O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse não entender "essa comoção toda" pelo crescimento de apenas 1,1% no Produto Interno Bruto (PIB) em 2019. Ele afirmou que esperava esse resultado desde o início da gestão. Mas documentos do governo e declarações do próprio ministro o desmentem.
Nos primeiros meses do ano passado, a expectativa de seu ministério era de um avanço de 2,2% – o dobro do que realmente ocorreu. Só a partir de julho a projeção oficial se aproximou dos patamares apurados ao fim do ano.
"O que havia dito no início do governo? Que a gente ia crescer 1%. Saiu 1,1%. Está dentro do previsto", disse Guedes a jornalistas na quarta (4), quando o IBGE divulgou os dados da economia no ano passado. "Eu não entendi essa comoção toda: ah, deu 1,1%. Por que desesperar? Era 1%. No segundo ano a gente acha que é acima de 2%, mesmo com o coronavírus."
Relatórios produzidos pela Secretaria de Política Econômica (SPE), do Ministério da Economia, mostram que as previsões da equipe econômica eram, sim, bem mais otimistas no começo de 2019.
No Relatório de Avaliação de Receitas e Despesas Primárias do primeiro bimestre do ano passado, a projeção para a variação real do PIB em 2019 – datada de 8 de março – era de 2,2%, conforme a reprodução abaixo.
Esses relatórios (todos disponíveis no site do Tesouro Nacional) servem para acompanhar o cumprimento das metas fiscais e, com eles, o governo pode determinar o bloqueio de despesas sempre que a arrecadação decepcionar. E a expectativa para o PIB é fundamental justamente para o governo ter uma ideia de quantos impostos vai arrecadar.
No relatório do segundo bimestre, a previsão para o crescimento econômico – com data de 10 de maio – caiu para 1,6%. Ainda superior ao realizado ao fim do ano, portanto.
O próprio Paulo Guedes fez referência às projeções do governo em 14 de maio, quando participou de audiência pública da Comissão Mista de Orçamento do Congresso. Ele falou a deputados e senadores justamente sobre o rebaixamento das estimativas iniciais. Disse olhar para o cenário econômico com mais ceticismo que o mercado e que sua própria equipe; mesmo assim, os números que ele citou eram superiores a 1%.
"Os senhores vão ver que o crescimento, que era 2%, quando eles fizeram as primeiras simulações, já caiu para 1,5%. E quando cai para 1,5%, as receitas são menores ainda, e aí já começam os planejamentos de contingenciamento de verba para a frente", disse Guedes. "Quer dizer, as trajetórias futuras de despesas já começam a ser apertadas. Todo mundo já começa a falar: 'Olha, vai ter que contingenciar'. Não são cortes, são contingenciamentos, são preparatórias ainda." A transcrição e o vídeo com as declarações de Guedes estão disponíveis neste link da Câmara dos Deputados.
Foi a partir do relatório do terceiro bimestre que as expectativas do Ministério da Economia se aproximaram do número revelado nesta quarta pelo IBGE – caíram pouco abaixo dele, inclusive. A expectativa datada de 10 de julho era de 0,8%. O número se repetiu no quarto bimestre e, no quinto, a projeção foi a 0,9%.
As estimativas de bancos, consultorias e outras instituições para a economia começaram 2019 mais otimistas que as do próprio governo, mas recuaram mais rápido. Em janeiro, a mediana das projeções dos economistas consultados pelo boletim Focus, do Banco Central, apontava para uma alta de 2,53% do PIB. Em meados de março a aposta já havia recuado para 2%, caindo abaixo de 1,5% em maio e abaixo de 1% no mês seguinte.
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