A Frente Parlamentar de Segurança Pública – conhecida como bancada da bala – se mobiliza para tentar aprovar ainda neste ano um projeto que cria a Lei Orgânica da Polícia Militar (PM) e do Corpo de Bombeiros. A proposta restringe a autonomia dos governadores para escolher os comandantes das PMs e dos Bombeiros. Na semana passada, um requerimento de urgência foi aprovado. E, agora, o projeto pode ser levado diretamente para o plenário da Câmara dos Deputados.
A proposta, que já tramita na Casa há mais de 20 anos, foi apresentada em 2001, no governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB). O objetivo é substituir a Lei nº 667, de 1969, do período da ditadura militar. Apesar da argumentação de adequar a legislação à democracia, um dos pontos em discussão pelos deputados retira a autonomia dos governadores na escolha dos comandantes da PM e do Corpo de Bombeiros nos estados e no Distrito Federal.
Entre outros pontos, o texto estabelece que a escolha dos comandantes-gerais da PM e dos bombeiros seja feita pelo governador a partir de uma lista tríplice indicada pelos próprios policiais. O projeto ainda prevê que os comandantes terão mandato de dois anos. Para exonerá-los antes disso, o governador precisará justificar a decisão, apontando um motivo relevante e comprovado. Atualmente não existe mandato para o posto e a escolha do comandante é de livre escolha dos governadores.
O texto do projeto confere ainda aos comandantes das PMs e Corpos de Bombeiros “as mesmas prerrogativas de secretário de Estado”.
Defensores da matéria buscam agora um acordo para tentar aprovar o texto nesta semana, antes do encerramento do ano legislativo, no próximo dia 22. Opositores, no entanto, acreditam que não haverá tempo hábil para votar, e que qualquer acordo só será fechado no ano que vem.
Relator quer costurar acordo com os partidos de oposição
Relator do projeto e líder da bancada da bala na Câmara, o deputado Capitão Augusto (PL-SP), afirmou que pretende buscar um acordo com todos os partidos, principalmente com os de oposição para tentar aprovar a matéria. "Eu estou assumindo o compromisso de conversar com todos os líderes do PT, do PCdoB, do Psol, do PDT, em especial dos partidos da esquerda, para dialogar e trazer este texto com consenso", afirma Augusto.
De acordo com o parlamentar, o projeto já vinha sendo discutido com as corporações. "Este texto já foi debatido internamente na Polícia Militar e nos Corpos de Bombeiros Militares. A Polícia Civil também está acompanhando este texto. Trata-se de algo que nós precisamos aprovar para melhorar nossa instituição", diz Capitão Augusto, que é policial militar.
Crítico da proposta, o líder do PT na Câmara, deputado Bohn Gass (RS), critica a manobra da bancada da bala em aprovar um requerimento de urgência antes que o relatório da proposta fosse protocolado pelo relator. "Os autores sugeriram que o texto é complexo porque trata das diferentes Polícias Militares, da Polícia Federal, de todas as polícias e, ainda, do Corpo de Bombeiros. Isso é complexo. Em segundo lugar, os autores disseram que o projeto não está pronto. Se um projeto não está pronto, ele tem que passar por um debate numa comissão especial", argumenta o petista.
Já o deputado Eduardo Cury (SP), vice-líder do PSDB na Câmara, defende que o tema seja reavaliado, tendo em vista o tempo em que está parado na Casa. Além disso, o tucano acredita que a votação não pode ocorrer de forma acelerada.
"Este é um projeto de 2001, do ex-presidente Fernando Henrique. Durante 20 anos o sistema de segurança pública no Brasil se modificou bastante. É meritório a bancada da segurança pública estar lutando por ele, porque eles têm demandas específicas. O que não pode acontecer é nós tomarmos uma decisão tão importante como esta meio que na correria. Quero dizer que uma lei muito antiga como esta teria que ser adaptada e reanalisada", diz Cury.
Como governadores reagem ao projeto que reduz poder sobre PMs
Apesar da mobilização da bancada da bala, governadores já começam a reagir de forma contrária ao texto. Para presidente do Fórum de Governadores do Brasil, o governador do Piauí, Wellington Dias, do PT, o texto fere a Constituição e tira poder de comando dos governadores.
"Fiz um apelo ao presidente [da Câmara] Arthur Lira para que possa dialogar com o Fórum de Governadores do Brasil, para que a gente possa tomar uma decisão, uma decisão que não venha a ser questionada”, afirma o petista.
Além disso, outros governadores como os do Ceará, Camilo Santana (PT), e de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), já sinalizaram que pretendem buscar os líderes do Congresso para mobilizar os parlamentares contrários ao texto.
Diante do impasse, o relator não descarta a possibilidade de retirar do texto o trecho que trata da criação da lista tríplice para escolha dos comandantes. Isso, contudo, dependerá de acordo com as demais bancadas.
Outras mudanças para PM e Bombeiros em discussão pelos deputados
Além da criação da lista tríplice para escolha dos comandantes, o projeto de lei em discussão afrouxa a regra para o ingresso na PM, pois passa a permitir que um indiciado em inquérito policial ou réu em processo judicial ou administrativo possa ingressar na corporação. De acordo com os defensores, a justificativa é o princípio constitucional de presunção de inocência.
O projeto também libera o retorno à corporação de um policial militar ou bombeiro após o fim de um mandato político. Hoje, o retorno só é permitido para quem tem mais de 10 anos na carreira policial e, mesmo assim, a volta é direto para a reserva.
O texto prevê ainda a criação de novas patentes para oficiais a partir da incorporação do termo “general”, a exemplo do que acontece nas Forças Armadas. Atualmente, na PM e no Corpo de Bombeiros, a patente mais alta no oficialato é a de coronel. Com a mudança, criam-se três novas patentes: brigadeiro-general, major-general e tenente-general.
"[A Câmara] tem a oportunidade de continuar contribuindo para a segurança pública e para a garantia das vidas dos brasileiros. Trata-se de policiais militares e bombeiros militares, que precisam desta lei orgânica. Nós avançamos muito nesta matéria, que é urgente para nossa segurança pública e para o desenvolvimento do nosso Brasil", defende o deputado Jorielson (AP), vice-líder do PL.
Defesa de Bolsonaro pede anulação da delação de Mauro Cid e julgamento no plenário
Mauro Cid reforça que não foi coagido em delação e pede absolvição ao STF
Em busca da popularidade perdida, governo anuncia alíquota zero de importação para baratear alimentos
Resultado da Petrobras justifica preocupação
Triângulo Mineiro investe na prospecção de talentos para impulsionar polo de inovação
Investimentos no Vale do Lítio estimulam economia da região mais pobre de Minas Gerais
Conheça o município paranaense que impulsiona a produção de mel no Brasil
Decisões de Toffoli sobre Odebrecht duram meses sem previsão de julgamento no STF