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Entrevista com Eduardo Ribeiro

Presidente do Novo vê catástrofe em Lula 3, mas descarta Bolsonaro para 2026

O partido Novo está apostando suas fichas em uma firme oposição ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para voltar a crescer, após reeleger apenas três deputados federais em 2022. Na visão do presidente da legenda, o empresário Eduardo Ribeiro, a gestão petista já mostrou ser uma “catástrofe”, não só pela reversão da agenda liberal, mas também por aprofundar a radicalização dentro da sociedade.

Para combater o PT, Ribeiro, que comanda o Novo há três anos, diz contar com parlamentares articulados e um bom time de advogados. Quando necessário, diz que acionará o Supremo Tribunal Federal (STF) para tentar barrar retrocessos no legado liberal na economia deixado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Nesta entrevista à Gazeta do Povo, ele também explica como o partido, criado em 2011, tem se tornado mais pragmático, buscando alianças políticas e permitindo o uso de rendimentos do Fundo Partidário, o que era reprovado pela legenda até pouco tempo atrás.

Questionado sobre um eventual apoio a Bolsonaro, o presidente do Novo recua. Diz que é cedo, e aposta mais no surgimento de novas lideranças na direita, não necessariamente do partido. Naturalmente, cita o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), mas também o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), o senador Sergio Moro (União-PR), e até Hamilton Mourão (Republicanos-RS), senador e ex-vice-presidente da República.

E por que não Bolsonaro? Para ele, o discurso dúbio de do ex-presidente em relação à defesa da democracia ajudou a criar o ambiente que resultou na invasão e depredação das sedes dos Três Poderes, no 8 de janeiro. Na visão dele, algo lamentável, que acabou manchando a imagem de toda a direita. “Particularmente, não vejo sentido na direita apostar, novamente, em algo que não funcionou. Perdemos a eleição para o Lula, alguém que tinha sido condenado e estava preso até pouco tempo atrás, tinha uma rejeição enorme, e conseguimos perder para o PT”.

Leia, abaixo, a entrevista. No vídeo que acompanha esse texto, a íntegra da conversa, gravada na última quarta-feira, 29 de março.

Como o Partido Novo avalia esse início do governo Lula?

Eduardo Ribeiro: Minha avaliação é de um início desastroso do governo Lula 3. Obviamente, já sabíamos que do ponto de vista de agenda programática, não houve nenhuma mentira. O Lula nunca escondeu que tentaria retroagir, do nosso ponto de vista, em diversos temas. Como na Lei das Estatais, no novo Ensino Médio, que querem agora revogar. Posicionamentos bastante estranhos do ministro do Trabalho, querendo revogar avanços feitos na reforma trabalhista, e agora querendo, contra a vontade dos motoristas, regulamentar o serviço de transporte por aplicativo, o que já foi feito em outros países e não funcionou, e as empresas [acabaram] saindo.

Agora, tem um aspecto de estelionato eleitoral, na medida em que o governo se propôs a ser de pacificação, de união e reconstrução, como está em sua logomarca e slogan, mas não está fazendo nada disso. Basicamente, o Lula continuou com a polarização, continua com declarações agressivas contra adversários políticos, criando políticas contestáveis, contra as quais temos lutado muito, como de regulamentar redes sociais, que avança sobre o direito à liberdade de expressão, que para o Novo é muito caro.

Do ponto de vista de agenda econômica e de Estado, já sabíamos que deveria haver muitos retrocessos, mas que do ponto de vista de pacificação, mentiu. Ao ponto de hoje criar teorias conspiratórias a respeito do plano de assassinar o Sergio Moro e sua família, como se fosse um plano dele mesmo, algo absurdo e condenável, que não deveria vir da boca de um presidente da República. Esse início de governo é uma catástrofe.

O Novo é muito pequeno na Câmara e no Senado, sem força numérica para impor agenda, nem margem para negociar mudanças em propostas e obstruir votações. Qual a estratégia para ser relevante na política nacional e barrar retrocessos no governo Lula?

Nessas eleições, sofremos impacto da polarização. O PT e o PL, por terem polarizado e verticalizado na candidatura presidencial, acabaram levando consigo as maiores bancadas de deputados federais. Assim como outros partidos, sofremos um pouco desse mal. Até pelo Novo não ter uma base de municípios com vereadores que pudessem lhe sustentar.

Apesar de termos uma bancada reduzida, é muito bem articulada. Nosso deputado federal Marcel Van Hattem [RS], um dos expoentes do liberalismo e do conservadorismo no Brasil hoje, é uma das grandes vozes da oposição, inclusive é o primeiro vice-líder do bloco de oposição na Câmara. O senador [Eduardo] Girão [CE], que nem era do Novo, mas veio recentemente, é uma pessoa incrível e muito alinhada conosco, também tem poder de articulação e respeitabilidade muito grande dentro do Senado.

Então, apesar de termos um partido aparentemente pequeno, nossos membros têm bom poder de articulação, são respeitados e conseguem trabalhar em conjunto com as outras forças políticas.

Mas a oposição não se dará apenas no Parlamento. Nós somos um partido político, e constitucionalmente, ele tem prerrogativas de atuar também, com instrumentos democráticos e republicanos, fora. Como, por exemplo, pelo meio judicial. Talvez seja a grande alçada do Novo, temos excelentes advogados e juristas dentro e próximos do partido para nos ajudar.

Fomos o partido que mais entrou com representações e ações contra o PT, que quer fazer tudo atrapalhadamente, passar por cima da legislação e da Constituição para impor sua agenda. Não vamos permitir e esperamos que o Judiciário entenda que certos limites não podem ser ultrapassados. Só que para isso, precisa ser provocado e é preciso ter um partido com a coragem e a liberdade para fazer isso. O Novo vai ser o grande farol no campo da atuação com representações judicias dentro da oposição, e já temos feito isso.

Por outro lado, há um incômodo no Congresso, especialmente na direita, nos últimos anos, com a projeção que Supremo ganhou, justamente por ter sido acionado a todo momento pela oposição ao governo Bolsonaro. Isso não é ruim?

Precisamos confiar nas instituições. E o Judiciário já é separado do Executivo e do Legislativo para ter essa autonomia de tomar suas decisões de acordo com suas convicções, mas dentro do quadro constitucional. Então, precisamos confiar que as instituições vão ser preservadas para tomarem essas decisões.

Mas não seremos um partido de ativismo judicial, que entra apenas para fazer barulho. Todas as nossas peças são muito fundamentadas. Ao longo dos últimos anos, tivemos muita parcimônia. Entramos apenas em questões de muita relevância, porque sempre preservamos e respeitamos a decisão política.

Mas, quando entendemos que há um flagrante desprezo ou risco à Constituição, vamos entrar. Porque entendemos que temos que brigar até a última trincheira.

Temos essa liberdade e coragem porque não temos cargo nenhum no governo, como não tivemos no governo Bolsonaro. Temos essa independência, para que o partido não tenha nenhuma amarra para provocar o Judiciário quando necessário, quando julgarmos que um grande risco existe para uma legislação ou política pública, dentro do aspecto constitucional.

Mas também há um desconforto do Partido Novo pelo que tem sido feito ao longo dos últimos anos [no Judiciário]. Algumas situações que não condizem com o decoro e a liturgia do cargo de ministro, seja do Supremo, seja do Tribunal Superior Eleitoral, ou de outras instâncias. Mas devemos lembrar que não é um poder monocrático, há outros ministros que sempre preservaram a Constituição e temos que trabalhar com a ideia de órgão colegiado.

Na política, críticos do Novo entendem que o partido é muito ideológico e, assim como o Psol é na esquerda, há um entendimento de que é fiel até demais às suas convicções na direita, ao evitar composições políticas. Isso pode ser negativo?

Acho que amadurecemos bastante ao longo dos últimos 10 anos, em especial nos últimos 4, em que tivemos um governo no segundo maior estado do Brasil, que é Minas Gerais, com Romeu Zema. Uma bancada expressiva na Câmara e agora duas prefeituras, além de vários vereadores pelo Brasil, fez com que o Novo amadurecesse bastante.

Se você olhar a árvore genealógica dos partidos políticos, o Novo é o único criado de fora do circuito de políticos. O Psol foi um desmembramento do PT em 2003 após uma reforma da previdência [do setor público], um grupo mais radical que saiu e formou o partido. E isso é uma regra, todos foram criados a partir de uma divisão ou segmentação de um partido. E o Novo não, 90% dos filiados nunca foram filiados a outro partido político.

A maioria dos nossos deputados eleitos e o próprio governador Zema nunca tinha sido político, candidato a nada. Isso demandaria um certo amadurecimento, que aconteceu. Vejo um partido muito mais maduro dentro na forma de política republicana.

O pessoal daqui que gosta muito de sociologia cita Max Weber, que fala muito da ética da convicção frente à ética da responsabilidade. A ética da convicção muitas vezes não se adequa dentro do ambiente político, porque você precisa, como político, ter responsabilidade com toda a sociedade. Às vezes uma decisão que precisa tomar não necessariamente é aquela que você está mais convicto, mas é a necessária naquele momento, para que a sociedade dê um passo à frente.

Então, você abre mão, faz concessões para que consiga dar um passo à frente. Isso não quer dizer abrir mão de princípios, são negociações políticas, de forma transparente e republicana. O que o Novo não faz é trocar apoio por cargo. Tem diretrizes internas para que isso seja vedado, justamente para que nossos políticos façam julgamentos políticos nas nossas decisões, mas que não estejam amarrados frente a pressões ou em função de cargos.

O sr. mencionou o Zema e as convicções do Novo. Recentemente, ele disse ter praticamente as mesmas convicções do ex-presidente Jair Bolsonaro. Hoje, o PL já corteja Zema como opção de candidato em 2026, caso Bolsonaro fique inelegível. O sr. e o Novo acham que o Bolsonaro deve e tem o direito de se candidatar daqui a 4 anos?

Ainda tem muita água para rolar. Mas olhando o histórico: já tivemos duas eleições em que Bolsonaro foi candidato à Presidência, nas duas o Novo lançou candidato próprio, não apoiou oficialmente ele, porque entendemos que faltava estrutura mais clara de visão de governo. Para que conseguisse não só fazer reformas, colocar o país nos eixos, no campo da direita liberal, mas também que tivesse condições de preservar a direita como um todo.

Tínhamos muito medo do que uma liderança como Bolsonaro pudesse corromper ou comprometer a imagem da direita. Infelizmente isso, em algum grau, aconteceu. A forma como ele conduziu o governo, em especial nos últimos três anos, prejudicou muito, não só a imagem do próprio governo, que acabou sendo responsável pela sua derrota nas eleições, mas da direita como um todo.

Instigando, de maneira velada, ou com discursos muitas vezes dúbios, sobre até onde iria, em termos de preservar as instituições e nosso ambiente democrático. Fez com que se criasse um ambiente para o que aconteceu em 8 de janeiro. Aquela coisa absolutamente lamentável, de vândalos invadindo a Praça dos Três Poderes e destruindo o centro do poder do Brasil, como se isso fosse resolver alguma coisa. Todo o campo da direita foi atingido, de alguma maneira.

Nós condenamos, contestamos, mas aquilo ali, em algum grau, foi obra de um ambiente que foi criado, infelizmente, pela postura do Jair Bolsonaro. Então, particularmente não vejo sentido na direita apostar, novamente, em algo que não funcionou. Perdemos a eleição para o Lula, alguém que tinha sido condenado e estava preso até pouco tempo atrás, tinha uma rejeição enorme, e conseguimos perder para o PT.

Acho que em 2026 vão surgir novas lideranças. O Zema evidentemente é falado como uma delas, mas há também o Tarcísio [de Freitas, governador de São Paulo, do Republicanos], tem o Sergio Moro [do União Brasil], que conseguiu vencer uma eleição difícil para senador no Paraná. Existe a possibilidade de outras lideranças surgirem e acho que isso precisa ser fomentado. Inclusive para consertar um pouco a imagem da direita que ficou desgastada.

Mas você acha que Bolsonaro deveria ter ao menos o direito de se candidatar em 2026?

Nós, durante a campanha, fomos muito críticos ao TSE, pelas decisões que haviam sido tomadas, que prejudicaram bastante a campanha do Bolsonaro. Isso é inegável, nunca escondemos isso. Sempre defendemos que as eleições fossem justas e, no nosso entendimento, pesou muito contrário à campanha do presidente [Bolsonaro], de fato prejudicou sua eleição.

Agora, tem muita coisa que a gente viu e não concorda, muita coisa que a gente não sabe e que pode aparecer. A questão de ele se tornar inelegível ou não, ele que vai ter que resolver junto com a Justiça.

Concordo que houve um legado econômico liberal, inclusive apoiamos muito a pauta do Paulo Guedes, que gosta muito de nossos deputados, trabalhamos muito juntos.

Mas eu acredito que surjam novas lideranças para que a própria direita possa se reerguer das cinzas e construir novos discursos e narrativas para conseguir se proliferar. Uma das coisas que nós, liberais, sempre defendemos é que não existe salvador da pátria. Precisamos de lideranças. Mas o processo de construção de imagem quase que mitológica não é muito a nossa cara. Porque isso pode acabar num ambiente fundamentalista, que a gente não quer, de polarização exacerbada e a discussão mais racional fique de lado.

O sr. mencionou Zema, Tarcísio, mas já surgem mais nomes, como o de Damares Alves...

Hamilton Mourão, também, com certeza...

Essa oferta ofusca uma possível candidatura do Novo? Mas caso o partido não lance, haveria possibilidade de compor com um desses?

De maneira alguma ofusca. Nós amadurecemos. E a ideia de lançar candidatos é para tornar o partido mais conhecido. Mas, além de mais maduros, já estamos em outro estágio, de certa relevância política. Não só por um ativo que temos com o governador de Minas Gerais, mas também de recentes mudanças. O partido tem um caixa muito relevante.

Em termos financeiros, tudo que foi acumulado em Fundo Partidário, mais de R$ 100 milhões, somos um dos partidos com maior caixa. Em termos de estrutura, de capilaridade, somos um partido médio. O que não temos ainda são deputados federais, mas vamos trabalhar para reconstruir isso já nas próximas eleições. Mas de forma alguma outras lideranças ofuscam.

E fico muito feliz de ver isso. Até porque isso vai demandar da direita um diálogo maior para se construir consensos, e de fato, não dividir. Se fôssemos trazer para um cenário de hoje, a visão majoritária do partido é de sentar e escolher a pessoa com maior capacidade de liderar e de chegar lá. Respeitando todo o ambiente democrático, as instituições, mas que consiga conduzir uma agenda de direita, e vencer o adversário que vier do PT.

Porque quem imagina que o PT vá ceder espaço para uma candidatura de outro partido de esquerda em 2026 está muito enganado. Eles disputaram todas as eleições desde a redemocratização. O PT tem um projeto de poder hegemônico. Então, nosso adversário e de outros partidos que venham querer compor dentro da direita vai ser sempre o PT. E nós precisamos unir forças contra qualquer adversário que vier do lado de lá.

Então, há abertura no Novo para convergência em torno do nome mais forte que surgir na direita...

Hoje entendo que sim. É outro momento. E entendo que já em muitos municípios, já na eleição de 2024, isso já vai ser visto. O Novo, por imaturidade ou dogmas criados no passado, tinha uma resistência inclusive a formar coligações. E isso já foi superado em Minas Gerais.

Conseguimos trabalhar uma coligação ampla para o governador Zema, com muito diálogo e construção com partidos da base, com humildade e respeito, para que fôssemos chapa pura. Mas que permitiu que essa coalizão vencesse [Alexandre] Kalil logo no primeiro turno, com 53%, e hoje tem uma base relevante, sempre preservando a independência dos partidos, mas tão grande a ponto de ter dois blocos governistas hoje na assembleia. O que vai permitir que Zema faça um governo muito mais amplo e efetivo que foi no primeiro mandato.

Esse aprendizado vai para as próximas eleições, seja o Novo como cabeça de chapa, seja outro partido. Mas o Novo usando suas lideranças e capilaridade para enfrentar o mal maior, o PT. Mas lógico que temos lideranças capazes de sentar na mesa e eventualmente, se precisar, ser a liderança a conduzir.

Na legislatura anterior, o Novo tinha oito deputados. Agora, são três deputados e um senador. Quais são as metas para ser um partido mais forte? Como aumentar a bancada e o número de prefeitos, por exemplo?

Me permita uma retrospectiva do que foi feito de 2019 para 2020, que não concordei e foi um grande problema interno do partido, com impacto direto nas eleições de 2022. O Novo poderia ter crescido tranquilamente [nas eleições municipais] para 250, 300 ou até 400 cidades, porque havia ali movimento e desejo de renovação latente na sociedade, que se demonstrou em 2018 e continuou até as eleições de 2020.

Mas, por uma estratégia muito mais conservadora, o partido decidiu disputar apenas em 46 municípios. Isso restringiu muito o poder de capilaridade do Novo que poderíamos ter para 2026. E aqui falo de ter vereadores, prefeitos, mostrando a real atuação do Novo nos seus municípios.

A votação em que o Felipe D’Ávila foi proporcionalmente mais bem votado foi Joinville [SC], onde nós temos o prefeito. Ou seja, a cartilha do Novo, sendo aplicada no dia a dia, onde o prefeito tem mais de 92% de aprovação e as pessoas vincularem isso a uma agenda do Novo, fez com que aquilo que se transformasse em voto para o nosso candidato a presidente, que nem era tão conhecido. Capilaridade é isso.

Se tivéssemos mais exemplos, certamente poderíamos ter transformado isso em portas abrindo para candidatos a deputado federal, que em sua imensa maioria também são desconhecidos. O Novo acaba sendo uma plataforma que atrai mais gente de fora da política que de dentro. E essa é outra filosofia que estamos mudando, sendo um pouco mais flexível.

Tinha uma cultura no passado de que o Novo não aceitava gente de outros partidos. O que era uma grande bobagem. Tem muita gente boa em outros partidos que gostam e se alinham ao Novo e querem vir. Tivemos o prefeito de Patos de Minas [MG], o Luiz Eduardo Falcão, que veio. O senador Eduardo Girão que também migrou. E tem outras lideranças que conversamos que podem vir a compor ainda nessa legislatura, tanto na Câmara quanto no Senado. Além de inúmeros vereadores e prefeitos que querem vir. O Novo conseguiu manter essa marca apesar da estratégia errada de 2020.

Falando em metas, estabelecemos numa comissão de dirigentes, regras de governança para que possamos distribuir os rendimentos do Fundo Partidário, que aprovamos recentemente seu uso, o que dá um poder de estrutura quatro vezes maior que temos hoje e permite essa capilaridade. Mas há um cenário bastante possível de disputar [em 2024] em no mínimo 300 cidades, seja com vereador, seja com prefeito.

Cravar quantos vamos eleger é difícil. Mas o que está dentro do nosso controle é montar essas chapas, e o Novo sempre tem um eleitorado cativo em cidades que permitam eleger um, dois ou quatro vereadores, dependendo do cenário local.

O Novo, pelo que o sr. disse, tem se tornado mais pragmático, aceitando alianças e usando o Fundo Partidário. O ex-presidente João Amôedo tem criticado essa nova orientação, a ponto de até declarar voto em Lula em 2022. Como o sr. rebate essas críticas, inclusive sobre o uso dos rendimentos do fundo?

Fico muito triste com as críticas porque sempre defendemos que o Novo fosse uma instituição que não tinha dono. Infelizmente, ele acabou escolhendo um caminho diferente do partido, e tem toda legitimidade e o direito de mudar a forma como pensa. O que não concordamos é que queira arrastar o partido junto e todas as suas lideranças, mediante a sua visão de mundo, dado que ela mudou ao longo do tempo. O partido se manteve intacto.

Lógico que teve algumas mudanças, avanços em posicionamentos, um ajuste aqui e outro ali, mas a essência do Novo sempre ficou muito clara. Que nós somos o completo oposto do PT. Não tem a menor chance de o Novo estar perto de algo parecido com o PT. Então, ao declarar voto no Lula, e o Novo se colocou de forma muito clara contra o PT no segundo turno, o partido se sentiu, com suas lideranças e mandatários, bastante atingido e ofendido. O que acabou tornando inviável sua manutenção dentro do partido.

Críticas acabaram se sucedendo em função de outras decisões que foram tomadas, no momento em que o partido também precisa se modernizar e se adequar à nova realidade. Sempre defendemos a ideia de que era possível manter o partido apenas com as doações de seus filiados, mas, infelizmente, temos milhares de justificativas de desfiliações em função do próprio João Amôedo. Dos seus posicionamentos que fizeram com que muitos filiados saíssem e levassem embora suas contribuições. Isso acabou sangrando bastante o financiamento.

Nada que eventualmente comprometesse. Agora mesmo o partido está num viés de alta, com muitos filiados voltando e fazendo com que possa aumentar sua arrecadação. Mas a decisão por utilizar os rendimentos do Fundo Partidário vai um pouco além disso.

No nosso diagnóstico, quando o partido foi fundado em 2011, era completamente diferente. O Fundo Partidário era uma fração apenas do que é hoje. Não existia o Fundo Eleitoral. Eram permitidas as doações de pessoas jurídicas, não havia limites para doações de pessoas físicas. E ao longo de 10 anos isso tudo mudou radicalmente.

Para encerrar, o Novo se vê ameaçado, como partido de direita, por uma eventual regulamentação das redes sociais, como querem o governo, a esquerda no Congresso e o STF? Todos esses atores falam em combater “discursos de ódio”, manifestações “antidemocráticas” ou de “ataque às instituições”. Mas, se levarmos em conta o que já foi feito em nome disso, veremos intensa perseguição à direita, quase exclusivamente.

A preocupação é imensa. É mais um movimento sendo feito pelos atores do sistema para tentar evitar que novos supostos entrantes surjam ou que novas ideias possam proliferar, sob um discurso bonitinho de que está sendo combatido o discurso de ódio, ofensas, etc.

No fundo, não é nada disso. Para isso já existe legislação. Você pode levar à Justiça e discutir qualquer ofensa que venha a sentir. O que nos preocupa é essa ânsia do governo em regulamentar e trazer para si o poder de fiscalizar o que é certo e errado, que é verdade e mentira. Esse é o primeiro passo para o autoritarismo.

Quando a liberdade de expressão, que é a mãe de todas as outras liberdades, passa a ser ameaçada, nós temos que ligar o sinal de alerta e combater.

É um mundo perfeito a internet, um ambiente confortável? Certamente não. Todo mundo que usa redes sociais sabe que não é o local mais civilizado do mundo. Mas é o que se tem hoje e talvez algo que precisamos aprender a usar. Tenho defendido muito a tese de que é um problema geracional. Por muito tempo, os meios de comunicação tiveram a hegemonia e monopólio de trazer a informação, e com as redes sociais, isso se rompeu. Qualquer um com um celular consegue dar uma notícia, uma informação.

Evidente que mentiras podem ser criadas por qualquer um dos lados. E como todo mundo sabe, ela dá volta ao mundo antes de a verdade chegar. Mas é um problema geracional. Quem tem mais familiaridade com as ferramentas de internet sabe identificar que isso ou aquilo não faz tanto sentido. O melhor modelo para combater esse tipo de notícia falsa ou desinformação é trabalhando para que as pessoas conheçam melhor como usar a ferramenta, que não é o problema. É como a gente usa e como interpretamos como chega lá.

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