Procurador afirmou que invasões não devem ser discutidas criminalmente e diz que há ligação entre Invasão Zero e atos de 8/1/23.| Foto: MST-BA
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O procurador Julio José de Araujo Junior, coordenador do grupo de trabalho sobre Reforma Agrária e Conflitos Fundiários no Ministério Público Federal (MPF), minimizou a série de invasões que o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) fez nesta semana em meio ao chamado “Abril Vermelho”, ação em que intensifica as ocupações de terra no país.

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Araujo Junior, que já defendeu uma investigação contra o Banco do Brasil por suposta participação no tráfico de escravos no século 19 e intervenção na segurança pública do Rio de Janeiro, ainda atacou o movimento Invasão Zero que une produtores rurais na tentativa de conter as invasões do MST.

Já são 24 propriedades invadidas em 11 estados do país desde o último final de semana mesmo após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ter anunciado um projeto de reforma agrária que vai destinar R$ 520 milhões apenas neste ano para contemplar 73 mil famílias.

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Para o procurador, é preciso diferenciar o que seriam “ocupações” para a permanência dos agricultores nas terras e aquelas somente para chamar a atenção do poder público para a necessidade de políticas de reforma agrária. Ele defendeu a legitimidade das invasões mesmo em áreas produtivas.

“Eu creio que isso não merece ser discutido do ponto de vista criminal em hipótese alguma. O que não significa que uma propriedade produtiva deve necessariamente ser desapropriada. Isso está até desautorizado pela Constituição. A gente entende que a tentativa de criminalização generalizada desses grupos [de luta pela terra] é muito contraproducente, não ajuda num debate legítimo sobre o direito à terra no Brasil”, disse em entrevista à Folha de São Paulo publicada nesta quarta (17).

O procurador do MPF ainda assina uma nota técnica que sugere a ligação do movimento Invasão Zero com os atos de 8 de janeiro de 2023, que levaram à invasão e depredação das sedes dos Três Poderes, em Brasília. O documento diz que há uma ligação com grupos supostamente envolvidos nos “atos antidemocráticos”.

“O Invasão Zero se constituiu a partir de organizações preexistentes, muitas delas envolvidas com os atos antidemocráticos de 8 de janeiro e com modus operandi muito semelhante: um braço político, com o lançamento de diversas frentes parlamentares, inclusive no âmbito federal; um braço financeiro-econômico, em regra, proprietários rurais e até mesmo servidores públicos, como é o caso dos fundadores do movimento no Sul da Bahia; e um braço armado, composto por agentes de segurança pública, ex-agentes e/ou seguranças privados (legalmente armados ou não)”, diz trecho da nota obtida pela Gazeta do Povo e assinada também pelo subprocurador-geral Carlos Alberto Vilhena e pelo procurador Matheus de Andrade Bueno (veja na íntegra).

O MPF vai além e afirma, ainda, que “o grupo Invasão Zero pode estar abrigando verdadeiras “milícias rurais” sob o manto de aparente legalidade”, e que, a depender das “particularidades concretas, certas atuações de integrantes poderão ensejar responsabilização penal”.

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Luiz Uaquim, coordenador do grupo, rechaçou a afirmação e disse que a atuação do movimento é pautada pela democracia e legalidade, e que o objetivo é promover a defesa da propriedade rural de maneira pacífica junto das forças de segurança dos estados e sem recorrer à violência.

“Não temos qualquer ligação com atos antidemocráticos. Ao contrário, nos empenhamos em promover a conscientização e mobilização dentro dos parâmetros estabelecidos pela Constituição Federal”, disse também ao jornal.

No começo deste mês, o movimento lançou a campanha “Abril Amarelo” para defender o direito de propriedade e alertar o propósito das invasões. São orientações que visam a comunicação com autoridades policiais e a montagem de acampamentos de produtores para evitar as invasões.

Apesar de pregar uma contenção pacífica das invasões, o Invasão Zero é profundamente criticado pelo procurador do MPF. Ele diz que o movimento é uma organização de grupos “para a prática de crimes”, e que “atuam à margem do Estado, muitas vezes com o envolvimento de policiais”.

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