O ministro da Economia, Paulo Guedes, decidiu apoiar o projeto do deputado Mauro Benevides Filho (PDT-CE) que desvincula parte dos fundos públicos infraconstitucionais e libera o saldo financeiro para o governo usar no enfrentamento da pandemia e de seus efeitos sociais e econômicos. A proposta prevê a desvinculação dos recursos de 29 fundos e a liberação de até R$ 178 bilhões.
O regime de urgência para tramitação do projeto foi aprovado pelo plenário da Câmara nesta terça (9). Com isso, o texto está pronto para votação remota, sem precisar passar pelas comissões. A data de votação ainda depende de acordo de líderes.
A proposta prevê a desvinculação de 29 fundos públicos infraconstitucionais (veja lista ao fim da matéria). Por lei, quando um fundo é criado, todo o dinheiro arrecadado para ele só pode ser destinado a uma finalidade específica, definida no momento da criação do fundo. Só que boa parte do dinheiro dos fundos nunca é usada e os recursos ficam parados na conta única do Tesouro.
Para poder usar o dinheiro parado dos fundos, é preciso aprovar um projeto de lei desvinculando os recursos e dando outra destinação. É o que quer fazer o deputado Mauro Filho, com o apoio do governo.
O projeto de Benevides desvincula 29 fundos que tinham, até 31 de dezembro de 2019, um saldo de R$ 177,7 bilhões. O dinheiro, segundo a proposta, deverá ser usado para financiar despesas relacionadas à Covid-19 ou cobrir a perda de arrecadação.
O texto permite o uso dos recursos para pagar as despesas do auxílio emergencial, gastos com saúde e de assistência social, compensações financeiras aos governos regionais, manutenção do emprego e renda, bem como para cobrir frustrações de receitas do Orçamento Fiscal e da Seguridade Social da União.
Desvinculação é forma mais barata de pagar gastos extras
O deputado Mauro Filho explicou à Gazeta do Povo que o objetivo do projeto é deixar o governo usar um dinheiro que já existe, ao invés de buscar fontes de financiamentos mais caras. “[O dinheiro] está na conta do Tesouro, já está registrado no passivo do Banco Central. Então, numa época de pandemia, está na hora de usar esse dinheiro”, disse à reportagem.
Ele explica que, se o governo for pegar esses cerca de R$ 178 bilhões emitindo títulos da dívida pública, vai ter de pagar aos investidores a taxa Selic mais 2,84%, que é a taxa hoje de um título da dívida de longo prazo.
O deputado afirma, ainda, que a desvinculação impede o endividamento excessivo do governo para bancar as despesas relacionadas ao Covid-19. O Ministério da Economia projeta que as contas públicas federais vão fechar com um rombo de R$ 540,5 bilhões em 2020, valor que ainda deve crescer conforme medidas vão sendo anunciadas ou prorrogadas e as projeções para a economia vão despencando. A dívida bruta brasileira pode chegar a 93,5% do PIB até o fim do ano, segundo estimativas da pasta.
O apoio do governo à proposta foi fechado em uma reunião na quarta-feira passada (3) entre o ministro da Economia, Paulo Guedes, e o deputado Mauro Filho, segundo o parlamentar.
PEC dos Fundos Públicos
A equipe econômica viu no projeto uma chance de colocar em pé parte do que propõe a proposta de emenda à Constituição (PEC) dos Fundos Públicos. A PEC foi encaminhada ao Congresso em novembro do ano passado, mas teve a sua tramitação interrompida em virtude da pandemia.
A PEC do governo propõe a extinção de mais de 200 fundos infraconstitucionais caso eles não sejam ratificados pelo Congresso até o fim do segundo ano seguinte à aprovação da emenda. O saldo remanescente seria usado para a gestão da dívida pública. A proposta também define que somente projeto de lei complementar pode criar um novo fundo.
Segundo Benevides, o governo não desistiu de aprovar a PEC dos Fundos, mas optou por apoiar neste momento um projeto mais simples que libera dinheiro de forma rápida ao governo. Ao contrário da PEC do governo, o projeto de Benevides apenas desvincula, não extingue os fundos. E a lista de fundos abarcados é bem menor que a da PEC. Muitos deles estão sem uso há anos.
A aprovação da PEC dos Fundos deve continuar entre as prioridades da equipe econômica após o fim da pandemia.
Lista
Veja os fundos que podem ter seus recursos desvinculados caso seja aprovado o projeto do deputado Mauro Benevides, com co-autoria do deputado André Figueiredo (PDT-CE), líder da Oposição na Câmara:
- Fundo Nacional de Aviação Civil;
- Fundo Nacional de Segurança e Educação no Trânsito;
- Fundo da Marinha Mercante;
- Fundo Aeronáutico;
- Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações;
- Fundo da Defesa dos Direitos Difusos;
- Fundo Naval;
- Fundo Nacional de Desestatização;
- Fundo para o Desenvolvimento Tecnológico das Telecomunicações;
- Fundo de Imprensa Nacional;
- Fundo do Exército;
- Fundo de Desenvolvimento do Ensino Profissional Marítimo;
- Fundo Rotativo da Câmara dos Deputados;
- Fundo Especial do Senado Federal;
- Fundo do Serviço Militar;
- Fundo do Ministério da Defesa;
- Fundo Social, exceto quanto aos recursos de que trata o inciso III do art. 2º da Lei nº 12.858, de 9 de setembro de 2013;
- Fundo de Defesa da Economia Cafeeira;
- Fundo Soberano do Brasil;
- Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social;
- Fundo Especial de Desenvolvimento e Aperfeiçoamento das Atividades de Fiscalização – FUNDAF;
- Fundo Nacional de Desenvolvimento;
- Fundo da Estabilidade do Seguro Rural – FESR;
- Fundo de Garantia para a Promoção da Competitividade – FGPC;
- Fundo Nacional Antidrogas – FUNAD;
- Fundo de Estabilização Fiscal;
- Fundo Nacional do Idoso – FNI;
- Fundo Partidário;
- Fundo de Garantia à Exportação.
Bolsonaro e mais 36 indiciados por suposto golpe de Estado: quais são os próximos passos do caso
Bolsonaro e aliados criticam indiciamento pela PF; esquerda pede punição por “ataques à democracia”
A gestão pública, um pouco menos engessada
Projeto petista para criminalizar “fake news” é similar à Lei de Imprensa da ditadura
Triângulo Mineiro investe na prospecção de talentos para impulsionar polo de inovação
Investimentos no Vale do Lítio estimulam economia da região mais pobre de Minas Gerais
Conheça o município paranaense que impulsiona a produção de mel no Brasil
Decisões de Toffoli sobre Odebrecht duram meses sem previsão de julgamento no STF