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O subprocurador-geral da República Carlos Frederico Santos afirmou que a delação premiada feita pelo tenente-coronel Mauro Cid é “fraca” e não traz provas concretas contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Cid atuou como ajudante de ordens do ex-mandatário e fechou um acordo de delação com a Polícia Federal. O militar teria feito relatos sobre investigações que envolvem suspeitas contra Bolsonaro, como os casos das joias sauditas e da inserção de dados falsos de vacinação contra a Covid-19 no sistema do Ministério da Saúde.
“A delação eu não achei forte. Em nada. A princípio eu achei que as informações foram fracas. [O que ele revelou] tem que ser corroborado. Nessa corroboração é que a gente vai saber a dimensão da delação. O que foi falado não tinha essas coisas todas. Tem anexo sobre golpe, tem anexo sobre joias, tem anexo sobre vacina, tem anexo sobre gabinete do ódio, milícias digitais”, disse o subprocurador em entrevista à revista Veja divulgada no último dia 4.
Santos é o responsável pelo inquérito que apura a suposta participação de autoridades nos atos do dia 8 de janeiro. Ele analisa a delação do militar nesta apuração. O subprocurador solicitou uma série de diligências para tentar confirmar a veracidade das declarações de Cid. “Não é uma delação que seja direcionada a determinado tema. A partir do momento que isso ocorre, as investigações se tornam frágeis, porque expande muito. Eu não quero falar se ela é válida ou não é, o que eu quero é aprofundar o que disseram”, afirmou.
Santos apontou que Cid relatou sua versão do ocorrido na delação, mas para o subprocurador contar uma história não significa prová-la. "Se [os três comandantes das Forças Armadas] tivessem concordado [com um golpe], ninguém estaria aqui conversando sobre isso. Tem os atos preparatórios. Ato preparatório não é crime”, ressaltou. O subprocurador disse que já teria apresentado uma denúncia contra Bolsonaro, se os elementos no anexo sobre os atos de 8 de janeiro da delação de Cid fossem fortes.
“Eu pedi algumas diligências para ver se corrobora, para ver se aprofunda a investigação, para dizer, ‘olha, isso aqui pode ser verdade’. Várias especificamente com relação à coisa vinculada ao dia 8. Aí pode estar exatamente a questão do golpe. Eu não posso chegar e dizer que isso aqui é lixo porque, de uma forma ou de outra, como as investigações estão correndo, podem surgir elementos que comprovem alguma coisa. Mas dizer que aquilo ali são elementos fortes, que podem virar a República, [se fossem] eu já teria oferecido a denúncia”, disse.
Mauro Cid ficou preso entre maio e setembro, após ser alvo da operação da PF sobre a inserção de dados falsos em cartões de vacinação. A soltura ocorreu mediante uso de tornozeleira eletrônica e outras medidas restritivas. O militar manifestou a intenção de colaborar com as investigações do chamado inquérito das milícias digitais e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes homologou o acordo de delação premiada quando Cid foi solto.
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