Bruno Araújo é a aposta do governador de São Paulo, João Doria, para assumir o PSDB nacional e comandar a tão propagada renovação do partido. Ex-deputado federal e ex-ministro das Cidades no governo Temer, Araújo é conhecido em Pernambuco como um político tradicional e pragmático.
Na reta final do primeiro turno de 2018, naufragando na tentativa de se eleger ao Senado, pulou fora do barco de Geraldo Alckmin (PSDB), mesmo que informalmente, para apoiar, de maneira velada, a candidatura de Jair Bolsonaro (PSL) à Presidência da República.
Com a mesma desenvoltura, antes de a campanha começar, 'surfou' na alta popularidade do ex-presidente Lula no estado para elogiar a maior estrela petista. Chegou a classificá-lo de "presidente excepcional" para Pernambuco, em um momento de acirrada polaridade nacional entre PT e PSDB.
Panelas contra a corrupção e ganho de patrimônio
Em meio à onda de investigações contra corrupção no país, Araújo chegou a bater panela em discurso na tribuna da Câmara em 2015 contra a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e em apoio à Lava Jato. Depois, teve seu próprio nome e o de pessoas próximas citados em delações de empresários.
Ao longo de três mandatos, o tucano elevou em 454% seu patrimônio, já considerando a inflação do período. Em resposta, Bruno Araújo afirma: "Toda renda e variação patrimonial são devidamente compatíveis com as informações prestadas nas declarações de Imposto de Renda".
Em 2006, quando se elegeu pela primeira vez deputado federal, cargo com salário hoje de R$ 33,8 mil mensais, Araújo declarou à Justiça Eleitoral bens de R$ 480,48 mil (R$ 941,68 mil em valor corrigido pelo IPCA). Em 2018, ao disputar a eleição ao Senado, na qual foi derrotado (ficou em 4º lugar), o montante saltou para R$ 5,21 milhões.
De família de classe média recifense, filho do ex-deputado estadual Eduardo Araújo, o político de 47 anos divide a maior parte do seu tempo entre Brasília e São Paulo. Mesmo sem mandato, vai com menos frequência ao Recife.
Na capital pernambucana, declarou ser dono de uma cobertura de luxo de 488 metros quadrados de frente para o mar, no edifício Píer Duarte Coelho, avaliada hoje em R$ 5 milhões. Segundo Bruno Araújo, o imóvel foi adquirido por valor de mercado há cerca de dez anos.
Em 2006, possuía, além de três automóveis, R$ 2.875 na poupança e uma cadeira cativa no Clube Náutico Capibaribe, um lote e uma casa de campo no município de Gravatá (PE).
Em São Paulo, onde tem ido com mais frequência em razão das costuras políticas com Doria, o ex-parlamentar informou ter um apartamento no residencial Faria Lima. Também possui cotas societárias da empresa Equatorial Participações (que atua com gestão de imóveis e consultoria empresarial) e R$ 1,3 milhão em depósitos bancários em contas no exterior.
Possível novo presidente do PSDB
Considerado por aliados e adversários habilidoso nos bastidores, Araújo ganhou holofote nacional ao proferir o voto que sacramentou, na Câmara, a admissibilidade do impeachment de Dilma.
Em 2017, a pedido da Procuradoria-Geral da República, uma investigação contra ele, no âmbito da Lava Jato, foi autorizada pelo STF (Supremo Tribunal Federal). Delatores afirmaram que a Odebrecht chegou a repassar, sem contabilização, R$ 600 mil para o parlamentar de 2010 a 2012. Em julho do ano, o ministro do STF Dias Tofolli mandou arquivar o inquérito.
Neste ano, o nome que poderá assumir o comando do PSDB nacional foi citado na delação de Henrique Constantino, um dos sócios da Gol. Na delação, o empresário fala em "benefício financeiro" a Bruno Araújo por meio da Abear (Associação Brasileira das Empresas Aéreas).
Constantino mantinha relação de amizade com um antigo sócio do tucano, o advogado pernambucano Marcos Meira, cujo escritório teve contratos de prestação de serviços com a Gol.
Quando exercia o cargo de deputado estadual em Pernambuco, Bruno Araújo foi sócio de Meira, citado nas investigações da Lava Jato em três ocasiões diferentes sob suspeita de tráfico de influência e recebimento de vantagens indevidas -sem ter havido condenação.
Depois, o político tucano se associou à banca J Meira Advogados, pertencente a outros dois filhos do ministro aposentado do STJ (Superior Tribunal de Justiça) José de Castro Meira. Segundo a Polícia Federal, o escritório de Marcos Meira chegou a receber pelo menos R$ 11,2 milhões da Odebrecht de 2008 a 2014.
Em 2010, o então ministro do STJ relatou uma ação na corte que livrou a empreiteira do pagamento de multa que poderia chegar a R$ 500 milhões. Os dois negam participar de qualquer tipo de irregularidade e de receberem vantagens indevidas em troca de favores a empresas.
Bruno Araújo, contudo, afirma que deixou a sociedade para assumir o cargo de Ministro de Estado, em 2016, e que quaisquer acusações "são um contorcionismo de ilações descabidas".
Bruno Araújo começou na política muito cedo. Advogado, formado pela tradicional Faculdade de Direito do Recife, foi oficial de gabinete, em 1991, do então governador de Pernambuco, Joaquim Francisco, e, logo em seguida, trabalhou como chefe de gabinete na Assembleia Legislativa.
Em 1998, aos 26 anos, foi eleito pelo PSDB o deputado estadual mais jovem de Pernambuco. Em 2002, renovou o mandato na Assembleia e, depois, a partir de 2006, conseguiu se eleger deputado federal três vezes consecutivas.
O primeiro revés veio em maio de 2005. Quando era líder do governo Jarbas Vasconcelos na Assembleia, foi flagrado em uma interceptação telefônica. Nas conversas gravadas com autorização da Justiça, o tucano aparece, em vários trechos, atuando para barrar investigações policiais contra um ex-prefeito aliado do interior de Pernambuco, acusado de integrar um esquema de fraudes em licitação e lavagem de dinheiro.
Em defesa, o ex-deputado alega que a denúncia contra ele foi arquivada pelo STF e pela PGR.
Araújo enfrentava a resistência no estado de um dos antigos caciques nacionais do PSDB, o ex-senador Sérgio Guerra. Quando este morreu, em março de 2014, o então deputado assumiu a presidência do partido em Pernambuco após travar uma disputa interna com a filha do cacique tucano, Helena Brennand.
Nos bastidores, contou com a ajuda do então governador, Eduardo Campos.
Em 2018, o ex-deputado pernambucano fez uma campanha ao Senado praticamente sem criticar o ex-presidente Lula. Em março daquele ano, teceu comentários elogiosos em uma rádio local.
"Dilma é a mãe dos 12 milhões de desempregados hoje no Brasil. Já Lula foi um presidente excepcional para nosso estado. Não tenho como ir para a rua sem reconhecer isso".
Ministro das Cidades na gestão Michel Temer, escondeu o ex-presidente no palanque. Não citou o nome dele no horário eleitoral. Irritado com os adversários, chegou a pedir ao TRE (Tribunal Regional Eleitoral) a retirada de um peça de campanha em que ele e Mendonça Filho (DEM), companheiro de chapa, eram tratados como integrantes da "Turma do Temer".
Do meio para o fim do primeiro turno, Araújo tentou se desvincular de Alckmin. Em Pernambuco, divulgou vídeos com coordenadores da campanha Bolsonaro no estado.
Nos últimos meses, tem encampado a defesa da reforma da Previdência. "Tenho certeza que será incansável no combate aos privilégios e na defesa dos mais vulneráveis", escreveu no mês passado, após a escolha do deputado tucano Samuel Moreira como relator da proposta.
Outro lado
Procurado pela reportagem, Bruno Araújo respondeu por escrito. Ele contesta inclusive o conteúdo da matéria: "isso acontece no momento em que, após eu ter decidido sair da vida pública, passamos a avaliar a possibilidade de continuar, como voluntário, contribuindo como presidente do meu partido. A liberdade de expressão é garantida a todos, mas o exercício de qualquer profissão também tem limites éticos que deveriam ser autoimpostos para proteger a democracia (incluídos a política e o jornalismo)."
O tucano informou à reportagem que toda sua renda e variação patrimonial são devidamente compatíveis com as informações prestadas nas declarações de Imposto de Renda. "Tanto o período referido, quanto a redução patrimonial mais recente não citada."
Questionado posteriormente, não informou qual seria a mencionada diminuição nos bens. Diante de nova pergunta sobre quais as outras fontes de renda que justificariam o salto no patrimônio, respondeu apenas que "constam das respectivas declarações de IR".
Araújo declarou que saiu da sociedade no escritório de advocacia, por força de lei, quando assumiu o cargo de ministro em 2016, na gestão Temer.
Afirmou também que serem "contorcionismo" e "ilações descabidas" eventuais questionamentos à sociedade que manteve em escritório de advocacia.
O tucano ressaltou também que o caso em que foi flagrado em interceptação telefônica foi devidamente esclarecido e arquivado pelo STF.
Sobre a cobertura no Recife, diz que foi adquirida pelo valor de mercado há quase dez anos.
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