No primeiro julgamento importante para os planos da equipe econômica, o governo saiu com vitórias e derrotas do Supremo Tribunal Federal (STF). Os ministros da Corte decidiram por maioria que a privatização de subsidiárias não precisa de aval do Congresso, mas, por outro lado, definiram que para a privatização de estatais - ou seja, vender a empresa-mãe - é necessária a aprovação do legislativo, o que cria um obstáculo à agenda de privatizações do governo.
Sobre a necessidade ou não de licitação, os ministros decidiram que a venda das estatais-mães precisa ser feita via licitação. Já no caso das subsidiárias, basta um processo que garanta a competição, o que beneficia a Petrobras, que parou de vender suas subsidiárias via licitação e vem adotando o modelo de processo competitivo.
Os ministros julgaram quatros decisões liminares de Ricardo Lewandowski de junho de 2018. Na época, ele determinou a necessidade do aval do Legislativo e do processo licitatório para a venda do controle acionário de estatais, subsidiárias e controladas, uma decisão inédita. Acompanhando as liminares do colega, em maio, o ministro Edson Fachin suspendeu a venda de subsidiárias da Petrobras. Duas horas após o julgamento desta quinta-feira, Fachin voltou atrás, evitando que o caso fosse ao plenário em momento posterior.
O debate foi tão extenso que o ministro Dias Toffoli, presidente da Corte, decidiu colocar as decisões de Lewandowski para serem referendas ou não no Plenário. O caso estava parado há quase um ano no Supremo e a Petrobras só voltou a vender suas subsidiárias neste ano após conseguir uma liminar do Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Para Vinícius Pereira, sócio do escritório Campos Mello Advogados na área de Contencioso e Arbitragem, as decisões tomadas pelo STF nesta quinta trazem segurança jurídica ao investidor, que a partir de agora sabe quais são as regras para investir em estatais e subsidiárias.
“Agora ficou claro o que precisa. Isso dá segurança jurídica. A gente pode ver a preocupação dos ministros, no final do julgamento, para estabelecer os critérios para que não tivessem dúvida em relação ao que estava sendo decidido, para evitar [possíveis] questionamentos”, diz Pereira.
Privatização de estatais: decisões do STF afetam os planos do governo
- Necessidade de aval do Congresso para privatização de estatais - a "estatal-mãe"
Por maioria, os ministros do Supremo entenderam que a privatização (venda de controle) de uma empresa estatal precisa de lei específica. Para tomar a decisão, os ministros entenderam que, se a Constituição determina a necessidade de lei específica para criação de estatal, é preciso outra lei para vendê-la.
Ou seja, ao decidir privatizar uma estatal, o governo vai precisar enviar um projeto ao Congresso e esse texto precisa ser aprovado pelos parlamentares. Isso para cada uma das estatais que vierem a ser privatizadas.
Essa decisão afeta os planos do governo de venda de estatais. Algumas estatais, como Petrobras, Eletrobras, Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil, por exemplo, já precisam de uma lei específica para serem privatizadas, conforme prevê a Constituição e a Lei das Estatais, de 1997.
Mas o governo tem uma série de outras empresas, como a Casa Moeda, que se quiser vender, agora vai precisar do aval legislativo para isso, o que antes não era preciso. O ministro Luís Roberto Barroso afirmou, em seu voto, que os ministros têm um "fetiche" de colocar o aparelho estatal como "protagonista de tudo”. Barroso votou contra a necessidade de aval para a privatização de estatais e subsidiárias. Foi o único. E Marco Aurélio não entrou no mérito.
No fim de 2018, o governo tinha 46 empresas estatais de controle direto. A expectativa é que o governo acelere a privatização de parte dessas estatais a partir do próximo ano. Mas, agora, vai precisar aprovar no Congresso uma lei específica para cada uma dessas 46 estatais, se quiser vendê-las.
O deputado Paulo Martins (PSC-PR) avaliou por meio de suas redes sociais a decisão como negativa. "Agora somos ainda mais socialistas. Só falta o Gulag."
Até a publicação desta matéria, o ministério da Economia não tinha se pronunciado sobre a decisão.
2. Não necessidade de aval do Congresso para privatizar subsidiária
No caso das subsidiárias e controladas, ou seja, das empresas públicas vinculadas a uma estatal-mãe, os ministros decidiram por maioria pela não necessidade de aval legislativo. Eles entenderam que, como não é preciso lei específica para criação de subsidiária, não é preciso também para vendê-las. Basta que a lei que autorizou a criação da empresa matriz preveja a venda dessas subsidiárias.
Essa decisão é uma vitória para o governo e, principalmente, para a Petrobras. A companhia toca desde 2016 um plano de desinvestimentos, que inclui a venda de grande parte das suas subsidiárias. Esse plano será intensificado agora, na gestão de Roberto Castello Branco. A Caixa também vai entrar com um plano para vender suas subsidiárias neste e no próximo ano.
No fim de 2018, o governo federal tinha 88 subsidiárias. A maioria ligada a Petrobras (35), seguida de Eletrobras (30), Banco do Brasil (16), BNDES (3), Caixa (3) e Correios (1). Essas estatais-mães vão poder continuar vendendo suas subsidiárias sem pedir aval Legislativo.
3. Licitação para empresa-mãe, dispensa para subsidiária
Sobre a necessidade de processo licitatório para venda de estatal, os ministros do Supremo entenderam por maioria que ele é necessário para estatal-mãe. No caso das subsidiárias, não é preciso: basta processo que garanta concorrência, autorizado via Tribunal de Contas da União (TCU).
Essa decisão beneficia a Petrobras, que vinha vendendo suas subsidiárias via processo competitivo. Caso os ministros decidissem de outra forma, a estatal teria de refazer uma venda recente, a da TAG, sua transportadora de gás, vendida através de processo competitivo para o grupo francês Engie e para o fundo canadense CDPQ no início de abril, por US$ 8,5 bilhões.
Em sustentação oral, o advogado-geral da União, André Mendonça, lembrou que os contratos fraudulentos entre a Petrobras e construtoras, descobertos pela Operação Lava Jato, foram feitos via licitação. Ele também ressaltou que o processo competitivo, modelo adotado pela estatal a partir deste ano, garante competição maior que a licitação.
Governo acompanhou caso de perto
O julgamento sobre as privatizações de estatais e subsidiárias foi o primeiro teste de fogo para a equipe econômica no STF. Logo que saiu a decisão do ministro Edson Fachin suspendendo a venda de uma subsidiária da Petrobras feita sem licitação, acompanhando as liminares de Lewandowski do ano passado, a equipe entrou em ação.
O ministro da Economia se reuniu, separadamente, com as ministras Carmen Lúcia e Rosa Weber e com os ministros Luís Roberto Barroso e Fachin, os quatro do Supremo. As reuniões aconteceram entre a última semana de maio e a primeira de junho. A mesma via sacra ao STF foi feita também pelo ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, pelo Advogado-Geral da União (AGU), André Mendonça, e por advogados da Petrobras.
Guedes disse a jornalistas na última quinta-feira (30), quando começou o julgamento do caso no Supremo, que se arrependia de não ter procurado os ministros antes e de ter ido à Corte somente quando se precisou “apagar o fogo”.
O presidente da Petrobras, companhia mais afetada pelo julgamento, acompanhou as três sessões que julgaram o caso – quinta-feira passada, nesta quarta e nesta quinta – do Plenário do STF, juntamente com Salim Mattar, secretário de Desestatizações do ministério da Economia, quem toca o plano de privatizações do governo.
Triângulo Mineiro investe na prospecção de talentos para impulsionar polo de inovação
Investimentos no Vale do Lítio estimulam economia da região mais pobre de Minas Gerais
Conheça o município paranaense que impulsiona a produção de mel no Brasil
Decisões de Toffoli sobre Odebrecht duram meses sem previsão de julgamento no STF