suas pré-candidaturas em candidaturas concretas até o próximo ano.
Tal como Bolsonaro, alguns nomes estão mais do que postos, a exemplo de Ciro Gomes (PDT), ex-governador do Ceará. O pedetista não enfrenta resistências internas e tem a candidatura praticamente sacramentada, diferentemente do PT, onde Fernando Haddad não é unanimidade, uma vez que pode ter a concorrência do governador da Bahia, Rui Costa.
A mesma concorrência interna é nítida no PSDB. O governador de São Paulo, João Doria, vem tratorando para se posicionar como único candidato na legenda. Mas outro tucano, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, também se apresenta como pré-candidato.
A disputa em 2022, evidentemente, não se limita a Bolsonaro, Gomes, Haddad, Doria e Leite. Há, pelo menos, outros cinco pré-candidatos a se monitorar. E outros, eventualmente, poderão surgir para pleitear o posto máximo da República. Afinal, a eleição da Mesa Diretora da Câmara ajudou a botar mais lenha na fogueira no pleito nacional do próximo ano. Confira, abaixo, os principais nomes e outros ainda incertos:
Jair Bolsonaro (sem partido)
O presidente da República é, naturalmente, candidato à reeleição. Por mais que, vez ou outra, ele tente despistar e afirme não saber se será candidato, somente uma reviravolta inesperada irá afastá-lo da possibilidade de ser o terceiro presidente reeleito desde a redemocratização. No Palácio do Planalto, interlocutores do governo falam abertamente em reeleição.
Por mais que os assessores de Bolsonaro ressaltem sempre que o governo não executa as políticas públicas pensando em reeleição, é inerente imaginar que o sucesso disso renda capital político para tal. Não à toa, com a popularidade em queda e em meio à pressão política, o governo acenou favoravelmente à recriação de um auxílio emergencial. O assunto foi discutido em 2020, mas, sem espaço fiscal, ficou na gaveta. Agora, já é algo admitido e consolidado por todos no Planalto e no Congresso.
A articulação da candidatura de Bolsonaro vai de vento em popa. Afinal, espera-se, principalmente na Câmara, que seu presidente Arthur Lira (PP-AL) tenha, no mínimo, melhor boa vontade para discutir uma agenda de reformas mais alinhada ao governo. Somado a isso, a vitória do governo nas duas Casas do Congresso ajuda Bolsonaro a projetar alianças e palanques para 2022.
Não à toa, um dos partidos analisados para abrigar o chefe do Executivo é o PP. A escolha do futuro partido de Bolsonaro dirá muito sobre a força potencial que o presidente poderá construir para as eleições do próximo ano. Uma filiação ao partido de Lira amplia a musculatura política da candidatura de Bolsonaro a patamares até então não sonhados. Se optar pelo PTB, também poderá compor com outros partidos, mas sem o mesmo apoio orgânico que o de ser filiado a um dos maiores partidos da atualidade.
VEJA TAMBÉM:
Fernando Haddad (PT)
Com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva inelegível enquanto aguarda o desfecho de julgamentos que podem devolver a ele seus direitos políticos, ao que tudo indica o pré-candidato do PT será Fernando Haddad, ex-prefeito de São Paulo e presidenciável derrotado por Bolsonaro em 2018. O petista se reuniu com Lula em 30 de janeiro e recebeu a “bênção” para lançar sua pré-candidatura o quanto antes, informou o Correio Braziliense.
O discurso apresentado por Haddad é, contudo, divergente com as sinalizações dadas pelo partido. Nos bastidores e abertamente, ele propõe uma unidade da oposição para enfrentar Bolsonaro. O PT dificilmente vai abdicar de uma candidatura, ainda que essa escolha signifique correr quase só na disputa pela hegemonia da esquerda, mais uma vez. A tendência é que, até com aval de Lula, ele comece a percorrer o país em 2021.
A pré-candidatura de Haddad é interpretada entre os partidos de oposição como um gesto claro de que petistas não pretendem compor forças, ainda que entendam que o partido tem uma rejeição maior no confronto direto com Bolsonaro do que outras legendas. Ou seja, a defesa de um discurso prévio entre as legendas, como propõe o ex-prefeito de São Paulo, tende a ir por água abaixo.
Rui Costa (PT)
A pré-candidatura de Haddad está posta, mas pode enfrentar disputa interna no partido. Isso porque o governador da Bahia, Rui Costa, sinaliza que também disputará o pleito. Desafeto de Bolsonaro, é um dos que mais combate politicamente o presidente e um dos principais articuladores entre os governadores do Nordeste no posicionamento e enfrentamento contra ações do governo federal.
O governador evita críticas a Haddad, mas tem se posicionado internamente. Defende que não há definição sobre uma candidatura já consolidada e mantém seu nome.
E não é de hoje que comandantes do governo baiano são lembrados como postulantes à Presidência da República. Antes de Costa, o senador Jaques Wagner (PT-BA) chegou a ser cotado para representar o partido em 2018. A expectativa é que Wagner concorra ao governo estadual em 2022, deixando a Rui Costa duas alternativas: sair candidato à Presidência ou ao Senado.
João Doria (PSDB)
A derrota do deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) em fazer seu sucessor na presidência da Câmara respingou no governador de São Paulo, João Doria (PSDB), mas não reduziu o ímpeto do tucano de concorrer ao Planalto em 2022.
Após ter aumentado o seu capital político com a vacina Coronavac, produzida pelo Instituto Butantan em parceria com a chinesa Sinovac, o tucano despontou como o principal desafeto e opositor do governo. Agora, Doria negocia para trazer ao ninho tucano Maia e outros deputados dissidentes do DEM, além de tentar impedir que o DEM apoie Bolsonaro em 2022.
O tucano conversou com o presidente nacional do DEM, ACM Neto, e afirma ter ouvido dele que demistas não apoiarão o atual presidente em 2022. Doria acenou ainda com a possibilidade de assumir o comando nacional do PSDB e expulsar do partido o deputado Aécio Neves (MG), que lidera uma ala opositora no Congresso. Mas a tarefa não é tão simples assim e encontra resistência em outros diretórios estaduais do partido.
Os movimentos de Doria são vistos nos bastidores como demonstrações de força, à medida em que ele puxa o protagonismo interno para si e tenta frear uma possível candidatura do DEM ou apoio a Bolsonaro.
Eduardo Leite (PSDB)
Todos os movimentos feitos por Doria não são executados a esmo. O governador sabe que não é o “dono” do partido, embora seus gestos sejam interpretados por muitos no partido como o contrário. O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), é outro pré-candidato. Na quinta-feira (11), ele se reuniu com 11 deputados federais e um senador da legenda para discutir temas do futuro partidário e recebeu apoio dos parlamentares para aspirar uma papel maior nas eleições de 2022.
Por ora, Leite sai atrás na disputa interna para ver quem se cacifa para viabilizar a candidatura à Presidência da República. Mas o apoio de presidentes de diretórios estaduais do PSDB e de deputados federais ao presidente nacional do partido, Bruno Araújo, deu uma sobrevida ao governador sul-rio-grandense, que se diz contrário à imposição de liderança de Doria no partido.
De toda forma, Leite estuda manter sua pré-candidatura viva até o fim. De forma estratégica, ele vai tentar se cacifar como o candidato do PSDB à disputa. Se vencer a disputa, permanecerá no partido. Se sair derrotado, não ficará sem legenda. Conforme antecipou a Gazeta do Povo, ele recebeu convites do Podemos e do PSD, e não descarta deixar seu partido.
Ciro Gomes (PDT)
Se o PT ainda pode enfrentar uma disputa interna, o mesmo não se pode dizer do PDT. Presidenciável do partido em 2018, Ciro Gomes conseguiu manter a unidade na legenda e até costurar apoio para 2022. Muito por conta da articulação feita por ele, o PSB, um dos principais partidos da centro-esquerda, sinaliza com apoio à candidatura pedetista.
Em dezembro, o prefeito de Recife, João Campos (PSB), admitiu que seu partido discute apoiar a candidatura de Gomes em 2022. E o PDT ainda pode contar com o apoio de outras legendas. A Rede e o PV são outros com quem o presidenciável pedetista mantém diálogo constante. Desde 2019, são esses quatro partidos que discutem no Senado uma frente ampla de oposição a Bolsonaro, sem a presença do PT.
Pessoas próximas de Gomes admitem o otimismo na construção de uma frente ampla para, desta vez, superar o PT no primeiro turno e, potencialmente, enfrentar Bolsonaro no segundo turno daqui a um ano. Para isso, o PDT ainda tenta costurar com a centro-direita ainda este ano. Mas esse já é um desafio mais complexo, reconhecem parlamentares do partido.
VEJA TAMBÉM:
Guilherme Boulos (Psol)
A surpreendente campanha do psolista Guilherme Boulos na disputa pela prefeitura de São Paulo, em 2020, projetou seu nome a um patamar da política nacional que o partido apenas sonhava antes do pleito municipal. Mesmo a derrota para Bruno Covas (PSDB) no segundo turno ainda é classificada internamente como um sucesso a ser explorado para 2022.
O presidente nacional do Psol, Juliano Medeiros, em entrevista ao O Globo, já deixou claro que “Boulos pode ser o que ele quiser em 2022”. Ainda não há sinais concretos de que Boulos disputará a Presidência novamente, como fez em 2018, afinal, a cláusula de barreira impõe desafios ao partido. Hoje, o principal questionamento é se seria mais apropriada uma candidatura dele ao Planalto para ajudar a eleger mais deputados federais pelo país, ou tê-lo como candidato ao governo de São Paulo e ajudar a eleger uma bancada maior de deputados paulistas do Psol.
Desde sua fundação, em 2004, o Psol disputou todas as eleições presidenciais com candidato próprio. Embora Medeiros defenda aprimorar a unidade da esquerda, as candidaturas de PDT — com a provável coligação com PSB — e PT são um obstáculo para agrupar forças em torno do candidato psolista.
Luciano Huck (sem partido)
A presença de um outsider na disputa de 2022 não está descartada. Até hoje, o apresentador Luciano Huck é sempre lembrado para o próximo pleito. Não é para menos. Em algumas pesquisas, como a última do Data Poder, ele aparece como o candidato com maior potencial para tirar votos de Bolsonaro. Em um segundo turno, a pesquisa indica que Bolsonaro teria 44%, contra 38% de Huck.
O apresentador também é o candidato que mais rivaliza com Bolsonaro nas redes sociais, onde o presidente se criou politicamente. Partidos interessados não faltam, nem conversas. Huck é cobiçado pelo DEM e pelo Cidadania — este último até já fez o convite a ele.
A filiação de Huck poderia até tirar forças da candidatura de Ciro Gomes. O UOL informa que o Cidadania cogita uma fusão com o PV, partido que dialoga com a candidatura pedetista. Por enquanto, contudo, não há nada certo e é possível que ele permaneça como apresentador de TV na Globo. O anúncio da saída do apresentador Fausto Silva da emissora no fim de 2021 teria levado Huck a cogitar assumir o posto do colega aos domingos.
Luiz Henrique Mandetta (DEM)
Ex-ministro da Saúde de Bolsonaro, Luiz Henrique Mandetta (DEM) articula sua candidatura nos bastidores. E cogita fazer isso fora do partido. As idas e vindas de ACM Neto em relação ao governo são os motivos de ele cogitar a saída do partido. Na última quinta-feira (4), o presidente demista disse que não poderia descartar um apoio a Bolsonaro em 2022. Na quarta-feira (10), se posicionou afirmando não ser o momento para discutir as eleições.
O ex-ministro avalia que, hoje, o DEM não “dá segurança de um projeto nacional a ninguém”. Foi o que afirmou em declaração ao jornal O Globo. Ele debocha que o partido possa “estar com Doria, Bolsonaro, Huck ou Ciro”. “Daqui a pouco, até Lula vai aparecer como cotado para receber o apoio do partido”, ironizou. Apesar do incômodo, ainda não há indicativos de qual partido abriria espaço para Mandetta se lançar.
Dentro do DEM, Mandetta de fato teria pouco apoio para se sair candidato. Parlamentares da legenda consideram que, em um primeiro momento após sua saída do governo, ele tinha a força política necessária para capitanear o partido. Agora, a leitura de uns é de que o timing político não é mais tão favorável a ele como há quase um ano.
E quanto a Sergio Moro e João Amoêdo?
Se é possível atribuir pré-candidaturas aos nomes citados anteriormente, o mesmo não pode ser dito a Sergio Moro, ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, e João Amoêdo (Novo), empresário e presidenciável em 2018. Moro assumiu o cargo de sócio-diretor da Alvarez & Marsal, consultoria norte-americana que atua como administradora judicial da Odebrecht. Já Amoêdo chegou a afirmar que está “mais propenso” a não lançar sua candidatura.
O Podemos, do senador Alvaro Dias (PR), manteve contatos com Moro depois que ele deixou o governo. Dias e a presidente nacional do partido, deputada Renata Abreu (SP), o convidaram para ser candidato pelo partido em 2022. O flerte entre Moro e a legenda existiu, mas parlamentares entendem que não há mais clima após ele ter assumido um cargo bem remunerado no setor privado.
Persona non grata entre políticos, uma candidatura de Moro é vista como cada vez mais distante, apesar das boas colocações do ex-juiz da Lava Jato nas mais diferentes pesquisas de intenções de voto. Amoêdo, também sempre citado nas pesquisas, perdeu fôlego internamente no Novo, que não descarta lançar o governador de Minas Gerais, Romeu Zema, na disputa ao Planalto, embora ainda seja mais provável que Zema tente a reeleição.