| Foto: José Cruz/ABr

Quatro dias depois de ter sua demissão anunciada pelo presidente Jair Bolsonaro num café da manhã com jornalistas, o presidente dos Correios, Juarez de Paula Cunha, continua no cargo. A prometida exoneração não foi publicada no Diário Oficial da União.

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Na noite de segunda-feira (17), o porta-voz do Planalto, Otávio do Rêgo Barros, avisou que não foi decidida a data da demissão nem da escolha do novo presidente da estatal. "Ele [Bolsonaro] ainda não decidiu com relação ao momento da efetivação e, tampouco, por consequência, possui um nome já avaliado e acordado por ele e o Ministério da Ciência, Tecnologia e etcetera", disse Rêgo.

Também na segunda, Cunha foi trabalhar normalmente e avisou para um auditório lotado de funcionários da estatal que não sai até a formalização da demissão: "Só vou sair daqui a hora que chegar oficialmente. Aí eu saio, senão, não saio, não". Terminou a palestra aplaudido e vestindo boné de carteiro.

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O evento, fechado à imprensa, mas ao qual o jornal "O Estado de S. Paulo" teve acesso, foi justamente sobre o tema que causou a ira do presidente e sua decisão de demitir o general: a privatização da estatal. Aos jornalistas, Bolsonaro havia dito que tinha anunciado a venda da empresa e Cunha tinha falado o oposto no Congresso, agindo como "sindicalista".

Na véspera do anúncio da demissão, o general havia sido presenteado pela Superintendência dos Correios do Amazonas com um selo personalizado, que ostenta sua fotografia. Na imagem, Cunha aparece junto a um prédio da estatal e do Teatro Amazonas, principal cartão-postal da capital Manaus. Foram impressos 12 desses selos. Os Correios dizem que outros funcionários e personalidades já foram homenageados da mesma forma. Exemplo: o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu. Não consta que Bolsonaro tenha o seu.

O evento em que o general disse que só sai depois da formalização da demissão ocorreu na tarde desta segunda-feira. Horas depois, à noite, o porta-voz da Presidência, o também general Otávio do Rêgo Barros, afirmou que o presidente ainda não decidiu quando vai efetivar a demissão nem nomear o substituto do general.

Na apresentação desta segunda, o general insistiu no tema privatização. Disse que a decisão sobre a venda do controle da empresa é uma promessa de campanha de Bolsonaro e "ele tem que cumprir", mas acrescentou que esse será um processo muito longo, que pode durar anos.

O general afirmou que havia se comprometido a lutar contra a privatização, mas "até um certo limite". "No momento em que há uma decisão, esse assunto é de responsabilidade do governo." "Já que há uma decisão para que esse processo aconteça", segundo o general, o melhor que os funcionários podem fazer é receber bem os responsáveis pelos estudos da privatização, de forma a fazer um "controle de danos" e "procurar contribuir, acompanhar e defender nossos interesses".

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'É um caminho muito longo', diz general sobre privatização

Cunha foi ovacionado ao levantar o moral dos funcionários da estatal: "Os Correios não vão acabar, ninguém vai acabar com a empresa e mandar todos os funcionários embora". "Vamos ficar serenos, encarar com naturalidade, sem ninguém se estressar."

Ele disse que a equipe econômica está preocupada com a preservação dos direitos dos funcionários e com o futuro da própria empresa. "Não querem que, lá no futuro, a coisa venha a se deteriorar novamente."

Segundo o general, o modelo a ser adotado na privatização ainda não foi definido. "Uma parte da empresa poderá fazer abertura de capital. Nada disso está definido: como fazer, o tipo de privatização, se é que vai acontecer. Vejam, existem muitos passos aí pela frente, muitos passos", afirmou.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]

E novamente insistiu. "Sobre o tempo que isso leva? Não sei, eu também não sei. É um caminho muito longo", reconheceu, ressaltando que "não é hora de se estressar e perder noites de sono". "Por isso não temos que nos preocupar com grande antecedência. Não se desgastem com isso."

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O general encerrou recomendando aos empregados que continuem buscando bons resultados para tentar influenciar na decisão do governo. "Temos que mostrar que somos uma empresa sólida, que não precisamos do orçamento do governo, tudo isso será considerado quando do processo de privatização", afirmou. "Temos que trabalhar de perto e contribuir para a defesa dos nossos empregados, buscando influenciar nesse aspecto."